Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos quatro Anjos a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao mar: «Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus». E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». Todos os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos. Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo: «Amen! A bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!». Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de onde vieram?». Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o sabeis». Ele disse-me: «São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro». ( Ap 7,2-4.9-14)
Santo é cada discípulo, esteja ele já com Cristo no céu ou viva ele ainda sobre esta terra.
Hoje é o dia em que celebramos a festa da família cristã. É o dia em que os homens tomam consciência do dom que o Pai lhes fez: em Cristo Deus tornou-os membros da sua família, comunicou-lhes o seu espírito, a sua santidade. A santidade é puro dom de Deus. Só Deus nos pode tornar santos.
Quando vemos tantos inocentes a sofrer, vítimas de violências, de injustiças, de traições, de enganos, procuramos desesperadamente um porquê e não o encontramos.
O livro do Apocalipse dedica quatro capítulos a este problema angustiante. O livro do Apocalipse diz que, no céu, encontra-se um livro no qual um anjo toma nota de todos os sofrimentos e de todas as lágrimas dos homens. Neste livro explica-se também o porquê de todas as coisas absurdas. Infelizmente, porém, o livro está fechado com sete selos que ninguém consegue quebrar. Todavia o livro que contém a resposta às nossas angustiantes perguntas não ficará fechado para sempre, o Cordeiro abrirá o livro e quebrará um a um os seus selos, ou seja, desvendará os mistérios da nossa existência.
O Trecho de hoje narra o que acontece depois de quebrado o sexto selo. Um anjo vem do Oriente trazendo na mão o selo de Deus vivo e imprime um sinal indelével sobre a fronte dos servos do Senhor. O seu número é de cento e quarenta e quatro mil. Trata-se de um número simbólico. Resulta da multiplicação de 12 por 12 por 1000 e indica a totalidade da comunidade cristã, ou seja a totalidade da comunidade dos santos na terra.
A comunidade cristã não é constituída por privilegiados, a comunidade cristã não é poupada às provações, às vicissitudes, às desventuras desta vida. A comunidade cristã é constituída por aqueles que assimilaram os pensamentos, os sentimentos e as escolhas de Deus. A comunidade cristã vê com os olhos de Deus a realidade deste mundo. As provações desta vida não os desencorajam, não os abatem, não os perturbam. A doença, a dor, a traição para eles não são derrotas. Para a comunidade cristã tudo isto são momentos de maturação e de crescimento. A morte não é um engano, mas um nascimento.
Depois desta primeira visão em que foi apresentada a comunidade dos santos sobre esta terra, aparece uma multidão imensa que ninguém pode contar, gente de todas as raças, línguas, povos e nações. Todos estes estão de pé diante do trono do Cordeiro, endossam vestes brancas e têm palmas nas mãos. O vestido branco é o símbolo da alegria e ada inocência, as palmas são o sinal da vitória.
Quem são? São a comunidade dos santos do Céu. São aqueles que neste mundo suportaram as tribulações e perseguições e deram a sua vida pelos irmãos como fez o Cordeiro. Foram considerados derrotados pelos homens, mas para Deus são vencedores. Os versículos que se seguem e que não constam da nossa leitura descrevem a sorte destes eleitos: «Nunca mais hão-de ter fome nem sede. O sol e o calor nunca mais lhes farão mal. É que o Cordeiro… será o seu pastor… e Deus enxugará para sempre as lágrimas dos seus olhos».
O trecho do Apocalipse abriu-nos uma fresta sobre o Céu, sobre o nosso destino final. Do céu filtra uma luz que ilumina os enigmas mais profundos que trazemos no coração: de onde venho, para onde vou, que sentido tem a alegria e a dor, a vida e a morte? E depois da morte?
À luz do céu compreendemos: a nossa vida é um suceder-se de saídas e entradas, guiadas não por um destino cego, mas pelo amor de um Pai.
Saímos do ventre materno para entrar neste mundo, saímos da infância para entrar na adolescência, deixamos a adolescência pela juventude, a juventude pela idade madura e a velhice. Depois vem o momento de deixar este mundo, ao qual talvez nos afeiçoamos a tal ponto que o consideramos definitivo, não queremos mais deixá-lo.
E, no entanto, neste mundo não podemos saciar a nossa imensa sede de vida. Se olharmos à nossa volta notamos em todo lado sinais de morte: doenças, ignorância, abandono, solidão, fragilidade, separação, fadiga, dor, traições, injustiças etc… Não pode ser este o mundo definitivo, é demasiado marcado pelo mal. Temos que sair novamente, é necessário empreender um novo êxodo e esta última saída assusta-nos. Também os três discípulos que sobre o monte Tabor ouviram Jesus falar do seu «êxodo» deste mundo para o Pai tiveram medo. «Curvaram-se até ao chão e tiveram muito medo. Mas Jesus aproximou-se deles e tocou-lhes, dizendo: Levantem-se! Não tenham medo!» (Mt 17, 6-7).
Se Jesus – antes de todos atravessou as águas da morte para entrar no reino do Pai – nos estende a sua mão, já não podemos ter medo. Com Ele saímos seguros deste mundo: sabemos que Ele nos introduz numa nova vida.