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O segredo da felicidade


Ninguém é feliz se não viver segundo a santa Lei de Deus, e esta é uma realidade simples, que se pode compreender tanto pela fé quanto por meio da razão.

Canta o salmista: “Vossos Mandamentos são minhas delícias. Eterna é a justiça das vossas prescrições. Dai-me a compreensão delas, para que eu viva.” (Sl 118,143-144).

E como essa realidade não depende exclusivamente da fé religiosa, grandes homens e mulheres de diversas culturas e religiões chegaram à mesma verdade. Mohandas K. Gandhi, o “Mahatma” Gandhi, grande estadista e humanista indiano, parece tê-la compreendido bem, quando disse: “Uma vida sem religião é como um barco sem leme. É a religião que dá base moral a todas as outras atividades. A oração não é um passatempo de velhinhos: é o meio mais potente de ação. Sem a oração não temos consciência da nossa fraqueza”.

O mundo hoje acha que é autossuficiente. Cada vez mais pessoas imaginam que já não precisam mais de Deus; vivem como se o Criador não existisse, e sofrem sem entender porquê. Acontece que ninguém é feliz de verdade sem Deus, sem acolher a sua Vontade, que é sempre o melhor para cada um de nós. Haverá alguém mais sábio do que Ele?

Ao longo da História, os homens criaram milhares de leis e códigos de Direito em busca da justiça e da felicidade, procurando em muitos caminhos e descaminhos algo que Deus já nos deu de presente há muito tempo: seus Dez Mandamentos. Se a humanidade seguisse voluntaria-mente essas poucas e simples regras, não seriam necessários tantos códigos e leis complicadas, e nem mesmo policiamento ou presídios.

Ter fé no Amor de Deus é crer que Ele se interessa, apaixonada e continuamente, por cada um de nós. É fundamental repetir mentalmente, para si mesmo: “Deus sabe tudo a meu respeito, pode tudo para o meu bem, toma conta de tudo e me ama infinitamente”. É preciso saber escutar Deus falar nas circunstâncias e nos acontecimentos da vida. Acostume-se a perguntar: o que Deus está me dizendo com este fato? Acostume-se a pedir ao Espírito Santo que lhe dê discernimento para entender.

“Acreditamos, muitas vezes, que Deus não ouve nossas perguntas. Mas na verdade, ao contrário, nós é que não escutamos as suas respostas”, disse certa vez François Mauriac1. Ele disse também que “o drama da nossa vida consiste na resistência que opomos ao paciente trabalho de Cristo sobre o nosso destino”.

Mauriac está dizendo algo muito profundo e verdadeiro: em qualquer diálogo, não podemos somente querer falar; para conversar com alguém, devemos também observar o momento de calar, de fazer silêncio para ouvir... Se você quiser conversar com Deus, precisa fazer silêncio e ficar atento para ouvir o que Ele fala. Tudo o que nos acontece é para nos ajudar a subir; são como degraus para Deus, escolhidos e dispostos por Ele mesmo.

Montesquieu2 rezava assim: “Senhor Deus, dai-nos as coisas boas, ainda que não as peçamos, e recusai-nos as perigosas, mesmo que imploremos por elas!”. Pedimos a Deus o que nos agrada, mas Ele nos dá o que precisamos. Deixe o Senhor dos senhores conduzir a pequena embarcação de sua vida; assim, ela será sempre protegida do naufrágio.

Resumo de tudo o que foi dito, seguir os Mandamentos de Deus, em última análise, é amar a Deus sobre todas as coisas. A pessoa dócil a Deus é também humilde e mansa para com o seu semelhante, pois vive em Deus e vê Deus no seu próximo.


A questão essencial

Nesse momento, a pergunta que muitos fazem a si mesmos (embora muitas vezes não o confessem) é a mais importante: como amar a Deus sobre todas as coisas? Isso é mesmo possível? Como fazê-lo? Como é que um ser humano pode ser capaz de amar a Deus mais do que aos seus pais, mais do que aos seus amigos, à sua namorada ou namorado, esposa ou esposo? Como é que alguém pode ser capaz de amar mais a Deus do que aos seus filhos? Como seria possível a um ser humano amar a Deus mais do que às pessoas que lhe cercam e lhe são queridas, com as quais convive e se relaciona, sendo que nem sequer podemos ver a Deus?

Como alguém pode amar a esse Deus invisível, enfim, mais do que tudo e até mais do que a si mesmo?

Pois este é o Primeiro Mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Ora, se a nossa busca por Deus é sincera, - e ela precisa ser, - temos então de nos perguntar se tudo isso não seria radical demais, um radicalismo exagerado.

E aqui abro parênteses para uma confissão pessoal: por um longo tempo, este que vos escreve sofreu sem compreender a ideia de amar a Deus sobre todas as coisas. Em minha infância e boa parte da juventude, parecia-me uma exigência impossível de ser atendida. Para mim, era como se Deus estivesse sendo injusto ou exigente demais, ao dar uma ordem que ser humano algum seria capaz de cumprir. Como alguém poderia amar a Deus mais que tudo?..

Mas a resposta para a questão que parecia insolúvel me veio, de maneira tranquila e bem antes do que eu poderia supor, a partir do momento em que resolvi que não havia outra escolha a não ser, simplesmente, confiar em Deus, esforçando-me sincera e serenamente para compreender, enquanto pedia em oração.

E a resposta, tão simples quanto inapelável, foi esta: como eu poderia amar a alguém mais do que a Deus, se foi Deus Quem fez todas as pessoas, as que eu conheço e as que um dia conhecerei e serei capaz de amar, e foi Deus também Quem me deu a oportunidade de conhecer a todas essas pessoas? Como eu poderia amar alguma coisa mais do que a Deus, se foi Deus Quem me deu tudo o que eu tenho, que eu tive ou que algum dia terei? Se foi Deus Quem me deu saúde física e mental para usufruir de tudo o que já tive, que já vi, já vivi, experimentei? Como amar qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa mais do que a Deus, se, por fim, foi Deus Quem me deu a vida, e deu à existência todas as pessoas, todos os seres e todas as coisas?

De um modo muito profundo, amar a Deus é, verdadeiramente, amar a si mesmo! Para todo aquele que de fato crê que Deus é a própria Vida, está dada a resposta.

Assim se vê a tolice daqueles que pensam que podem ser felizes dando as costas para Deus: eis o maior engano dos homens e mulheres dos nossos dias.

Henrique Sebastião, editor

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1. Célebre escritor francês de formação católica. François Charles Mauriac (1885 —1970) recebeu o prêmio Nobel de Literatura (1952) em reconhecimento “à profunda impregnação espiritual e artística com que seus romances penetraram o drama da vida humana” (TILLARD, Jean-Marie R. Somos os Últimos Cristãos? São Paulo: Loyola, 1999.

2. O Barão de La Brède e de Montesquieu, conhecido como Montesquieu, político, filósofo e escritor francês (1689-1755). De família nobre, recebeu a formação dos padres oratorianos.

Referência:

AQUINO, Felipe. Não Vos Conformeis com Este Mundo. Lorena: Cléofas, 2007, pp. 19-21.

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