O parto normal no tempo da pedra
Nas últimas décadas, houve avanços incríveis em diversas áreas, mas justamente nas práticas obstétricas, no ponto onde a vida extrauterina começa, simplesmente regredimos. Se refletirmos sobre o atual modelo de atendimento obstétrico considerando o respeito ao protagonismo e à liberdade da mulher, além do respeito ao nascituro, concluiremos que estamos no período Paleolítico, no mínimo.
Dizem que no tempo da pedra um homem se apossava de uma fêmea desferindo-lhe um forte golpe de tacape na cabeça. Se a criatura não morresse, tava dominada. Balanço da operação acasalamento: sucesso! Felizmente, contamos hoje com a lei Maria da Penha para enquadrar qualquer maroto que ouse resgatar esse bárbaro costume ancestral.
Por outro lado, na hora de dar à luz, nós mulheres emancipadas e pós-modernas entregamos o nosso corpo às cegas à equipe médica, e aceitamos todo o tipo de intervenção cirúrgica e medicamentosa sem contestação. Drogadas e cortadas, ainda nos sentimos gratas ao dotô e à equipe que “fez” o parto. Afinal, sobrevivemos (ufa!) e nosso rebento está vivinho da Silva!
Balanço da operação parto (a)normal: foi uma tortura, mas ninguém morreu. Sucesso!
Estou exagerando? Pois me digam se isso não é violência obstétrica:
· amarrar as pernas da mulher que está em trabalho de parto em perneiras, obrigando-a a ficar imóvel numa posição que potencializa a sua dor (tipo “frango assado”);
· fazer uso rotineiro de substâncias químicas para acelerar o trabalho de parto (porque a pressa?), que aumentam exponencialmente a sensação de dor;
· ignorar a necessidade de privacidade para a gestante (na maioria das maternidades, é um entra e sai de gente nas salas de parto);
· subir em cima da barriga da mulher ou fazer força com o braço para empurrar o bebê (manobra de Kristeller), a despeito das pesquisas que apontam esta prática como danosa e obsoleta;
· cortar rotineiramente o períneo da mulher, dando as costas para as indicações da OMS e para todas as pesquisas que indicam o quanto isso pode ser danoso para a musculatura da vagina;
· submeter o bebê que mal acaba de sair do ventre aconchegante de sua mãe a procedimentos dolorosos e, no mais das vezes, absolutamente desnecessários (aspiração das vias respiratórias, injeção de vitamina K, colírio de nitrato de prata etc.).
E para esse tipo de violência, não há lei que nos valha. Esses são procedimentos amplamente praticados e creditados como necessários, benéficos e eficazes (obviamente, desconsiderando todas as evidências científicas).
Nesse cenário, não é à toa que boa parte das mulheres acaba optando sem pestanejar pela cesariana, uma cirurgia de médio porte que traz uma série de riscos para a saúde do bebê (em especial, riscos relacionados a doenças respiratórias).
Meu Deus, cadê o cabeludo do tacape? Saudades dele...
Entre a cruz e a caldeirinha: parto (a)normal sofrido ou cesariana?
Uma vez alguém me disse que sexo não era muito bom. Depois, entendi que essa pessoa é que era mal comi... ops, mal informada. Da mesma forma, tem muita mulher falando horrores do parto normal, e citando sua experiência negativa como se fosse regra geral, como se o parto fosse sempre ruim para todas. Definitivamente, são pessoas desinformadas ou mal paridas – vítimas de partos assistidos sem nenhum critério de humanização.
Lamentavelmente, não são poucas as mulheres submetidas a verdadeiras torturas em partos vaginais. Qual a solução para escapar disso? Uma multidão sedenta de paz busca a salvação na cesariana. Tenho que advertir que essas pobres almas entraram no templo errado. Há muitas experiências ruins de partos vaginais, mas acredite, não é para ser assim.
Cresci ouvindo histórias desalentadoras de partos (a)normais, inclusive do meu próprio nascimento. Ainda na adolescência, imaginava como poderia um dia formar uma família sem ter que passar por tamanho sofrimento. E a cesariana também não me parecia uma alternativa razoável. Anos depois, já casada, descobri a existência de uma terceira via. Nem parto normal sofrido, nem cesariana eletiva: eu poderia ter um parto humanizado.
Grávida da minha primeira filha, assisti a um vídeo de parto humanizado “explícito” pela primeira vez. Ver a cabeça do bebê coroando e depois o corpinho saindo da vagina foi um choque. Eu queria muito ter parto normal, mas naquela hora eu questionei a viabilidade do evento. Pensei: “Putz, minha perereca não vai dilatar assim nuncaaaa!”.
Depois, na web e ao vivo, nunca mais parei de conhecer boas parideiras (onde elas estavam escondidas?), com seus relatos de partos invejáveis: uns mais fáceis, outros mais difíceis, mas todos encantadores. Entendi que, no Brasil, não é fácil ter um parto cheio de beleza e prazer – mesmo a despeito da dor. Porém, podemos percorrer 90% do caminho com vontade, muita informação e, acima de tudo, fé no corpo maravilhoso que Deus nos deu.
Balanço da operação parto (a)normal: foi uma tortura, mas ninguém morreu. Sucesso!
Estou exagerando? Pois me digam se isso não é violência obstétrica:
· amarrar as pernas da mulher que está em trabalho de parto em perneiras, obrigando-a a ficar imóvel numa posição que potencializa a sua dor (tipo “frango assado”);
· fazer uso rotineiro de substâncias químicas para acelerar o trabalho de parto (porque a pressa?), que aumentam exponencialmente a sensação de dor;
· ignorar a necessidade de privacidade para a gestante (na maioria das maternidades, é um entra e sai de gente nas salas de parto);
· subir em cima da barriga da mulher ou fazer força com o braço para empurrar o bebê (manobra de Kristeller), a despeito das pesquisas que apontam esta prática como danosa e obsoleta;
· cortar rotineiramente o períneo da mulher, dando as costas para as indicações da OMS e para todas as pesquisas que indicam o quanto isso pode ser danoso para a musculatura da vagina;
· submeter o bebê que mal acaba de sair do ventre aconchegante de sua mãe a procedimentos dolorosos e, no mais das vezes, absolutamente desnecessários (aspiração das vias respiratórias, injeção de vitamina K, colírio de nitrato de prata etc.).
E para esse tipo de violência, não há lei que nos valha. Esses são procedimentos amplamente praticados e creditados como necessários, benéficos e eficazes (obviamente, desconsiderando todas as evidências científicas).
Nesse cenário, não é à toa que boa parte das mulheres acaba optando sem pestanejar pela cesariana, uma cirurgia de médio porte que traz uma série de riscos para a saúde do bebê (em especial, riscos relacionados a doenças respiratórias).
Meu Deus, cadê o cabeludo do tacape? Saudades dele...
Entre a cruz e a caldeirinha: parto (a)normal sofrido ou cesariana?
Uma vez alguém me disse que sexo não era muito bom. Depois, entendi que essa pessoa é que era mal comi... ops, mal informada. Da mesma forma, tem muita mulher falando horrores do parto normal, e citando sua experiência negativa como se fosse regra geral, como se o parto fosse sempre ruim para todas. Definitivamente, são pessoas desinformadas ou mal paridas – vítimas de partos assistidos sem nenhum critério de humanização.
Lamentavelmente, não são poucas as mulheres submetidas a verdadeiras torturas em partos vaginais. Qual a solução para escapar disso? Uma multidão sedenta de paz busca a salvação na cesariana. Tenho que advertir que essas pobres almas entraram no templo errado. Há muitas experiências ruins de partos vaginais, mas acredite, não é para ser assim.
Cresci ouvindo histórias desalentadoras de partos (a)normais, inclusive do meu próprio nascimento. Ainda na adolescência, imaginava como poderia um dia formar uma família sem ter que passar por tamanho sofrimento. E a cesariana também não me parecia uma alternativa razoável. Anos depois, já casada, descobri a existência de uma terceira via. Nem parto normal sofrido, nem cesariana eletiva: eu poderia ter um parto humanizado.
Grávida da minha primeira filha, assisti a um vídeo de parto humanizado “explícito” pela primeira vez. Ver a cabeça do bebê coroando e depois o corpinho saindo da vagina foi um choque. Eu queria muito ter parto normal, mas naquela hora eu questionei a viabilidade do evento. Pensei: “Putz, minha perereca não vai dilatar assim nuncaaaa!”.
Depois, na web e ao vivo, nunca mais parei de conhecer boas parideiras (onde elas estavam escondidas?), com seus relatos de partos invejáveis: uns mais fáceis, outros mais difíceis, mas todos encantadores. Entendi que, no Brasil, não é fácil ter um parto cheio de beleza e prazer – mesmo a despeito da dor. Porém, podemos percorrer 90% do caminho com vontade, muita informação e, acima de tudo, fé no corpo maravilhoso que Deus nos deu.