Cristo desceu a mansão dos mortos
- As freqüentes afirmações do Novo Testamento segundo as quais Jesus "ressuscitou dentre os mortos" pressupõem, anteriormente à ressurreição, que este tenha ficado na Morada dos Mortos. Este é o sentido primeiro que a pregação apostólica deu à descida de Jesus aos Infernos:
- Jesus conheceu a morte como todos os seres humanos e com sua alma esteve com eles na Morada dos Mortos. Mas para lá foi como Salvador, proclamando a boa notícia aos espíritos que ali estavam aprisionados.
- A Escritura denomina a Morada dos Mortos, para a qual Cristo morto desceu, de os Infernos, o sheol ou o Hades, visto que os que lá se encontram estão privados da visão de Deus. Este é, com efeito, o estado de todos os mortos, maus ou justos, à espera do Redentor que não significa que a sorte deles seja idêntica, como mostra Jesus na parábola do pobre Lázaro recebido no "seio de Abraão".
- "São precisamente essas almas santas, que esperavam seu Libertador no seio de Abraão, que Jesus libertou ao descer aos Infernos". Jesus não desceu aos Infernos para ali libertar os condenados nem para destruir o Inferno da condenação, mas para libertar os justos que o haviam precedido.
- "A Boa Nova foi igualmente anunciada aos mortos...". A descida aos Infernos é o cumprimento, até sua plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a fase última da missão messiânica de Jesus, fase condensada no tempo, mas imensamente vasta em sua significação real de extensão da obra redentora a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares, pois todos os que são salvos se tornaram participantes da Redenção.
- Cristo desceu, portanto, no seio da terra, a fim de que "os mortos ouçam a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem vivam". Jesus, "o Príncipe da vida", "destruiu pela morte o dominador da morte, isto é, O Diabo, e libertou os que passaram toda a vida em estado de servidão, pelo temor da morte". A partir de agora, Cristo ressuscitado "detém a chave da morte e do Hades", e "ao nome de Jesus todo joelho se dobra no Céu, na Terra e nos Infernos":
- Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para que fiques prisioneiro do Inferno: Levanta-te dentre os mortos, eu sou a Vida dos mortos."
No terceiro dia Ressuscitou dos mortos
- "Anunciamo-vos a Boa Nova: a promessa, feita a nossos pais, Deus a realizou plenamente para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus".
- A Ressurreição de Jesus é a verdade culminante de nossa fé em Cristo:
- crida e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã,
- transmitida como fundamental pela Tradição,
- estabelecida pelos documentos do Novo Testamento,
- pregada, juntamente com a Cruz, como parte do Mistério Pascal.
O túmulo vazio
- "Por que procurais entre os mortos Aquele que vive? Ele não esta aqui; ressuscitou". No quadro dos acontecimentos da Páscoa, o primeiro elemento com que se depara é o sepulcro vazio. Ele não constitui em si uma prova direta. A ausência do corpo de Cristo no túmulo poderia explicar-se de outra forma. Apesar disso, o sepulcro vazio constitui para todos um sinal essencial.
- Sua descoberta pelos discípulos foi o primeiro passo para o reconhecimento do próprio fato da Ressurreição. Este é o caso das santas mulheres, em primeiro 1ugar, em seguida de Pedro. "O discípulo que Jesus amava" afirma que, ao entrar no túmulo vazio e ao descobrir "os panos de linho no chão", "viu e creu".
- Isto supõe que ele tenha constatado, pelo estado do sepulcro vazio, que a ausência do corpo de Jesus não poderia ser obra humana e que Jesus não havia simplesmente retomado a Vida terrestre, como tinha sido o caso de Lázaro.
As aparições do Ressuscitado
- Maria e as santas mulheres, que vinham terminar de embalsamar o corpo de Jesus, sepultado às pressas, devido à chegada do Sábado, na tarde da Sexta-feira Santa, foram as primeiras a encontrar o Ressuscitado.
- Assim, as mulheres foram as primeiras mensageiras da Ressurreição de Cristo para os próprios apóstolos. Foi a eles que Jesus apareceu em seguida, primeiro a Pedro, depois aos Doze. Pedro, chamado a confirmar a fé de seus irmãos, vê portanto, o Ressuscitado antes deles, e é baseada no testemunho dele que a comunidade exclama: "É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão".
- Diante desses testemunhos é impossível interpretar a Ressurreição de Cristo fora da ordem física e não reconhecê-la como um fato histórico.
- Os fatos mostram que a fé dos discípulos foi submetida à prova radical da paixão e morte na cruz de seu Mestre, anunciada antecipadamente por Ele. - O abalo provocado pela Paixão foi tão grande que os discípulos (pelo menos alguns deles) não creram de imediato na notícia da ressurreição.
- Longe de nos falar de uma comunidade tomada de exaltação mística, os Evangelhos nos apresentam discípulos abatidos, "com o rosto sombrio" e assustados. Por isso não acreditaram nas santas mulheres que voltavam do sepulcro, e "as palavras delas pareceram-lhes desvario". Quando Jesus se manifesta aos onze na tarde da Páscoa, "censura-lhes a incredulidade e a dureza de coração, porque não haviam dado crédito aos que tinham visto o Ressuscitado".
- A fé que tinham na Ressurreição nasceu - sob a ação da graça divina - da experiência direta da realidade de Jesus ressuscitado.
A humanidade Ressuscitada da Cristo
- Jesus ressuscitado estabelece com seus discípulos relações diretas, em que estes o apalpam e com Ele comem. Convida-os, a reconhecer que Ele não é um espírito, mas sobretudo a constatar que o corpo ressuscitado com o qual Ele se apresenta a eles é o mesmo que foi martirizado e crucificado, pois ainda traz as marcas de sua Paixão. Este corpo autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as propriedades novas de um corpo glorioso:
- Não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se presente a seu modo, onde e quando quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente ao domínio divino do Pai. Por esta razão também Jesus ressuscitado é soberanamente livre de aparecer como quiser, diferente das que eram familiares aos discípulos, e isto precisamente para suscitar-lhes a fé.
- A Ressurreição de Cristo não constituiu uma volta à vida terrestre, como foi o caso das ressurreições que Ele havia realizado antes da Páscoa.
Tais fatos eram acontecimentos miraculosos, mas as pessoas contempladas pelos milagres voltavam simplesmente à vida terrestre "ordinária" pelo poder de Jesus. Em determinado momento, voltariam a morrer.
- A Ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. Em seu corpo ressuscitado, Ele passa de um estado de morte para outra vida, para além do tempo e do espaço. Na Ressurreição, o corpo de Jesus é repleto do poder do Espírito Santo; participa da vida divina no estado de sua glória, de modo que Paulo pode chamar a Cristo de "o homem celeste".
CIC-Catecismo da Igreja Católica 631-658