É só olhar para o lado: quantos amigos e amigas você tem que já traíram alguém? Que namoram, no regime de exclusividade, mas de mão única, claro? Você pode muito bem ser um desses casos. Eu conheci uma garota nos seus 23 anos que tinha 2 namorados. Relação séria mesmo, de conhecer os pais de todos. Falava na maior normalidade: era mais fácil ela morrer de tédio por transar com o mesmo cara todo dia do que de algum remorso por enganá-los. Como não tinha jeito pra sair caçando uma noite só na balada, mantinha namorados paralelos em círculo de amigos diferentes.
A traição sempre aconteceu e não é uma exclusividade dos tempos modernos. Mas hoje, e essa é a frase mais triste que eu poderia dizer sobre esse assunto – é normal. É normal brincar com o coração alheio, a traição já virou rotina, aquela uma vez por semana na balada da quinta-feira, quando é mais fácil dar a desculpa sem imaginação do ‘trabalhei até tarde’. Já ouvi de mais de um amigo o conselho – não importa se ele disse que vai almoçar com a mãe, se vai no futebol ou fazer cerão no escritório: se ele não está com você, ele está te traindo.
Isso, meus amigos, é porque somos uma geração de covardes. Trair é almejar um estilo de vida que você não tem condições para assumir. Não existe nada de errado em comer uma por noite, se é isso o que você quer. A parte cruel, a parte que realmente determina que seu caráter é praticamente inexistente, é manter uma pessoa ali por segurança. É brincar com as expectativas, com os sentimentos daquele único cara que se importou o suficiente para ficar.
Agora me diz: em que ponto da nossa vida nos tornamos completos idiotas sem compaixão? Estúpidos sem qualquer sentimento de identificação e simpatia com o outro a esse grau? É aí que entra o problema de uma geração inteira de homens e mulheres que hoje têm entre 25 e 35 anos. Meu marido costuma dizer uma frase muito bonita, cheio de orgulho quando lembra do pai e da mãe, já falecidos. Ele diz que os dois ‘o criaram para ser um homem de bem’. A maioria de nós fomos criados assim, não? Mas os pais de alguns também os criaram para ter tudo da vida.
Existem estudos sobre essa geração X (agora já existe até uma Z, mas essa ainda é uma mistério pra mim) que se refletem muito no que eu vejo por aí. São os filhos tratados na base do ‘como você é inteligente!’, ao invés de ‘como você se esforçou pra fazer isso!’. São os predestinados, os que acham que já têm por direito um lugar no mundo, e que não precisam se esforçar para ser ‘um homem/mulher de bem’ para conquistar a vida. Tudo o que precisam fazer é chegar e pegar o que bem entenderem. É uma geração completamente mimada e, por consequência, covarde, que não tem coragem para crescer. Eternos infantilóides desmamados.
Ninguém mais se assume. O mundo está mais me parecendo uma grande sala da mãe, em que as crianças continuam ocupadas em quebrar o vaso preferido dela e esconder debaixo do sofá para que ninguém descubra. Eu tenho uma novidade: sua mãe não manda mais aqui, você está sozinho. Se ela não te disse isso, eu faço as vezes de professora dessa grande creche que se tornou o mundo e digo – você é adulto o suficiente para fazer, seja adulto o suficiente para assumir. Assuma os seus atos. Assuma a sua vida. Tem um problema com alguém? Diga na cara e tenha coragem para se aventurar por esse caminho antes tão natural e hoje tão esquecido, o caminho da honestidade. Não passe a vida evitando ser você. E, por favor, cresça antes que alguém que não fez nada além de te amar seja mais uma grande vítima dessa sua geração covarde.
Vana Medeiros