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Dúvida – Na missa, o que se deve cantar?


“Hoje em dia se canta e celebra como cada um acha melhor. Vocês veem alguma solução para isso? Há esperança de mudança?”
Cremos que aqui há duas questões: celebrar-se o que se quer e cantar-se o que se quer. Responderemos por partes, especialmente porque a segunda questão, sobre o canto sacro, nos parece mais importante que a primeira.
Celebração
As celebrações não podem, simplesmente, serem realizadas a vontade. De maneira geral, deve-se seguir o que se pede o Missal em sua lista de ordem de precedência dos dias e, quando há dias sem memória obrigatória, pode-se celebrar as missas para diversas circunstâncias. Cremos que, de maneira geral, a celebração da Missa não é exatamente um problema, porque segue-se o que se pedem as normas ou, pelo menos, seguem-se alguns semanários que indicam as celebrações na ordem correta.
O canto (ou, afinal, o que se deve cantar?)
Também cantavam os anjos... E Santa Cecília!
Também cantavam os anjos… E Santa Cecília!
Devemos ver o que diz a Instrução Geral do Missa Romano sobre o canto. O exemplo principal que tomaremos é do canto da “Antífona de Entrada”, ou seja, aquele que abre a celebração da Santa Missa de determinado dia. Diz-nos (IGMR 48):
“Pode utilizar-se ou a antífona com o respectivo salmo que vem no Gradual Romano ou no Gradual simples, ou outro cântico apropriado à ação sagrada ou ao caráter do dia ou do tempo”.
A questão aqui apresentada, como canto apropriado para acompanhar a entrada do celebrante e dos ministros é a seguinte:
- Canta-se o que está no Gradual Romano (Graduale Romanum): que é, nada mais nada menos, que a antífona de entrada que encontra-se no próprio Missal Romano, em versão gregoriana e, de maneira geral, apropriada para corais que já conhecimento o funcionamento da melodia gregoriana.
Canta-se o que está no Gradual Simples (Graduale Simplex): a mesma antífona de entrada presente no Missal em versão gregoriana simplificada, uma solução razoavelmente importante para todos aqueles que gostariam de ver cantadas em suas celebrações o que pede o Missal e, ao mesmo tempo, em gregoriano sem precisar de grande experiência, técnica ou grandes corais.
Deixemos, de lado, a questão sobre a terceira opção e nos voltemos sobre a questão do estilo musical, porque algumas pessoas poderão colocar o argumento de que o canto gregoriano não é apto a liturgia paroquia. Diz-nos a Igreja, aplicando à todas as igrejas e celebrações do Rito Romano, quanto a ele (IGMR 41):
“Em igualdade de circunstâncias, dê-se a primazia ao canto gregoriano, como canto próprio da Liturgia romana.”
Ou seja, de maneira geral, o canto da Liturgia Romana é o gregoriano. Porém, aqui há uma outra questão: devemos entender que o canto gregoriano é algo difícil de se realizar no Brasil por vários motivos (há falta de cursos que o ensinam, resistência por parte de alguns, o problema da não aceitação do latim como parte integrante da liturgia… latina!) e, nesse casoacaba-se caindo a terceira opçãoO ideal, e desde já o colocamos, é que seja usado o gregoriano (e, para os puristas, até essa sem o órgão) seja ele em versão elaborada, como a presente no Graduale Romanum, ou simples, no Simplex.
Em igualdade de circunstâncias, dê-se a primazia ao canto gregoriano
Em igualdade de circunstâncias, dê-se a primazia ao canto gregoriano” (IGMR 41)
Canta-se outro canto apropriado: esse aqui é o ponto. Bastou que essa opção se fizesse presente no Missal e as duas opções o que foram colocadas anteriormente (e, consequentemente, estando mais próximos do que pede a Igreja, porque esses itens não estão em igualdade, mas hierarquizados em uma ordem do mais ao menos apropriado) foram esquecidas.
E, o pior, também esqueceu-se do que o segue. Ou seja, que o canto seja aprovado pelas autoridades competentes. E, ainda mais, quando há cantos aprovados pela autoridade competente, também esses são facilmente esquecidos. Querem um exemplo? Alguém conhece alguma paróquia que usa o “Hinário Litúrgico” feito pela CNBB exatamente como ele é proposto, naquela ordem? Eu realmente duvido disso. Assim, criamos um problema grave o “canto apropriado” não se torna o apropriado à Igreja Universal (que, no Rito Romano, de longe é a antífona de entrada), nem a própria diocese, nem a própria paróquia, mas a aquela missa e escolhido por aquele grupo de cantores que estarão “animando” a celebração.
Isso está correto? Se olharmos do ponto de vista da grande imagem, claramente perceberemos que não. O que a “Equipe de Canto” ou “Ministério de Música” pensa ser adequado pode, muitas vezes, passar longe do nosso conhecido “sentir com a Igreja” por diversos motivos, a começar pelo desejo de novidade que existe entre nossas pastorais. Assim, acaba-se por não se criar uma tradição de cantos, mas uma sequência de cantos variados que, de maneira alguma, espelha a universalidade da Igreja e, muito menos, a história daquela paróquia como parte da Igreja Local.
Assim, a visão micro, infelizmente, transformou-se por sobrepujar a universalidade da Igreja.Dessa forma, não se deve cantar na missa (colocando-se os gostos pessoais e, ao mesmo tempo, do seu grupo na celebração), mas a missa e essa, sempre, estará inserida dentro de um Tempo Litúrgico (e, por exemplo, um canto apropriado ao tempo do Advento nunca o será apropriado à Quaresma) e terá características que lhe são próprias. Se vislumbramos mudanças? Sim e, inclusive, se nos permitem,sugerimos algumas coisas:
  1. Sentir com a Igreja: de longe o mais importante ponto. Sem se sentir com a Igreja, ou seja, viver com amor o que ela pede e como pede, dificilmente conseguiremos dar a nossa celebração a dignidade e valor que ela realmente necessita. Assim, não basta apenas escolher os cantos, mas escolhê-los dentro de um contexto, seja ele o Tempo Litúrgico ou, por exemplo, o espirito daquela missa (no caso, por exemplo, de uma “missa ritual” ou “para diversas circunstâncias”). Igualmente, devemos procurar fazer valer em nossas comunidades também as antífonas, ou seja, cantar o que nos propõe a Igreja e não o que pensamos ser o melhor. De maneira geral, as antífonas são cantos bíblicos que, inclusive, ressoam de maneira muito melhor o espirito de cada celebração!
  2. Divulgar o canto gregoriano não como uma anomalia da liturgia, mas como parte integrante da Liturgia Romana. Assim, ainda que difícil, os grupos que sabem cantar gregoriano deveriam fazer a máxima divulgação e, como um ministério, ensinar a outros. Se isso acontecesse, com toda certeza, poderíamos ter a melodia gregoriana e a letra ideal para cada parte da Santa Missa!
  3. Começar pequeno: seu grupo de canto acha lindo que se cante qualquer coisa, menos o “Glória” oficial da Liturgia ou o “Santo” ou o “Cordeiro”? Seria bom a mudança começar daí. A Igreja proíbe que se troque a letra de qualquer canto do Ordinário, ou seja, o “Kyrie” (a não ser na versão tropada), “Glória”, “Santo” e “Cordeiro” (IGMR 53)! Quanto mais nós nos aproximarmos do que pede a Igreja no pequeno, conseguiremos fazer catequese e apostolado para as grandes coisas e, claro, as grandes mudanças.
"Olhem aqui, devemos cantar o canto conforme o Ordinário!"
“Olhem aqui, devemos cantar o canto conforme o Ordinário!”
Ainda que não sendo a coisa mais simples do mundo, podemos mudar e fazer que a qualidade de nossas celebrações mudem muito e para melhor! Só temos dois conselhos para isso: “sentir com a Igreja” e, em espírito de santa obediência, arregaçar as mangas!

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