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Deus

  “O conhecimento da existência de Deus está naturalmente infundido em todos. Logo, a existência de Deus é por si evidente”.
Santo Tomás de Aquino
Sacerdote e Doutor da Igreja


            Você crer na existência Deus? Em caso afirmativo, pode provar que ele existe?  Na realidade, estamos cercados de evidencias de que existem um Criador Sábio, Poderoso, Amoroso e Eterno. Que evidência são essas? Elas são convincentes? Encontramos a resposta ao considerar as palavras do apostolo São Paulo em sua carta aos cristãos em Roma.
Referindo-se a Deus, o grande apóstolo São Paulo disse: “As suas qualidades invisíveis são claramente vistas desde a criação do mundo em diante, porque são percebidas por meio das coisas feitas, mesmo seu sempiterno poder e divindade, de modo que eles são inescusáveis.” (Rm 1,20) O Criador deixou sua marca em suas obras, como São Paulo destacou. Vejamos mais a fundo as palavras do apóstolo dos gentios: “As  qualidades de Deus podem ser vistas “desde a criação do mundo em diante”, observa São Paulo. Nesse contexto, a palavra grega traduzida “mundo” não se refere ao planeta terra, mas à humanidade. Portanto, São Paulo estava dizendo que, a partir do momento em que foram criados, os seres humanos podiam ver as qualidades do criador evidentes nas coisas que ele fez. Essas evidências estão à nossa volta. Não estão escondidas na natureza, mas são “claramente vistas”. Da maior à menor, as criações revelam claramente não apenas que existe um Criador, mas também que ele tem qualidades maravilhosas. Projetos inteligentes tão óbvios na natureza nos revelam a sabedoria de Deus. Os céus estrelados e a rebentação das ondas do mar mostram o poder do Criador. A variedade de alimentos que tanto apreciamos e a beleza do nascer e do pôr do sol revelam o amor de Deus pela humanidade”. – Sl 19,1-8; 104,24; Is 40,26.
É fácil reconhecer esses evidências? Elas são tão claras que os que não as vêem e os que se recusam a acreditar em Deus “são inescusáveis”, ou seja, não têm desculpa. Um sábio ilustra isso da seguinte maneira: imagine um motorista que ignora uma placa com o aviso: “Desvio – vire a esquerda”. Um policial pede para o motorista parar e começa a multá-lo. O motorista tenta argumentar dizendo que não viu a placa. Mas suas palavras não convencem o policial porque a placa é bem visível, e o motorista não tem nenhum problema na vista. Além disso, é responsabilidade do motorista prestar atenção nas placas. O mesmo acontece com as evidencias de Deus na natureza, que são como uma placa bem visível. Como criaturas racionais, somos capazes de vê-las. Não há desculpas para ignorá-las.
De fato, o “livro” da criação revela muito rsobre nosso Criador. Mas há outro livro que revela muito mais sobre ele: a Sagrada Escritura.
Evidências
          A evidência favorece a existência de Deus. Considere estas idéias: A criação do mundo mostra que há um designer por trás do universo (Rm 1,18-20). A consciência indica que há um Legislador por trás do senso de certo e errado que cada ser humano tem (Rm 2,14-15). A criatividade que expressamos na música, na arte, na tecnologia, nas descobertas científias reflete o mesmo atributo que o Criador tem (Ex 35,31-32). Cristo revela como Deus é em forma humana (Hb 1,1-4). E a comunhão do Espírito Santo no coração cristão manifesta a veracidade de Deus (Gl 5,22-23).
A Sagrada Escritura nos diz que haverá aqueles que negam a existência de Deus (2 Pd 3,4-6). Mas São Tiago nos lembra da sua realidade e de como um cristão do Antigo Testamento tornou-se amigo de Deus: “…Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça, e foi chamado amigo de Deus” (Tg 2,23).
Os especialistas afirmavam que 80% de toda a vida na terra concentra-se nos mares. Este número surpreendente é difícil de imaginar, em grande parte porque a maioria desses seres vivos está fora do alcance de nossas vistas.
Ao pensar sobre isto, lembrei-me de como a criação de Deus é muito maior do que aquilo que normalmente apreciamos. Enquanto podemos facilmente perder o fôlego  pela extensão de uma montanha majestosa ou um pôr do sol panorâmico, algumas vezes falhamos ao não ver o seu trabalho extraordinário nos detalhes que exigem estudo e exame mais cuidadosos. Não apenas a maioria da criação de Deus está escondida nos oceanos, como outras partes são pequenas demais para que nossos olhos as observem. Do microscopicamente pequeno ás insondáveis riquezas do universo, tudo é obra de nosso Criador. Nessas estruturas magnificentes – vistas e não vistas – a glória criativa de Deus é revelada (Rm 1,20).
Conforme passamos a compreender a estupenda maravilha da criação, esse entendimento deve sempre nos direcionar ao próprio Criador – e nos convocar para adorá-lo. Como o salmista disse: “Louvem-no os céus e a terra, os mares e tudo quanto neles se move” (Sl 69,34). Se a própria criação rende louvor ao criador, nós podemos e devemos nos juntar ao coro. Que Deus poderoso nós servimos! Nós somos imagem e semelhança Sua (Gn 1, 26).
Quem Sou Eu?
O homem foi capaz de chegar até a Lua. Pode explorar o infinitamente pequeno e o infinitamente grande, estudar problemas complexos, resolver enigmas que atormentaram gerações passadas. Mas diante das perguntas mais fundamentais de sua existência, permanece profundamente desamparado. Então por que não examinar as respostas que a Sagrada Escritura nos dá?
No principio Deus criou o mundo. Também criou o ser humano com uma dimensão espiritual; por isso somente o que é material não basta para satisfazê-lo. Foi criado para viver em harmonia com Deus e com seus semelhantes. Mas isso não durou, pois o homem rejeitou Deus, desobedecendo-o, duvidando de sua palavra e escolhendo viver na independência. Então seu relacionamento com o Criador foi interrompido e com seus semelhantes ficou arruinado. A partir desse momento, existe uma luta em seu coração, entre aquilo que foi criado para ser a semelhança de Deus, e o que se tornou uma criatura caída e totalmente corrompida até a essência. Além disso, traz sobre si uma sentença irrevogável: a morte, salário do pecado (Rm 6,23). E o homem procura sair dessa situação por todos os meios, seja pela filosofia, crenças religiosas, negação do transcendente, tecnologia, artes, diversão, etc. tudo em vão. O homem está desesperadamente perdido quando se obstina a rejeitar o Senhor Deus Criador. Diante dessa terrível constatação, a Sagrada Escritura nos dá uma maravilhosa notícia: a salvação pela fé e pela graça realizada por Jesus Cristo na cruz (Ef 2,8.13-16).
O Conselho de Deus
 Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus (At 20,27).
O eterno conselho de Deus abrange os planos de seu coração desde a eternidade. Ele os revelou no Novo Testamento mediante os escritos dos apóstolos; e nós, crentes, estamos incluídos nesse projeto. Na epístola aos Efésios, São Paulo fala das quatro dimensões desse conselho, pois deseja que possamos “perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade” desses planos(3,18).
A largura. Em virtude da obra de redenção realizada por seu Filho, Deus quer salvar todos os seres humanos de todos os povos, tribos, línguas e classes sociais para fazer deles seus filhos amados, a fim de que estejam para sempre em sua casa.
O comprimento. O conselho da graça de Deus é eterno assim como ele mesmo é eterno. Seus projetos duram por toda a eternidade. Nós, que cremos no Senhor e Salvador Jesus  Cristo e pertencemos á sua Igreja, estaremos eternamente na casa do Pai.
A altura. Isso nos fala da elevada posição em que fomos colocados como crentes. Individualmente fomos feitos filhos de Deus; e como conjunto formamos a Igreja de Deus, intimamente unida ao Senhor Jesus: somos seu corpo no mundo e seremos sua esposa no Céu.
A profundidade. Temos de lembrar o quão baixo o Senhor Jesus teve de descer para nos salvar e conseguir que o conselho de Deus se tornasse realidade. Ele teve de se fazer homem e, como tal, assumir nosso lugar no juízo divino. Depois teve de penetrar nas profundezas da morte e do inferno. Mas ele triunfou sobre tudo isso e venceu todas essas coisas.
É incompreensível o pensamento de que Deus nos amou com tamanho amor que nos incluiu em seus maravilhosos e eternos projetos! Em parte entendemos Seu amor eterno tão somente pela Sua infinita  misericórdia.
Em suas confissões escreve Santo Agostinho: “Ó Deus! Formosura sempre antiga e sempre nova! Quão tarde te amei! Tu estavas em meu coração e eu te buscava lá fora… Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo… então tu me chamaste em altas vozes… Rompestes a minha indiferença… e, agora, vivo a suspirar por ti… saboreei-te, e, agora tenho fome de ti… tocaste-me de leve e eu me abrasei em tua paz. Quanto mais te possuo, tanto mais te procuro… Que eu me conheça a mim para que te conheça a ti”.
Deus Atua e nos Surpreende
O Papa Francisco disse: “Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio ás dificuldades, Deus atua e nos surpreende. Deus sempre surpreende, como com o vinho novo, Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com ele. Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que te ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se tivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto ele nos ama, o nosso coração se “incendirá” de tal alegria que contagiará de tal alegria quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui neste Santuário: “O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” (Homilia na Santa Missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, 27/07/2013).
“Vale a pena dizer ‘Sim’ a Deus. N’Ele está a alegria!”, afirma o Papa Francisco (L’osservatore Romano, 04/08/2013, p.27).
De brilhante inteligência e inspiração Divina declara magistralmente Bento XVI: “O homem traz consigo um irreprimível desejo de Deus (…) de fato, em uma sociedade em que o ateísmo, ceticismo e indiferentismo não cessam de questionar e pôr à prova a fé, é importante afirmar que existem sinais que abrem o coração do homem e o levam para Deus. Queria acenar algumas vias que derivam seja da reflexão natural, seja da própria força da fé e que poderiam ser resumidas em três palavras: o mundo, o homem e a fé. O mundo: contemplando a beleza, a estrutura da criação, podemos ver que esxiste por detrás dela uma inteligência, que é Deus. O homem: olhando para o íntimo de nós mesmos, nos damos conta de que possuímos uma sede de infinito que nos impele a avançar sempre mais na direção de Deus, o único capaz de nos saciar. Enfim, a vida da fé: ela é encontro com Deus que nos fala, intervém na história e nos transforma” (Audiência Geral, 14 de novembro de 2012).
Conclusão
           Durante milhares de anos a humanidade acreditou ocupar o centro do Universo. A Lua, o Sol, os planetas e estrelas estavam em esferas que orbitavam nosso mundo. Era a concepção aristotélica do cosmo, refinada por Ptolomeu, que só começou a mudar a partir do século XVI, quando o astrônomo polonês Nicolau Copérnico propôs que era o Sol que, na verdade, ocupava o centro de nosso sistema. Hoje, sabemos que a terra orbita uma estrela ordinária no braço de uma galáxia com bilhões de astros semelhantes, e que a nossa própria Via Láctea é apenas uma entre as bilhões de galáxias existentes.
Todo este conhecimento, porém, ainda não é capaz de responder à pergunta que o próprio Aristóteles já se fazia há milhares de anos: “por que estamos aqui?. Agora, alguns cosmologistas vêem no chamado multiverso, isto é, na existência de outros universos, uma possível explicação para o fato de as leis e constantes da física do nosso universo terem exatamente os valores que permitem nossa existência. O Bispo e Doutor da Igreja Santo Agostinho de Hipona dizia: “Não existe nada que não deva sua existência ao Deus Criador”. Estamos aqui para estarmos na eternidade. O sentido da nossa existência é o gozo sem fim com o bom Deus.
Pe. Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja
Instituto de Teologia Bento XVI
Sociólogo em Ciência da Religião

Bibliografia
GILSON, Etienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. Trad. de Cristiane Negreiros Abbud Ayoub. São Paulo: Paulus, 2006.
OS PENSADORES, “São Tomás de Aquino” São Paulo: Abril Cultural, 1980.
AGOSTINHO. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina; “Vida e obra” por José Américo Motta Pessanha. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores).
Soares, Pe. Hélio, Baranowske, Durval. O que dizem os santos: 300 pensamentos em de 200 atributos. Uberlândia, MG. Editora Partilha

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