A morte é a separação da alma e do corpo. No exato momento em que a alma abandona o corpo, é julgada por Deus. O juízo individual da alma imediatamente após sua morte chama-seJuízo Particular. É um momento terrível para todos, o momento para o qual fomos vivendo todos estes anos na terra, o momento para o qual toda a vida esteve orientada. É o dia da retribuição para todos.
Quanto à forma em que se realiza este Juízo Particular, só podemos fazer conjecturas: a única coisa que Deus nos revelou é que ele existirá. Os teólogos cogitam que provavelmente o que acontece é que a alma se vê como Deus a vê, em estado de graça ou em pecado, e, consequentemente, sabe qual será o seu destino segundo a infinita justiça divina. Este destino é irrevogável. O tempo de prova e de preparação – ou seja, vida terrena – terminou. A misericórdia divina fez tudo quanto podia; agora prevalece a justiça de Deus.
“A morte é o fim da peregrinação terrena do homem, do tempo da graça e da misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrena segundo o plano divino e para decidir o seu destino último. Quando acabar ‘a nossa vida sobre a terra, que é só uma’ (LG 48), não voltaremos a outras vidas terrestres. Os homens e mulheres morrem uma só vez (Hb 9, 27). Não existe ‘reencarnação’ depois da morte” (Catecismo da Igreja Católica nº 1013; cf. também os números 1006-12 e 1014).
Alma que vai para o inferno
Vejamos a sorte da alma que escolheu a si mesma em vez de escolher a Deus e morreu sem se reconciliar com Ele, ou seja, alma que morre em pecado mortal. Tendo se afastado por livre escolha de Deus nesta inferno. Para esta alma, morte, juízo e condenação são simultâneos.
Alma que vai para o Céu
Suponhamos que morremos assim: confortados pelos últimos sacramentos e com uma indulgência plenária bem ganha no momento da morte. Suponhamos que morremos sem a menor mancha nem vestígio do pecado na nossa alma. Se for assim, a morte será o momento da nossa mais brilhante vitória: mesmo que o corpo resista a deixar que se desate o vínculo que o une ao espírito que lhe deu a vida e a dignidade, o juízo da alma será a imediata visão de Deus.
Essa alma terá a visão beatífica. Não é apenas uma “visão” no sentido de “ver” a Deus; designa também a nossa união com Ele. É a felicidade para sempre: assim é a essência da glória eterna.
O Catecismo da Igreja Católica diz que “o Céu é a comunidade bem-aventurada de todos os que estão perfeitamente incorporados” em Cristo (nº 1026-7).
Alma que vai para o purgatório
O que acontecerá se, ao morrermos, o Juízo Particular não nos encontrar separados de Deus pelo pecado mortal, mas também não com a perfeita pureza de alma que a união com o Santo dos Santos requer? Aqui falamos do purgatório. Esse é um processo de purificação final para lavar até a menor imperfeição que se interponha entre a alma e Deus.
No purgatório, como no inferno, há uma pena de sentido, mas, assim como o sofrimento essencial do inferno é a perpétua separação de Deus, o sofrimento essencial do purgatório será a penosíssima agonia que a alma tem que sofrer ao ver adiada, mesmo que por um instante, a sua união com Deus.
É consolador recordar que a aflição das almas do purgatório é um sofrimento gozoso, ainda que seja tão intenso que não possamos imaginá-lo deste lado do Juízo. A grande diferença que existe entre o sofrimento do inferno e o do purgatório é que no inferno há a certeza da separação eterna e no purgatório a certeza da libertação. A alma do purgatório não quer aparecer diante de Deus no seu estado de imperfeição, mas tem a felicidade de saber, no meio da sua agonia, que no fim se reunirá a Ele.
Ninguém sabe quanto “tempo” dura o purgatório para uma alma. Porém, nós, que ainda estamos vivos, podemos ajuda-las pela misericórdia divina. A frequência e a intensidade da nossa oração, seja por uma determinada alma ou por todos os fiéis defuntos, dará à elas a medida do nosso amor.
Ressurreição da carne
Uma das coisas que sabemos com certeza sobre o fim do mundo é que, quando a história dos homens acabar, os corpos de todos os que vivem se levantarão dos mortos para se unirem novamente às suas almas: é a Ressurreição da carne. Já que foi o homem inteiro, corpo e alma, quem amou a Deus e o serviu, mesmo à custa da dor e do sacrifício, é justo que seja o homem inteiro, alma e corpo, quem goze da união eterna com Deus, que é a recompensa do amor. E já que é o homem inteiro quem rejeita a Deus ao morrer em pecado, impenitente, é justo que o corpo partilhe com a alma a separação eterna de Deus, que o homem como um todo escolheu.
O nosso corpo ressuscitado será constituído de tal maneira que ficará livre das limitações físicas que o caracterizam neste mundo. Já não precisará de alimento ou bebida, e, de certo modo, será espiritualizado. Além disso, o corpo dos bem-aventurados será glorificado; possuirá uma beleza e perfeição que será participação da graça e perfeição da alma unida a Deus.
O mundo acaba, os mortos ressuscitam, e depois vem o Juízo Universal. Esse Juízo verá Jesus no trono da justiça divina, que substitui a cruz, trono da sua infinita misericórdia. O Juízo Final não oferecerá surpresas em relação ao nosso eterno destino. Já teremos passado pelo Juízo Particular; a nossa alma já estará no céu ou no inferno.
“O Juízo final revelará como a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas pelas suas criaturas e como seu amor é mais forte do que a morte” (Catecismo da Igreja Católica nº 1040).
A sentença que recebemos no Juízo Particular será confirmada publicamente. Todos os nossos pecados – e todas as nossas virtudes – serão expostos diante de todos.
Quando terminar o tempo e só permanecer a eternidade, a obra do Espírito Santo encontrará a sua consumação na comunhão dos santos, agora um conjunto reunido na glória sem fim.
(Adaptação do capítulo 14º do livro "A fé explicada", de Leo J. Trese)