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Sem a fé cristã é difícil militar por valores cristãos

Assim como tudo que Bento XVI fazia ou dizia era distorcido para que cheirasse a intolerância e reacionarismo, agora, tudo que o Santo Padre Francisco fala é distorcido para que pareça revolucionário, "modernoso", liberal. A situação é difícil e muito complexa, por várias razões. O texto do "Frei Clemente Rojão", que reproduzimos abaixo, ajuda a lançar luz sobre esta questão...


Como na brincadeira do telefone sem fio, muitos estão retransmitindo
o que o Papa diz ao seu próprio modo...

O Papa Francisco é adulto, mais velho e mais sábio que eu. Portanto não ouso ser seu porta-voz. Porém, apesar de com modos errados, há um certo senso no que ele falou. O duro é que enquanto é necessário uma única frase para lançar um erro influente na mídia, é necessário dez páginas de texto denso que ninguém lerá para negá-lo. Um tolo lança uma pedra no buraco, mil sábios não conseguem retirá-la. Apesar de ser uma bela mulher, nua e majestosa, a Verdade não consegue correr tanto quanto a horrorosa Mentira, que tem asas nos pés.

A cruzada laicista para eliminar todo e qualquer valor cristão da sociedade está ganhando de lavada porque a sociedade já anda pós-cristã. É fato.

Vou dar um exemplo mais claro ainda: como se prova que Deus existe? Pode-se usar os argumentos filosóficos, inclusive os de São Tomás e Santo Anselmo, ou a aposta de Pascal. Porém eles são densos e não-definitivos, é fácil com retórica hábil os obscurecer, inclusive porque estes "argumentos" não tem esta pretensão. A aposta de Pascal, por exemplo, não prova nem "desprova" a existência de Deus, é apenas um hábil argumento para uma vida virtuosa. Como o Aquinate tão bem colocou, o caminho racional da filosofia para chegar a Deus é tão complexo e tão sujeito à erros que se Deus o propusesse como o único caminho ele não seria trilhado por grande parte dos homens, o que é injusto. Pascal, o matemático, também sabia que o único argumento racional no sentido estrito eram os milagres de Jesus para os que eram contemporâneos a ele. A fé, sendo um dom de Deus, é uma potente mão que ergue o homem comum acima das querelas sofísticas e filosóficas. E a fé é universal, vai desde o doutor ao analfabeto.

Ou seja, quem quiser demonstrar a Existência de Deus sem a fé será como quem quer chegar à Lua: tecnicamente é possível, mas é necessário um grau de excelência em recursos de engenharia vedados à grande maioria dos homens. Graças a Deus há a fé, então a maioria crê, sendo a racionalidade apenas um reforço da fé sobrenatural.

Vamos a um assunto mais prosaico nesta guerra de valores, o casamento gay, esta coisa tão cafona que faria Oscar Wilde e Marcel Proust borrarem as calças de tanto rirem do fetiche. Se pensarmos no casamento no sentido estritamente laico do código civil, um contrato, não há objeções nenhuma ao casamento gay. Qualquer outra argumentação será feita em pedacinhos pelos filósofos e intelectuais do regime.

A questão é que o casamento civil não é casamento. O casamento civil está para o casamento religioso assim como a sombra projetada de u'a mão formando uma sombra em forma de cachorro está para um cachorro. O casamento religioso é um Sacramento. O casamento civil é um contrato de vontades. O religioso é sobrenatural, é indissolúvel, é místico, é acima de nossa vã filosofia. O civil é uma porcaria mesmo, que só serve para dar emprego a inúteis juízes de paz e advogados especializados de divórcio para a guerra. O casamento civil é tão contrato quanto uma compra e venda de imóveis, quanto um consórcio, quanto um aluguel, quando um financiamento e ai das famílias que se baseiam no Código Civil e não no Decálogo. Tanto que adultério é pecado mortal pelo Decálogo, e nem mais crime pelo Código Penal. Por que não romper um contrato?

Sendo assim, uma sociedade estritamente laica, que não entenda o valor de um Sacramento por consequencia não entende o casamento. (Digo laica, porque casamento religioso háem outras religiões). Assim como não há eucaristia para os que não crêem, apenas pão e vinho. Assim como não há sucessão apostólica nem vocação para os que não crêem, apenas masoquistas bispos e padres que se auto-mutilam num voto de castidade anacrônico. E assim vai com todos os Sacramentos. Sem fé cristã, sem Sacramentos. E o casamento é um Sacramento, não? Sem fé cristã, sem santidade do casamento. Se o Código Civil permitir o casamento com uma abóbora ou com uma cabra não há nenhum argumento inválido aí (citei a cabra de propósito para lembrar o linchamento moral da gaystapo ao articulista J. R. Guizzo por ter citado o exemplo de uma cabra). E antes tivesse sido o Código Civil alterado! Como vocês sabem, o Conselho Nacional de Justiça, exorbitando de suas funções, obrigou a fórceps os cartorários a reconhecerem o casamento gay. O CNJ não tem este poder, não é Parlamento para passar leis. Pelo menos se a coisa se mudasse no Congresso ainda haveria um mínimo debate de representantes do povo. Mas não,lobbys no STF e no CNJ enfiam goela abaixo da sociedade estas mudanças. E pior, causando uma lei esquizofrênica, que no papel fala no casamento entre homem e mulher mas na prática permite homem e homem, mulher e mulher, sem estar escrito! Algo bem brasileiro, digno da sub-mediocridade de nossos tribunais superiores e seus processes eternos.

Não sei se o leitor conhece a filosofia do utilitarismo, a que a moralidade de uma ação é determinada pelo bem e prazer que advém dele. Elementos de utilitarismo permeiam a ditadura laica como as espinhas permeiam a carne de peixe. Pelo utilitarismo não é imoral, muito pelo contrário, que um embrião seja condenado para pesquisas tomando suas células-tronco. Afinal, as pesquisas com células-tronco beneficiariam muito mais gente que um embrião que "nem se desenvolveria", né? Pois bem, utilitaristas, quantos aleijados foram curados com células-tronco embrionárias? Eu digo sem medo de errar, nenhum. Em contrapartida, células-tronco embrionárias já foram usadas para desenvolver adoçantes e cosméticos. Pois é. Nosso utilitarista ainda diria que virar refrigerante zero e creme anti-rugas ainda é mais útil que ser um aborto, não? Ok, meu amigo utilitarista, o utilitarismo é uma faca de muitos gumes. O utilitarismo levou ao Gulagsoviético e seu irmão menos eficiente, o campo de extermínio nazista. Afinal, se era para prender os elementos indesejáveis do regime, porque não usá-los de maneira útil para fazer o Canal Belomor, a Transiberiana, a bomba atômica soviética?

O utilitarismo levou às confissões nos Processos de Moscou: já que vou ser morto, por que não ser útil ao Partido justificando a minha morte? Finalmente, o utilitarismo leva à solução final: se o Reich é bom, porque não exterminar os inimigos do Reich para conseguir o bem maior, que é ter uma terra "judenfrei"? Decida o que é seu bem maior e mate filosoficamente. Que bem maior que é a juventude, não? Muito melhor que morra o velho Sócrates que corrompa a juventude! Não foi Caifás quem disse que era melhor que Jesus morresse do que morresse o povo?

É muito fácil um tribunal decidir em cima do utilitarismo, como o nosso STF tem feito reiteradamente. Ah, sim, a angústia da mãe de um anencéfalo vale mais que a vida do anencéfalo. Diga-me que estou errado, neoPilatos Celso de Mello! Ou como o suposto cientista e suposto filósofo Singer, que estabelece toda uma lógica utilitarista em cima de dor, jogando embriões e baratas no mesmo balde, porque não sentem dor. Proponho fornecermos analgésicos pesados ao Sr. Singer e fazermos experiências com ele. Por que seria errado, leitor utilitarista singeriano? Ele não vai sentir dor!

São os valores cristãos que dizem, NÃO! Não e não e não! A vida humana é sagrada, sagrada ao ponto de Deus se fazer carne e morrer para salvar os homens. São os valores cristãos que dizem que não se deve matar nem o embrião de uma célula nem o Sr. Singer sob morfina.

Portanto, se a sociedade se descristianizou, se as pessoas perderam a fé, é uma batalha grandemente perdida lutar por nossos valores. A velha Roma só largou a idolatria, o divórcio, o aborto, a sodomia quando as pessoas se tornaram cristãs. Nossa fé baseia valores.

Esta é uma leitura do que o Papa disse. Dom Henrique Soares da Costa, em uma publicação no Facebook, disse algo semelhante: "O que o Santo Padre quis afirmar foi que a doutrina da Igreja sobre o aborto, o matrimônio e a sexualidade deve ser colocada no contexto do anúncio do Cristo como salvação enviada pelo Pai! Imagine uma Igreja que só fizesse falar sobre temas morais, sem anunciar Jesus... ". 

A grande questão é que o povo brasileiro ainda é cristão. Portanto, se for colocado dentro das instâncias democráticas, estes programas perdem. É por isso que o ativismo anticristão se reveste com decisões cartoriais. Fossem colocar o casamento gay ou o aborto num plebiscito, ou mesmo sob o voto da Câmara, seria perdido. É por isso que precisaram das decisões fechadas e iluminadas dos esbirros do STF e do CNJ, onde muito menos gente pode empurrar goela abaixo uma decisão que não é desejada por todos. Finalmente, vem uma geração nova que já foi jumentalizada pelas escolas, e que vê essas coisas como natural. E assim se muda a sociedade.

A evangelização é a areia que vai emperrar esta engrenagem bem azeitada do Anticristo. Inculcaremos valores mais profundos e transcendentes que o lixo marxista que a criança e o jovem vê nas escolas. O diabo é que o Anticristo é esperto, e colocou a Teologia da Libertação na Igreja justamente para que nós mesmos duvidássemos dos valores cristãos, para que a Igreja se envergonhasse de seus valores e de sua responsabilidade de dizer NÃO ao Mundo. Sim, eu disse Anticristo. Porque quem milita contra os valores do Cristo é o Anti-Cristo. São João no Apocalipse descreve o Anticristo como um monstro tendo sete cabeças e dez chifres. Já vimos pelo menos umas três cabeças aí. E todo este concerto organizado por descristianizar a sociedade é a obra por excelência do Anticristo. Até chegar ao limite que ninguém poderia comprar ou vender sem ter a marca da besta. E a marca da besta, meus caros, se faz nos valores do homem.


Do blog Frei Clemente Rojão

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