(Padre Luis Teresa de Jesus Agonizante, CP)
“Vamos referir, com lhaneza, fatos extraordinários, indubitáveis e autênticos todavia.
Em França, os biógrafos
de santos costumam, antes de entrar nesta matéria, fazer longas
dissertações filosóficas, teológicas. etc.. Precauções, pois estamos em
épocas dos espíritos fortes.
Após prolongadas
insônias, conseguia Paulo pegar no sono. Pois bem, os espíritos malignos
interrompiam-no, com assobios, uivos, espantosos ruídos, simulando
detonações de diversas peças de artilharia a um tempo.
Acordava o santo, sobressaltado.
Outras vezes, tiravam-lhe os cobertores ou caminhavam sobre a cama, como gatos.
Na grave enfermidade de
Orbetello, passou quarenta dias e quarenta noites insone, atormentado de
pungentes dores. Afinal, acalmando-se-lhe um pouco os sofrimentos,
adormeceu. Imediatamente, infernal ruído o acordou. Eram os demônios a
abrirem e fecharem com violência as portas de um móvel... O santo, com
ar de desprezo, pô-los em fuga, podendo descansar por algumas horas.
Ao referir a aventura ao confessor, ele, que sabia unir a alegria à virtude, dizia-lhe a sorrir:
“ Que lhe parece? Não
diz o provérbio que o cachorro que dorme não caça?... Um pobre homem
insone há quarenta dias e quarenta noites, despertado no primeiro
sono!.... E' isto, por ventura, agradável? ” .
Estava o santo de cama
com o mal de gota. O demônio, a fim de martirizá-lo, tomou-lhe o dedo
mais dolorido e o torceu violentamente, fazendo-lhe experimentar dores
inauditas.
Atacavam-no com mais furor, quando ocupado em afazeres da glória de Deus ou do bem das almas.
Ao começar a oração ou o
Ofício divino, parecia-lhe desencadear-se o inferno... Se tomava da
pena para escrever coisas de importância, o demônio, raivoso, rugia,
espantosamente. Se nos recreios discorria de assuntos de piedade, de
volta à cela tinha que haver-se com os espíritos infernais.
Ao rever as Regras das
religiosas da Paixão, maltrataram-no os demônios a valer. Uma noite, mão
invisível tomou-lhe da cabeça, batendo-a violentamente de encontro à
parede. O barulho despertou o enfermeiro, na cela contígua. No dia
seguinte, perguntando-lhe o confessor como passara a noite, respondeu,
sorrindo
“ O bom Deus não permite que as artimanhas dos demônios façam muito mal, mas bem é que não fazem ” .
E acrescentou:
“ O que os queima agora é o mosteiro! ” .
O que mais irritava a
Satanás era a conquista de almas. Nos primeiros anos de residência no
Argentário, descia Paulo aos sábados a Portércole, a fim de instruir o
povo nos rudimentos da religião, passando a noite ao pé do Tabernáculo.
Os demônios
esforçavam-se por amedrontá-lo com estrépitos infernais. O santo
prosseguia a sua oração. De manhã, entregava-se às obras de apostolado
com êxito correspondente à preparação.
Nas jornadas apostólicas, seguiam-nos os espíritos infernais, fazendo-lhe pagar bem caro as almas arrebatadas ao seu domínio.
À noite, batalhões
desses espíritos entravam-lhe pelo quarto com alaridos de um povo
amotinado. Puxavam-no da cama, arrastavam-no pelo assoalho, bradando
enfurecidos:
“ Ah! Vieste atormentar-nos? Quantas almas já nos arrebataste!... ”
As meditações sobre a
sagrada Paixão causavam-lhes grandes perdas. Confessaram pela boca dum
possesso, que a santa missa celebrada pelo servo de Deus e a Paixão
pregada por ele eram o que mais os afligia.
O inocente corpo de
Paulo, especialmente as pernas estavam sempre chagadas pelos açoites dos
demônios. (quantas manhãs encontravam-no pálido, lívido, obrigado a
permanecer na cama, sem mover-se...
Regressava, certa feita,
duma missão quando, ao sopé de alta montanha, nas vizinhanças de
Feniglia, os demônios, de forma visível, colocando-se em ala ao longo da
estrada, açoitaram-no cruelmente, corno a soldado sujeito ao castigo
das chibatadas.
Impossível referir todos
os maus trato: infligidos pelos demônios ao servo de Deus; mas o
apóstolo surgia sempre mais audaz desses combates e com a espada mais
afiada para novas batalhas e novos triunfos...
Uma vez por outra tomavam os inimigos forma humana, pretendendo enganá-lo.
Em Santo Anjo, na
enfermidade de que falamos no princípio deste capítulo,
apresentaram-se-lhe no quarto seis ou sete personagens, que se diziam
médicos. Vinham da parte do pe. João Batista anunciar-lhe que se
preparasse para a morte. O desenlace ocorreria na próxima quarta feira.
O santo, percebendo
imediatamente o embuste diabólico, respondes-lhes que tinha médico em
quem confiava plenamente e que, portanto, não fora necessário virem até o
retiro por tão pouco. O dr. Mattioli tê-lo-ia avisado.
Com efeito, se aqueles
médicos de nova linhagem pretendiam assustá-lo, enganavam-se
redondamente, pois o maior desejo de Paulo era deixar este desterro e
voar para a Pátria celeste. O certo, é que os demônios desapareceram,
envergonhados.
Em outra ocasião,
estavam o pe. Paulo e um companheiro hospedados em casa de um nosso
benfeitor. Mal se recolheram ao quarto, apareceu-lhes o demônio sob a
figura de horrível gigante.
“ Pe. Paulo ” ,
perguntou tomado de susto o companheiro
“ Não está vendo? ”
“ Tranqüilize-se ” ,
respondeu o servo de Deus, acostumado a tais visitas,
“ tranqüilize-se, ele não veio para v. revcia ” .
No dia seguinte percebeu
o companheiro para quem viera o inimigo, ao observar as pernas do pe.
Paulo lívidas pelos açoites recebidos durante a noite.
“ Outros religiosos testemunharam as violências diabólicas no corpo inocente do pe. Paulo ” ,
acrescenta são Vicente Maria Strambi, dando a entender, provavelmente, que. ele também o testemunhara.
Que valor não demonstrou
nesses assaltos o servo de Deus?! Ele bem sabia que contra tais
inimigos não cabem temores, mas confiança ilimitada no poder e na
misericórdia de Deus.
Jamais pediu socorro,
patenteando ao inimigo que o não temia. Convencido de que o espírito
soberbo tem mais audácia que poder, opunha-lhe somente profundo
desprezo. Armava-se do Crucifixo. coloca-a ao pescoço o rosário e, com
voz possante, intimava-o, em nome de Jesus e Maria, a retirar-se.
Fugia, não há dúvida, mas para voltar com desdobrado furor.”
(Padre Luis Teresa de
Jesus Agonizante, CP, in: Vida de São Paulo da Cruz, tradução do Padre
Vicente do Nome de Jesus, CP, Editora “O Calvário”, São Paulo: 1958,
páginas 363-367)
Fonte: Texto retirado do antigo blog odioaheresia
Foto: Autor desconhecido
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