As pinturas de Dalí sempre me impressionaram pelo impacto apocalíptico que causam. A reprodução de seus sonhos parece nos levar a um mundo desconhecido, um mundo que tampouco imaginamos realizar-se. A compreensão de suas obras exige de nossa parte um mergulho profundo nos lados obscuros da mente daquele que representou uma verdadeira “revolução” nos padrões da estética contemporânea. Em última análise, a análise dos quadros de Dalí nos leva a uma tensão entre a possibilidade e a impossibilidade. Porém, Dalí, embora tivesse uma vida que certa maneira se mostrava marginal em relação aos padrões de comportamento de sua época sabia exatamente a diferença entre a realidade e a ficção de seus sonhos. Nunca um Dalí tentaria trazer a existência uma mulher com cabeça de flor, por exemplo, pois sabia que esse retrato tinha lugar apenas em seu imaginário criativo. Esse limite entre realidade e ficção, ou entre possibilidade e impossibilidade, sempre foi uma tensão reconhecida por parte do surrealismo de Dalí. Ocorre que, ultimamente, tanto a arte contemporânea e aqueles que querem transformar o mundo em uma arte de acordo com suas cabeças não conseguem mais distinguir o limite entre o possível e o impossível. E dentre esses eu colocaria o tão aclamado líder da seita chamada teologia da libertação: Leonardo Boff.
Leonardo, como era chamado por seus colegas de seminário, sempre foi um inimigo da Igreja. Desde os temos de seminário, Boff sempre deixou claro que seus propósitos não eram seguir a Cristo e ser fiel ao seu corpo – a Igreja, mas usar a Igreja visível – instituição – para seus propósitos revolucionários. Usar a Igreja, nesse sentido, seria arrebanhar fiéis e leigos na tarefa única de interpretar o livro o apocalipse em sentido político, sendo que o salvador do mundo não seria mais o juiz do mundo, pois tal tarefa passaria aos líderes políticos revolucionários. Tal visão de mundo, além de implicar em um juízo sobre o mundo e sobre a história que não respeita as diferenças entre ficção e realidade, soa como blasfêmia aos olhos de um verdadeiro fiel cristão, que reconhece no seu Cristo o Poder para salvar o mundo e transformá-lo através do Espírito Santo, e não por uma atitude política de grupos marxistas.
Assim, segundo a teologia da libertação, a humanidade não pode mais esperar que o mundo seja julgado por Jesus. Os líderes mesmos deveriam ocupar o trono de Deus e iniciar um juízo sobre a terra, sendo motivados pela idéia de que milhares estão presos por um sistema econômico cruel e que a libertação desses escravos do capitalismo viria por uma transformação operada pela luta, e não pelo amor.
Em artigo recente, Boff nos diz que: “A questão teológica de base que até agora não acabamos de responder é: como anunciar de maneira crível um Deus que é um Pai bondoso em um mundo abarrotado de miseráveis? Só tem sentido se implicar a transformação deste mundo, de maneira que os miseráveis deixem de gritar. Para que uma mudança semelhante tenha lugar, eles próprios têm de tomar consciência, se organizar e começar uma prática política de transformação e libertação social. Como em grande parte os pobres em nossos países eram cristãos, se tratava de fazer da fé um fator de libertação.” [1]
Ao final do artigo, Boff diz que se trata de “fazer da fé um fator de libertação”, em evidente contradição a Palavra de Deus. Em Hebreus, 11, 1 a Bíblia diz que a FÉ é o “firme fundamento das coisas que não se vêem”. A fé é a porta de entrada de um Cristão no mundo espiritual e não instrumento revolucionário de luta e transformação política.
Boff, que odeia a Igreja e, ao que parece, também deturpa a Palavra de Deus em clara blasfêmia, quer usar a fé para mudar o mundo. Mudar o mundo de acordo com a sua cabeça. Mudar o mundo conforme seu sonho, sua ficção. Usa a Igreja para isso. Não é Deus quem conta, mas é a luta. Boff não está nem aí para Deus. O Pai e o Senhor Jesus são apenas “meios” para sua “revolução”. Assim, a Teologia da Libertação é mesmo uma teologia revolucionária, que parte do pressuposto de que verdade não está em Deus e nem na Palavra, mas na dialética econômica materialista marxista que, segundo Boff, origina todas as sociedades. A teologia da libertação é o braço do movimento secular que quer destruir a Igreja por dentro. Sua natureza advém de um plano satânico programado, voltado para a transformação do mundo pela ação dos falsos profetas. O apocalipse seria realizado, no sonho fictício de Boff, não por Jesus na Parusia (Segunda Vinda), mas por ele e seus seguidores. A mudança não é obra do Espírito de Deus, mas da luta desses grupos marxistas “angélicos” contra os “demônios” capitalistas. A teologia da libertação é uma teologia secular. Não surpreende. Hans Urs Von Balthasar já havia constatado isso: de que a Igreja do século XXI deveria se preparar para receber um ataque de dentro, promovido pelos falsos cristos e falsos profetas que apareceriam como herança do iluminismo humanista[2]. Alhures, o fato é que o diabo se faz de anjo de luz. E, às vezes, engana até os escolhidos.
A visão fictícia de Boff seria insignificante não fosse a maioria de nossos acadêmicos brasileiros com alguma intimidade com a Igreja serem adeptos fiéis desse movimento marxista. Claro. Para não ficar chato e nem entrar e contradição com os cristãos fiéis remanescentes que não se rendem aos sonhos de Boff, eles utilizam a autoridade da “bibliografia estrangeira” para legitimar o mesmo discurso proferido por Boff. Falam de Dussel, de Derrida, da Escola de Frankfurt, etc, apenas para dar um tom de estrangeirismo ao mesmo palavreado apocalíptico, afrancesando suas iníquas imaginações e alimentando seus cães!
Dessa forma, estamos assistindo a destruição da Igreja por dentro e por fora, em uma clara evidência do Sinal dos Tempos. A visão de Boff, como de tantos falsos profetas ao longo da história da Igreja, demonstra uma tentativa de substituir a autoridade de JESUS por uma teoria satânica sobre o sentido da história, qual seja a teoria marxista. A visão materialista de Boff, como de outros falsos mestres, demonstra um surrealismo que nem mesmo Dalí poderia imaginar: uma destruição dos limites entre a ficção e a realidade. A tensão entre o possível e o impossível não faria mais sentido para a teologia da libertação, pois em “um outro mundo possível” [3], isto é, um mundo transformado pela mente de pessoas doentias, como Boff, destruir o cristianismo e a igreja é a prioridade para que a “libertação” seja concretizada. Mal sabem eles que essa libertação será justamente a escravização do mundo. Querem liberar o homem dele mesmo. Querem se libertar de si mesmos. Querem libertar o homem de Deus e entregá-lo ao diabo. Querem servir ao senhor de suas próprias iniqüidades. São ímpios querendo libertar o mundo do próprio pecado. Nessa libertação da libertação veremos a escravização. A visão da injustiça reinará sobre os “libertos”. Nesse cenário, espero ter a honra de já estar na Jerusalém Celeste junto com o Senhor. Oxalá eles acordem a tempo!
[1] BOFF, Leonardo. A teologia da libertação se propaga apesar do veto do Vaticano. Artigo publicado no site: http://www.jornaldiadia.com.br/jdd/index.php?option=com_content&view=article&id=6461:a-teologia-da-libertacao-se-propaga-apesar-do-veto-do-vaticano&catid=43:clima&Itemid=63
[2] Balthasar, Hans Urs Von. Ensayos teologicos II: sponsa verbi.
[3] Tema do fórum social mundial.