Guardo boas lembranças da maioria dos meus professores. Tenho para com eles uma grande dívida, pois eles foram capazes de fazer três coisas decisivas para a minha vida: eles me instruíram, me ensinando os conhecimentos fundamentais que deveria ter; eles me ensinaram a pensar, me mostrando os caminhos para formar meus próprios juízos, ainda que esses juízos, ao final, fossem até contrários aos deles próprios; e meestimularam a sempre ir em frente e buscar mais, não aceitando as condições e limitações que o ambiente ou que outras pessoas impunham.
A função primordial do professor é essa: ajudar, de forma complementar à família, a capacitar o aluno para que ele participe em igualdade de condições da sociedade, do mercado de trabalho, da ágora política, etc. É um trabalho de imensa nobreza e incomparável dificuldade, ainda mais nos tempos tortuosos de hoje, em que o aluno é visto como um ser estúpido e incapaz de disciplina, em que a família é completamente eximida (quando não deliberadamente tolhida) de seus deveres educacionais, em que as escolas privadas se guiam por princípios mercadológicos e as públicas, por princípios ideológicos. Os professores que conseguem exercer seu trabalho em uma situação tão adversa merecem todos os aplausos, toda a gratidão. Merecem também reconhecimento real, inclusive na forma de pagamento justo e de condições dignas de trabalho. Mas isso não virá facilmente, temo eu, pois os políticos não costumam gostar de bons professores.
A luta por educação de qualidade deveria mobilizar toda a sociedade, mas isso não ocorre porque estamos em uma época em que cada um só quer lutar por si mesmo – e aqui estou pensando também nessas demandas por falsas liberdades que tanto mobilizam setores minoritários, porém barulhentos. Quando há milhões de pequenas lutas, as maiores e mais necessárias acabam não sendo lutadas. Sim, toda a sociedade deveria se juntar para exigir mais escolas, escolas melhores, professores bem pagos e mais cobrados. Isso beneficiaria a todos indistintamente, e geraria ganhos de longo prazo, com grandes impactos em todas as outras demandas.
Uma das lutas necessárias se refere à libertação do ensino de todas as ideologias. O professor que ensina sem doutrinar é um verdadeiro mestre. Os que fazem da sala de aula um campo de formação de militantes são pessoas que traem a sociedade, as famílias e os alunos. Formar um cidadão não é ensiná-lo a votar neste ou naquele partido, não é fazê-lo ter raiva desta ou daquela classe social, não é levá-lo a pensar como gostaríamos: é ensiná-lo a pensar sozinho, correndo o risco, inclusive, de que ele pense diferente. Mas para isso é necessário um professor neutro, que não exponha suas paixões e gostos políticos na sala de aula, que tenha mais compromisso com sua profissão, com a sociedade e com seus alunos do que com seu partido.
Aos bons professores, aos que não doutrinam crianças e adolescentes, aos que não usam a sala de aula para angariar votos, aos que não transformam as salas de aula em curral eleitoral, aos que ensinam aos seus alunos aquilo que lhes cabe verdadeiramente ensinar, aos que os incentivam a sempre seguir em frente, meus parabéns. Seu trabalho é belo, é árduo e é frutífero. Torço para que também seja reconhecido com justiça.