- “Jesus jamais ensinou a transubstanciação aos seus discípulos, isto é, que o pão literalmente se converteria no Seu corpo” (Guillermo Hernández Agüero, evangélico).- “Não se trata – como ensina a doutrina da transubstanciação – que o pão se converta em Cristo, mas que Ele é como um pão que dá a vida eterna” (Fernando Saraví, evangélico).- “Contudo, esse pão é pão antes das palavras dos mistérios; quando ocorre a consagração, do pão se faz a carne de Cristo” (Santo Ambrósio, Bispo, Século IV).
[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje, os quatro grandes doutores da Igreja Oriental: Atanásio de Alexandria, Basílio de Cesareia, Gregório de Nanzianzo e Gregório de Nissa].
ATANÁSIO
A grande figura de Santo Atanásio (295-373) preenche uma boa parte do século IV. Como diácono e secretário de seu Bispo, Alexandre, participou do Concílio de Niceia. Foi nomeado Bispo de Alexandria. Por defender a doutrina de Niceia, foi exilado cinco vezes pelas autoridades do Império.
Contrapondo a antiga Pácoa com a celebração pascal cristã, diz:
- “Então (=nos dias do Antigo Testamento) celebravam a festa comendo um cordeiro irracional e afugentavam o [Anjo] exterminador untando os dentes com seu sangue. Mas agora, quando comemos o Verbo do Pai e assinalamos os lábios de nossos corações com o sangue do Novo Testamento, conhecemos a graça que o Salvador nos deu” (Cartal Festal 4,3).
- “O próprio Salvador nosso, passando do figurado para o espiritual, lhes prometeu que de então em diante não comeriam a carne do cordeiro, mas a sua própria [carne], dizendo: ‘Tomai e comei; isto é o Meu corpo e o Meu sangue” (Carta Festal 4,4).
- “Verás os levitas (=os sacerdotes cristãos), que levam os pães e o cálice com o vinho, e os põem sobre o altar. E enquanto não são feitas as orações e invocações, é apenas pão e vinho; mas quando terminam as magníficas e admiráveis preces, então o pão se faz corpo e o cálice [se faz] sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. E novamente: ocorre a realização dos mistérios. Este pão e este cálice, antes das orações e invocações, são puros [pão e vinho]; mas quando sobrevêm as magníficas preces e as magníficas invocações, o Verbo desce ao pão e ao cálice, e se faz o seu corpo” (Sermão aos Batizandos [fragmento]; PG 26,1325)[37].
Tratando dos frutos da comunhão eucarística, escreve:
- “Nos divinizamos, não participando do corpo de um homem qualquer, mas tomando o corpo do próprio Verbo” (Carta a Máximo 2; PG 26,1088).
BASÍLIO
Um dos líderes mais importantes da Igreja da Capadócia. Nasceu por volta de 330. Contam-se em sua família diversos mártires e santos. É considerado um dos fundadores do monaquismo oriental.
Escrevendo a um cristão acerca do proveito da comunhão frequente, diz:
- “É certamente bom e proveitoso receber diariamente a Eucaristia e, assim, participar do corpo e sangue de Cristo, porque Ele diz com toda a clareza: ‘Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue possui a vida eterna’. E quem pode duvidar que participar frequentemente da Vida é a mesma coisa que possuir vida em abundância? Eu comungo quatro vezes por semana: no Dia do Senhor (=Domingo), na 4ª-Feira, na 6ª-Feira e no Sábado; e também em qualquer outro dia, se acontecer a comemoração de algum santo” (Carta 93)[38].
Em outros lugares, fala de “receber o corpo e o sangue de Cristo” e de “participar do santo corpo e sangue de Cristo” (Regra Moral 21,1-2; Regra Breve, Tratado 172).
GREGÓRIO NANZIANZENO
Outro dos grandes Padres Capadócios. Nasceu em 330 e morreu em 389. Trabalhou em grande sintonia com São Basílio e o irmão de Basílio, São Gregório de Nissa. Seu pai foi Bispo de Nanzianzo. Foi ordenado sacerdote em 362. Nomeado Bispo de Niceia, renunciou à esta sé por problemas canônicos. Foi Bispo de Nanzianzo por alguns anos, até que se aposentou, e passou a viver em solidão e oração até sua morte. Seus escritos são de imensa profundidade teológica.
Tratando da celebração eucarística, exorta aos fiéis:
- “Se desejais a Vida, comei o Corpo e bebei o Sangue sem temor e sem dúvidas” (Discurso 45, na Santa Páscoa 19).
E em uma carta:
- “Ó piedosíssimo: não te canses de pedir e advogar por nós, quando por tua palavra fizeres baixar o Verbo; quando pelo fracionamento incruento, usando a voz no lugar da espada, cortares o Corpo e o Sangue do Senhor (=exato momento da fração do pão eucarístico na Missa)” (Carta 171, a Anfilóquio 3).
GREGÓRIO DE NISSA
Irmão de São Basílio e amigo de São Gregório Nanzianzeno. Nasceu em 335 e morreu em 394. Grande místico, teólogo e escritor. Foi consagrado Bispo de Nissa, na Capadócia.
Ensinando aos seguidores de Cristo como se deve entender as Escrituras, diz-lhes:
- “Cremos que também agora o pão santificado pela palavra de Deus se transforma no corpo do Verbo de Deus” (Discurso Catequético 37).
E em outro lugar:
- “Inicialmente, o pão é comum; mas quando o mistério o consagrou, chama-se e se faz corpo de Cristo” (In Diem Luminum; PG 46,581).
Afirma também que Cristo Se ofereceu em sacrifício antes mesmo do Calvário, e diz:
- “Quando se deu isso? Quando aos que estavam com Ele lhes fez Seu corpo ao pão e, à bebida, Seu sangue. Porque é totalmente manifesto que os homens não podem comer um cordeiro se anteriormente não se dá a morte disto que comem. Ele, que deu Seu corpo como comida aos Seus discípulos, manifestou abertamente que já se tinha cumprido o sacrifício do cordeiro” (Discurso 1, na Santa Páscoa; PG 46,612).
NOTAS:
[37] Alguns colocam este texto em dúvida, não obstante a maioria dos críticos hoje o tenham como um escrito autêntico de Atanásio.
[38] Compare-se o escrito de São Basílio Magno com estas expressões de Sapia no artigo já citado (com as ênfases do original): “Este sacerdote [católico] disse [ao terminar uma Missa]: ‘Queridos irmãos: vos convido a retornar todo domingo para receber Cristo, que por sua grande humildade Se transforma em hóstia por amor a nós…’ Pergunto: Receber Cristo todo domingo? É claro que somente podemos receber algo quando NÃO TEMOS esse algo (o que me parece óbvio). Significa, então, segundo se depreende das palavras do sacerdote, que Cristo ‘abandona’ o católico em algum momento da semana, já que no domingo [seguinte] deverá assistir à Missa para novamente recebê-Lo… e assim sucessivamente ao longo de toda a sua vida… Isto não apenas é antibíblico como também ilógico. No entanto, os fiéis católicos aceitam, creem e obedecem a isto… Eles creem na Igreja Católica Romana e isso os conforma para supor que estão cumprindo [seus deveres para] com Deus. O verdadeiro cristão recebe Cristo UMA ÚNICA VEZ em sua vida: no instante de reconhecê-Lo como seu único e suficiente Salvador, entregando-Lhe seu coração e todo o seu ser; o que a Bíblia chama de “nascer de novo” (algo que dificilmente ocorre com quem supõe receber Cristo pela ingestão de uma hóstia)”. É claro que cada um tem uma visão diferente do que significa “receber Jesus” e não necessariamente coincidirá com a definição de tipo dogmático expressa por Sapia, sobre como “o verdadeiro cristão” recebe a Cristo (leia-se: ele e os que pensam como ele); como se existisse uma única forma de “receber” Jesus! Entretanto, o que eu quero apontar aqui é que a fé do evangélico batista é diferente da Fé da Igreja primitiva, daquela Fé que coincide com a daquele sacerdote católico que convida os fiéis a regressarem à Igreja todo domingo para “receber a Cristo”. Vemos então que São Basílio Magno, na distante Capadócia, naquele já distante século IV, “cria na Igreja Católica Romana” e isso “o conformava para supor que estava cumprindo [seus deveres para] com Deus”. Há outros testemunhos neste artigo onde os Padres recomendam ou louvam a recepção diária da Eucaristia.