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Amostra no Japão focaliza a heroica perseverança dos “católicos escondidos”


Quadro japonês de um "cristão escondido" fiel nas perseguições. No centro: Nossa Senhora e o Menino Jesus, S. Matias, Sto Inácio, S.Francisco Xavier e Sta Luzia. Em volta: os mistérios do rosário
Quadro japonês de um “cristão escondido” fiel nas perseguições. No centro: Nossa Senhora e o Menino Jesus, S. Matias, Sto Inácio, S.Francisco Xavier e Sta Luzia. Em volta: os mistérios do rosário
Universidade de Kyoto, Japão, está promovendo umaexposição que mereceria ser mais conhecida pelos católicos do mundo inteiro.
Trata-se de uma amostra de quadros pintados por “cristãos escondidos” dos séculos XVII a XIX, quando o cristianismo era sanguinariamente proibido no país e houve incontáveis mártires, como os de Shimabara.
Os primeiros portugueses aportaram no Japão a partir de 1543, levando missionários católicos. Entre eles, o grande São Francisco Xavier SJ.
Durante seis ou sete décadas, o catolicismo foi acolhido com entusiasmo. O fato foi registrado por artistas japoneses, dando origem a uma escola chamada Namban. Esta se caracteriza por uma síntese de elementos nipônicos e ensinamentos artísticos ocidentais transmitidos nos seminários.
A habilidade dos japoneses para a pintura fez com que os missionários lhes encomendassem quadros grandes para os altares, ou pequenos para uso pessoal dos fieis.
Esses quadros existiram em grande número, mas foram destruídos quando o Shogun [governador militar designado pelo imperador com poderes de ditador] pagão Tokugawa ordenou uma das mais sangrentas perseguições religiosas da história.
Tendo o catolicismo sido declarado oficialmente ilegal em 1612, os católicos foram martirizados em massa. 434 deles foram beatificados e canonizados em diversas ocasiões, e muitos outros milhares ganharam a graça do martírio.
As ferozes perseguições e martírios públicos não conseguiram, entretanto, extinguir o catolicismo, que continuou sendo professado secretamente – de onde a expressão “cristãos escondidos”.
Dom Justo Takayama Ukon, heroico e protetor senhor feudal católico
Dom Justo Takayama Ukon, heroico e
protetor senhor feudal católico
Sem o apoio de sacerdotes – portanto, sem a Missa e sem certos sacramentos fundamentais – eles continuaram professando o catolicismo, que foi transmitido de pais a filhos durante séculos.
Também secretamente produziam quadros e objetos de devoção para as práticas religiosas em família ou em grupo, e que eram zelosamente ocultados aos olhares dos verdugos pagãos.
Em mais de um desses quadros, onde a influência barroca ocidental é evidente, contemplamos no centro Nossa Senhora com o Menino Jesus, tendo a seus pés Santo Inácio de Loiola – fundador dos jesuítas, grandes missionários no país – e São Francisco Xavier SJ, o mais famoso deles.
Em volta do tema central podemos ver em quinze círculos os quinze mistérios do Rosário, sinal de que a devoção do terço foi essencial na perseverança daqueles católicos sem comunicação com o mundo, mas amados de Nossa Senhora.
Um desses quadros (ao lado) foi encontrado na região de Osaka, no porão de uma chácara da aldeia de Ibaraki.
O Japão era dotado de uma organização social feudal onde os nobres governavam as regiões, um pouco como a nobreza medieval governava a Europa.
No século XVI, a região em que foi achado o quadro pertencia ao feudo do Senhor Takayama Ukon, conhecido na região pelo seu nome católico: Don Justo Takayama.
Lembrado como um dos mais piedosos senhores feudais católicos da época, ele preferiu renunciar a seu feudo e às suas propriedades antes que renunciar à Fé. Acabou sendo expulso do Japão e morreu em Manilha, Filipinas.
Mártires de Nagasaki
Mártires de Nagasaki
Mas, apesar da perda de seu senhor feudal e protetor, os católicos conservaram intacta sua Fé.
Perto da casa onde foi recuperado este quadro de Nossa Senhora encontrou-se um famoso retrato de São Francisco Xavier, o qual está hoje exposto no Museu da cidade de Kobe.
Em 1853, o almirante americano Matthew Perry, comandando uma frota de guerra, obrigou o Japão a se abrir ao comércio e às relações diplomáticas com o Ocidente.
Efetivada essa liberalização, os missionários católicos puderam voltar ao Japão e abriram missões.
Conta-se que uma vez, na igreja ainda nova e vazia, um japonês entrou e observou com grande curiosidade tudo o que nela havia.
O missionário puxou uma prosa e o japonês lhe perguntou:
– O Sr. acredita no Papa?
– Sim.
Samurai (cavaleiro) católico com terço no pescoço
Samurai (cavaleiro) católico com terço no pescoço
– O Sr. acredita em Nossa Senhora.
– Sim!
– O Sr. acredita na Eucaristia?
– Sim!
– Então seu coração é como o nosso!
Tratava-se de um dos “católicos escondidos”. Eles receberam instrução dos últimos padres para não acreditarem em qualquer um que viesse de fora, mas só nos que professassem a fé no Papa, em Nossa Senhora e na Eucaristia. Estes só poderiam ser católicos.
A amostra promovida hoje pela Universidade de Kyoto ilustra a fé desses japoneses que perseveraram contra toda esperança, aguardando que um dia chegariam os bons missionários.
Demoraram quase três séculos, mas chegaram. O mérito de perseverança na Fé desses católicos do Japão é todo um exemplo para nós, nesta época em que a Fé é tão perseguida.

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