Quarenta dias depois de sua Ressurreição, Jesus deu instruções finais aos discípulos e ascendeu ao Céu (At 1 1-11). Os discípulos voltaram a Jerusalém e se recolheram durante alguns dias para jejum e oração, aguardando o Espírito Santo, conforme Jesus prometera.
Cerca de 120 seguidores de Jesus aguardavam pela divina promessa. Então, cinquenta dias após a Páscoa, no dia de Pentecostes, um som como que de um vento impetuoso encheu a casa onde o grupo se reunia. E como que línguas de fogo pousaram sobre cada um dos presentes, e todos começaram a falar em línguas que não conheciam, pois o Espírito Santo os capacitava.
Visitantes estrangeiros ficaram surpresos ao ouvir os discípulos falando em suas próprias línguas, pois sabiam que aquelas pessoas não conheciam outros idiomas a não ser o seu próprio. Alguns outros zombaram, dizendo que eles deveriam estar embriagados.
Então, Pedro, líder dos Apóstolos da Igreja primitiva, fez calar a multidão e explicou que estavam dando testemunho da Ação do Espírito Santo, conforme fora predito pelos profetas do Antigo Testamento (At 2 16-21; Jl 2 28-32).
Alguns dos observadores estrangeiros perguntaram então como receber também o Espírito Santo. E Pedro disse: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos vossos pecados, e recebereis o Dom do Espírito Santo “ (At 2.38).
E cerca de 3 mil pessoas aderiram à fé em Cristo naquele dia (At 2 41). Durante alguns anos, Jerusalém foi o centro da Igreja. Muitos judeus acreditavam que os seguidores de Jesus eram apenas uma outra seita do judaísmo. Suspeitavam que os cristãos, que então se denominavam "Seguidores do Caminho”, tentavam começar um nova “religião de mistério” em torno de Jesus de Nazaré, o que não era o caso, de modo algum. Tempos depois, porém, surgiram grupos que se por conta própria se autodenominaram cristãos e tentaram deturpar a Mensagem de Jesus Cristo, reduzindo o cristianismo a algum tipo de seita esotérica, misteriosa, com supostas grandes revelações e poderes que só seriam concedidos a certos membros especiais, "iniciados nos mistérios", através de práticas e técnicas mágicas secretas... Lamentavelmente, tais grupos continuam surgindo até hoje, embora contem sempre com pouquíssimos adeptos.
Mas na época dos Apóstolos, a Igreja de Jesus Cristo ainda engatinhava, e alguns dentre os cristãos primitivos continuavam a cultuar no Templo (At 3, 1), enquanto alguns outros insistiam que os convertidos gentios (de outros povos e nações) deveriam ser circuncidados (At 15). Os dirigentes judeus, porém, não custaram muito a perceber que os cristãos eram mais do que apenas uma nova seita dentro do judaísmo: os Seguidores do Caminho, isto é, os cristãos, eram diferentes em tudo, e, nesse sentido, revolucionários.
Jesus havia dito aos judeus que Deus faria uma Nova Aliança com aqueles que lhes fossem fiéis (Mt 16, 18), e que ele havia selado esta Aliança com o seu próprio Sangue (Lc 22, 20). Assim, os cristãos primitivos proclamavam com ousadia que haviam herdado os privilégios que Deus concedera a Israel nos tempos antigos, independente de sua nacionalidade, raça ou cultura. Não eram simplesmente uma parte de Israel:eram eles o Novo Israel, o novo Povo de Deus (Ap 3, 12; 21, 2; Mt 26, 28; Hb 8, 8; 9, 15).
Os líderes judeus, como não poderia deixar de ser, temiam muito esta ideia nova, pois este ensinamento não era judaísmo: isso destituía Israel do seu antigo privilégio de Povo Eleito. Agora, era a Revelação de Deus como um só Pai, para todos os homens.
A Comunidade de Jerusalém
Os primeiros cristãos formavam uma comunidade estreitamente unida em Jerusalém, após o Dia de Pentecostes. Parece que eles esperavam que o Cristo voltasse muito em breve. Repartiam todos os seus bens materiais (At 2.44- 45); muitos vendiam suas propriedades e davam à Igreja o produto da venda, a qual distribuía esses recursos entre o grupo (At 4.34-35).
Os cristãos de Jerusalém ainda iam ao Templo para rezar (At 2.46), mas partilhavam a Eucaristia em seus próprios lares (At 2.42-46). Essa Refeição Sagrada trazia-lhes à mente sua nova Aliança com Deus, a qual Jesus havia feito sacrificando seu próprio Corpo e Sangue.
Deus operava milagres de cura por intermédio desses primeiros cristãos. Enfermos reuniam-se no Templo, de sorte que os Apóstolo pudessem tocá-los em seu caminho para a oração (At 5.12-16). Esses milagres convenceram muitas pessoas de que os cristãos estavam verdadeiramente servindo a Deus.
As autoridades do Templo, num esforço por suprimir o interesse na nova Religião, prenderam os Apóstolos. E Deus enviou um anjo para libertá-los (como vemos em At 5.17-20). Isso, é claro, provocou mais excitação entre o povo. A Igreja crescia rapidamente, e os Apóstolos tiveram que nomear sete homens para auxiliar e distribuir mentimentos às viúvas necessitadas. O dirigente desses homens era Estevão, um “homem cheio de fé e do Espírito Santo” (At 6.5).
Foi exatamente aí que começou o governo eclesiástico e a organização hierárquica da Igreja: os Apóstolos tiveram que delegar alguns dos seus deveres a outros dirigentes. À medida que o tempo passava, e a Igreja crescia, seus ofícios precisaram ser dispostos numa estrutura cada vez mais complexa, até chegar no ponto em que se encontra hoje.
Fontes e referência bibliográfica:
MONDONI, Danilo. História da Igreja, 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2006, pp. 21, 31,32;
LENZENWEGER, Josef et. al. História da Igreja Católica, 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2006, pp. 9-12.