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Gloriosa História da Igreja - IV



Pompeo Giralamo Batoni (1708-1787), "São Paulo"
Basildon Park, The National Trust, UK

Saulo (Schaoul), era natural de Tarso da Cilícia, filho da tribo de Benjamim, a mesma do Rei David. Filho de ricos comerciantes, cidadão romano, ligado à seita dos fariseus, aluno do célebre Rabino Gamaliel, zeloso defensor da Torá, a lei judaica.

No ano 35, Saulo tinha cerca de 30 anos. Era um grande inimigo da Igreja primitiva; ele chefiava um grupo até Damasco, autorizado pelos sumos sacerdotes a eliminar um grupo de cristãos que havia por lá, e levar seus chefes algemados até Jerusalém. Depois de oito dias atravessando a estrada que ligava Jerusalém a Damasco, com o coração cheio de fúria, inflamado pelo fanatismo religioso, Saulo estava cansado, mas prosseguia, guiado por seu gênio forte.

Subitamente, uma luz muito forte o envolveu e o fez cair por terra. Enquanto tentava compreender o que estava acontecendo, ouviu uma voz que dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Assustado, perguntou: “Quem és?” E a voz lhe respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”.

A história é bem conhecida. Saulo recebeu instruções diretamente do Senhor Ressuscitado, e percebeu o quanto estivera enganado até então. Saulo, o perseguidor, converteu-se no grande Apóstolo Paulo, pilar da Igreja e arauto do cristianismo. Claro que o seu caso é único, em muitos aspectos: trata-se de alguém que não chegou a conhecer Jesus pessoalmente, que não fazia parte do grupo dos doze Apóstolos de Cristo, mas que se lançou na difícil missão de evangelizar os povos pagãos. Parece ter sido o primeiro a perceber que não era necessário a ninguém passar pelos costumes e tradições do judaísmo para se tornar discípulo de Jesus. Embora o Apóstolo Pedro já tivesse aberto a porta da Igreja para os gentios, isto é, para os não judeus, Paulo merece sem dúvida o título de “Apóstolo das Gentes”.

No ano 44, Paulo estava na cidade de Antioquia, com Barnabé. Foi lá que, pela primeira vez, os discípulos de Jesus receberam o nome de “cristãos”: até então eram chamados “seguidores do Caminho”. Ao longo de um ano, Paulo e Barnabé trabalharam juntos. Na primavera do ano 45, tomaram um barco para a ilha de Chipre e depois seguiram para a Panfília, percorrendo depois a Licaônia. Paulo entrava nas sinagogas, proclamava o Evangelho ao povo, procurando demonstrar que Jesus era o Salvador, o Messias esperado desde os tempos antigos, conforme anunciado pelos Profetas e confirmado nas Escrituras. Ia também até os pagãos, às reuniões dos povos que acreditavam em muitos deuses e deusas, em necromancia e magia, anunciar-lhes a Boa-Nova de Jesus Cristo.

Podemos imaginar o quanto foi difícil para Paulo, como ele encontrou difíceis obstáculos no seu ministério, principalmente a oposição de seus irmãos judeus. Quando voltou a Antioquia, entrou em confronto com os cristãos “judaizantes”, os que queriam impor o rito da circuncisão como exigência para quem quisesse seguir Jesus. Essa controvérsia foi levada até Jerusalém, diante de Pedro, o primeiro Papa da Igreja e comandante dos Apóstolos, embora nessa época ele ainda não fosse chamado “Papa”. Encontraram-se com Tiago e João, que aprovaram o procedimento de Paulo, de não exigir mais a circuncisão para quem quisesse seguir Jesus Cristo. Chegaram à conclusão de que, para uma pessoa se salvar, o que importa não é a circuncisão, e sim a fé em Cristo, que opera pelo Amor, espiritualmente. Este foi o primeiro concílio da Igreja, chamado Concílio de Jerusalém, e ocorreu por volta do ano 49. Foi a partir daí que o cristianismo assumiu seu caminho próprio, independente do judaísmo.


Alessandro Algardi, "Decapitação de São Paulo"(1650)
San Paolo Maggiore, Bologna

No ano 49, Paulo sai de Antioquia para uma viagem de três anos. Deixa Barnabé e toma Silas como companheiro. Na cidade de Listra, Paulo e Silas encontram Timóteo e seguem atravessando a Frígia e a Galácia, alcançando a Macedônia. Em Filipos são presos. Em Tessalônica, assim como acontecera com o Cristo, eles são acusados pelos judeus de inimigos do imperador, porque diziam que Jesus era Rei.

Em Bereia, a sinagoga escutou atentamente a pregação de Paulo, comparando suas palavras com o que eles estudavam nas Escrituras (Antigo Testamento). Ao entrar em Atenas, Paulo impressionou-se com a grande quantidade de ídolos e monumentos aos deuses. Debateu com os atenienses na Ágora (praça pública da Grécia Antiga, onde aconteciam reuniões para debates políticos, filosóficos, religiosos, etc.), usando da linguagem da filosofia para lhes falar de Jesus. Quando tratou da Cruz e da Ressurreição, no entanto, foi ridicularizado. Crer que um judeu crucificado saiu do túmulo era demais para a sofisticação intelectual dos gregos antigos.

São Paulo Apóstolo é tradicionalmente representado com o Livro e a Espada, que simbolizam a Palavra de Deus e o “Bom Combate” espiritual.[10]

Logo a seguir, Paulo desceu para Corinto, cidade portuária na qual existiam dois escravos para cada homem livre(!). Lá, onde havia muita gente vinda do Oriente, o acolhimento do Evangelho foi maior do que em Atenas. Como fabricante de tendas, Paulo ficou nessa cidade por dezoito meses. Nesse período, enviou duas cartas aos Tessalonicenses. Após uma breve escala em Éfeso, volta para a Síria pelo mar. Em 53, realiza sua terceira viagem missionária, a mais longa. Escolhe Éfeso como base (entre os anos de 54 e 57), de onde envia a epístola (carta) aos Gálatas e a primeira epístola aos Coríntios: em Corinto estavam surgindo divisões que enfraqueciam a comunidade.

Então, um fabricante de estatuetas de Artemis provoca um grande tumulto em Éfeso contra os cristãos, o que obriga Paulo a partir. O Apóstolo segue então para a Macedônia, onde escreve a segunda epístola aos Coríntios. Fica em Corinto novamente e de lá redige a carta aos Romanos, pedindo ajuda para efetuar uma viagem evangelizadora até a Espanha. Antes, porém, era preciso ir a Jerusalém levar a coleta feita no Oriente em favor da Igreja-Mãe. Saindo de Filipos, passa por Trôade e depois chega a Mileto. Aos efésios, que foram encontrar-se com ele, confidencia que não tinha esperança de revê-los.

Em Cesareia tentam detê-lo. No ano de 58, em Pentecostes, encontra-se na Cidade Santa. Quase linchado, é preso. Antes de ser flagelado, apela para sua condição de cidadão romano, e assim consegue que o enviem à Cesareia, onde mora o procurador Félix. Seu processo se arrasta por dois anos. O sucessor de Félix, Festo, cansado de ouvir os apelos de Paulo a César, envia-o para Roma. Quando finalmente chega à capital do Império, passa dois anos em liberdade vigiada, correspondendo-se com as comunidades de Colossas, Éfeso e Filipos. É neste ponto que se encerram as narrativas dos Atos dos Apóstolos.

As cartas que Paulo escreveu às primeiras comunidades da Igreja, hoje, fazem parte da Bíblia Cristã, normalmente denominadas epístolas. As epístolas a Tito e a Timóteo são de outra ocasião em que Paulo esteve preso por amor ao Evangelho, na época da perseguição de Nero.

...continua

Fontes e bibliografia:
Livro dos Atos dos Apóstolos (Bíblia Sagrada);
Website Bíblia Católica (9/2/2012), em:
http://bibliacatolica.com.br/historia_igreja/4.php#ixzz1kxrG6Dea;
MONDONI, Danilo. História da Igreja, 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2006;
LENZENWEGER, Josef et. al. História da Igreja Católica, 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2006.

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