Pular para o conteúdo principal

Segundo Domingo do Advento - Solenidade da Imaculada Conceição



A DOUTRINA da Imaculada Conceição, cuja memória litúrgica celebra-se neste segundo domingo do Advento, sempre foi uma realidade muito constante nos escritos dos santos. Desde os primeiros séculos, a cristandade já recordava a Virgem Maria como aquela que fora preservada de toda mancha do pecado - a Tota Pulchra, como canta a antífona própria desta festa. Ao contrário de Eva, a também virgem imaculada que respondeu à visita do anjo decaído com seu não a Deus, Maria é a virgem imaculada que, recebendo em sua casa a presença de São Gabriel, respondeu com o seu sim: "Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua Palavra" (S. Lc 1,38).

E foi nesta firme convicção, "depois de na humildade e no jejum dirigirmos sem interrupção as nossas preces particulares e as públicas da Igreja a Deus Pai", que o Papa Pio IX, num dos atos mais solenes de seu pontificado, declarou "a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular Graça e privilégio de Deus onipotente (...) foi preservada imune de toda mancha de pecado original". Não por acaso, pouco tempo depois desta proclamação, em 1858, Nossa Senhora apareceria a uma jovem camponesa de Lourdes, na França, apresentando-se como a "Imaculada Conceição".

Antes da definição de Pio IX, no entanto, existiam algumas controvérsias teológicas quanto a esse ensinamento. Embora fosse de grande consenso a doutrina segundo a qual Maria nascera sem pecado - estando essa verdade presente não só na fé popular como também nos textos litúrgicos, - muitos teólogos viam com dificuldade a proposição, sobretudo porque não conseguiam entender de que modo isso poderia se relacionar com a redenção operada por Cristo no Mistério da Paixão. Afinal, sendo Maria imaculada, teria ela necessitado da salvação?

São ótimas perguntas, e essas dificuldades, infelizmente, acabaram suscitando algumas heresias já na época de Santo Tomás de Aquino. Para certos teólogos, Maria não teria sido redimida por Cristo, o que é uma clara heresia. O debate, com efeito, fez com que o Doutor Angélico reagisse em sua Suma Teológica, negando a doutrina da imaculada conceição. Foi somente no final de sua vida, no seu Comentário da Saudação Angélica (ou seja, da Ave-Maria), que Santo Tomás voltou atrás e aceitou essa verdade de fé.

A confusão teológica, contudo, ainda perdurou por algum tempo, até que um frade franciscano, o bem-aventurado Duns Scoto, finalmente apresentasse uma explicação consistente. Scoto defendia que Maria havia sido salva já no ventre de Santa Ana, tendo em vista o Sangue de Cristo derramado na cruz. Uma vez que Deus não está preso ao tempo e ao espaço, Ele bem poderia utilizar os méritos da Paixão de Jesus antecipadamente, preservando Nossa Senhora das insídias diabólicas. Foi baseado nesta argumentação que o também bem-aventurado Papa Pio IX publicou a Bula Innefabillis Deus, pondo termo à controvérsia e definindo como dogma de fé a "Imaculada Conceição de Maria".

Na Innefabillis Deus, Pio IX usa duas passagens bíblicas para atestar a veracidade do dogma: Gênesis, capítulo 3: o chamado Proto-Evangelho que narra a "inimizade" entre a serpente e a Mulher; e Lucas, capítulo 1: Evangelho que relata a saudação angélica de São Gabriel: "Ave, Cheia de Graça, o Senhor é convosco".

Com esses dois textos, o Papa revela as evidências da santidade de Maria. Por ter sido agraciada desde o ventre de sua mãe, Maria é a inimiga por excelência do demônio; e sendo a "Cheia de Graça", à qual "grandes coisas fez Aquele que é poderoso", possui a mais perfeita amizade com Deus.

A Imagem de "Nossa Senhora Aparecida" é uma imagem de Nossa Senhora da Conceição (de características do barroco português), encontrada no rio Paraíba do Sul (Aparecida - SP), evidentemente sem o tradicional manto azul, que foi ofertado pela Princesa Isabel e que já se tornou parte integrante da imagem na imaginação de milhões de brasileiros.

Nós, brasileiros, temos a grande graça de ter herdado de Portugal a devoção pela Imaculada Conceição de Maria. Embora muitas pessoas não saibam, a Imaculada Conceição é a Padroeira de Portugal. Isso porque foram naquelas terras que aconteceram as maiores batalhas em defesa da fé cristã e, sobretudo, em defesa da imaculada conceição. Numa época em que a península ibérica via-se ameaçada pelas investidas dos mouros, os cavaleiros cristãos fizeram um pacto de sangue, a fim de preservar a fé católica da região. E venceram com a ajuda e intercessão da Imaculada.

No Brasil, temos também como padroeira Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Ela, como "um exército em ordem de batalha", convida-nos também a empreender um combate contra a serpente maligna que assalta nossa dignidade, nossos filhos e nossa fé.

Rezemos a Ela, a Auxilium Christianorum, para que neste momento, em que duas leis perniciosas tramitam em nosso parlamento com o intuito de destruir a família brasileira, a cabeça da serpente seja esmagada e precipitada ao inferno junto com seus demônios.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, rogai por nós!
____
Fonte:
Site Padre Paulo Ricardo, disponível em 
http://padrepauloricardo.org/episodios/imaculada-conceicao-de-maria

Postagens mais visitadas deste blog

Símbolos e Significados

A palavra "símbolo" é derivada do grego antigo  symballein , que significa agregar. Seu uso figurado originou-se no costume de quebrar um bloco de argila para marcar o término de um contrato ou acordo: cada parte do acordo ficaria com um dos pedaços e, assim, quando juntassem os pedaços novamente, eles poderiam se encaixar como um quebra-cabeça. Os pedaços, cada um identificando uma das pessoas envolvidas, eram conhecidos como  symbola.  Portanto, um símbolo não representa somente algo, mas também sugere "algo" que está faltando, uma parte invisível que é necessário para alcançar a conclusão ou a totalidade. Consciente ou inconscientemente, o símbolo carrega o sentido de unir as coisas para criar algo mair do que a soma das partes, como nuanças de significado que resultam em uma ideia complexa. Longe de objetivar ser apologética, a seguinte relação de símbolos tem por objetivo apenas demonstrar o significado de cada um para a cultura ou religião que os adotou.

Como se constrói uma farsa?

26 de maio de 2013, a França produziu um dos acontecimentos mais emblemáticos e históricos deste século. Pacificamente, milhares de franceses, mais de um milhão, segundo os organizadores, marcharam pelas ruas da capital em defesa da família e do casamento. Jovens, crianças, idosos, homens e mulheres, famílias inteiras, caminharam sob um clima amistoso, contrariando os "conselhos" do ministro do interior, Manuel Valls[1]. Voltando no tempo, lá no já longínquo agosto de 2012, e comparando a situação de então com o que se viu ontem, podemos afirmar, sem dúvida nenhuma, que a França despertou, acordou de sua letargia.  E o que provocou este despertar? Com a vitória do socialista François Hollande para a presidência, foi colocada em implementação por sua ministra da Justiça, Christiane Taubira,  a guardiã dos selos, como se diz na França, uma "mudança de civilização"[2], que tem como norte a destruição dos últimos resquícios das tradições qu

Pai Nosso explicado

Pai Nosso - Um dia, em certo lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar como João ensinou a seus discípulos”. È em resposta a este pedido que o Senhor confia a seus discípulos e à sua Igreja a oração cristã fundamental, o  Pai-Nosso. Pai Nosso que estais no céu... - Se rezamos verdadeiramente ao  "Nosso Pai" , saímos do individualismo, pois o Amor que acolhemos nos liberta  (do individualismo).  O  "nosso"  do início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade, nossas divisões e oposições devem ser superadas. É com razão que estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca. Os sete pedidos - Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo