O EVANGELHO, assim como toda a Liturgia deste domingo (17/11/013), tem um sabor de perseguição à Igreja, que deverá se intensificar no fim dos tempos. Jesus olha o grande Templo e profetiza que vai ruir. Analogamente, não só o grandioso edifício vai desabar, mas também todo este mundo, esta realidade temporal, juntamente com aqueles que nele depositam a sua confiança. Antes, porém, que essas coisas aconteçam, nós, cristãos, seremos perseguidos (Lc 21,12).
Mas o mesmo Deus que profetiza a grande perseguição não seria capaz também de impedi-la? Não poderia evitar tanta tribulação para o seu povo? Por que Deus permite que sua amada Esposa, - a Igreja, - sofra tantas perseguições?
De fato, todo cristão fiel sofre e sofrerá. O Apóstolo S. Paulo chega a dizer que "todos aqueles que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" (2Tm 3,12). A perseguição é uma marca da Igreja. A contradição é que exatamente aí nos alegramos, ainda mais, por sermos católicos. Se a Igreja permanecer fiel, será perseguida. Este é um bom sinal!
Uma Igreja aplaudida pelo mundo é uma Igreja espiritualmente doente. Isso não quer dizer que a Igreja precisa ser suicida. - Jesus não foi um suicida. - Mas ela precisa saber aceitar a perseguição como cruz, e aceitá-la com alegria. O Senhor nos advertiu: “Lembrai-vos da palavra que vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós..." (Jo 15,20).
Esta é uma realidade que deve ser interpretada em chave cristológica, ou seja: estamos configurados a Cristo. Do mesmo modo como Deus Pai não ordenou aos seus anjos que salvassem Jesus do martírio, permitindo que seu próprio Filho padecesse pelo bem da humanidade, também a sua Igreja não será poupada, até que tenha cumprido integralmente a sua missão.
Porque o caminho para Deus é o caminho da Cruz?
A Cruz, na vida do cristão, não é exceção; é regra. Se não houver Cruz em sua vida, talvez seja preciso fazer um exame de consciência.O caminho da Igreja é o mesmo caminho trilhado por Cristo.
“A Igreja só entrará na Glória do Reino por meio desta derradeira Páscoa, em que seguirá seu Senhor em sua Morte e Ressurreição. Portanto, o Reino não se realizará por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal (...). O triunfo de Deus sobre a revolta do mal assumirá a forma do Juízo Final depois do derradeiro abalo cósmico deste mundo que passa” (CIC §677).
“A Igreja só entrará na Glória do Reino por meio desta derradeira Páscoa, em que seguirá seu Senhor em sua Morte e Ressurreição. Portanto, o Reino não se realizará por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal (...). O triunfo de Deus sobre a revolta do mal assumirá a forma do Juízo Final depois do derradeiro abalo cósmico deste mundo que passa” (CIC §677).
A perseguição, assim como a batalha contra o Dragão que persegue "a Mulher e sua descendência" (Ap 12) é parte integrante tanto da vida da Igreja, como um todo, como também é parte da vida de cada fiel católico, no seu cotidiano.
Por que Deus permite a perseguição? Entre outras coisas, porque é por meio da perseguição que se manifesta a virtude do justo. Se você ama verdadeiramente, se você escolhe o Caminho do verdadeiro Amor cristão, então você será perseguido, e é preciso saber aceitar e conviver com isso.
Existe na Igreja de hoje um certo método pastoral que pode ser considerado, no mínimo, ingênuo. Muitos bispos e padres andam dizendo mais ou menos o seguinte: “Vamos amar mais do que educar, vamos ajudar os pobres, mesmo aqueles que não querem ser ajudados. Vamos lutar pela justiça neste mundo, vamos deixar de pregar o Evangelho e de nos ocupar tanto com a salvação das almas para empenhar nossas forças na 'construção de um mundo melhor'. Assim, um dia, a sociedade verá que somos bonzinhos e deixará de nos perseguir”.
Existe na Igreja de hoje um certo método pastoral que pode ser considerado, no mínimo, ingênuo. Muitos bispos e padres andam dizendo mais ou menos o seguinte: “Vamos amar mais do que educar, vamos ajudar os pobres, mesmo aqueles que não querem ser ajudados. Vamos lutar pela justiça neste mundo, vamos deixar de pregar o Evangelho e de nos ocupar tanto com a salvação das almas para empenhar nossas forças na 'construção de um mundo melhor'. Assim, um dia, a sociedade verá que somos bonzinhos e deixará de nos perseguir”.
Isso não está funcionando e não vai funcionar. Muita gente anda se esquecendo do que aconteceu quando o próprio Amor se fez carne: o mundo o traiu e assassinou, e o fez porque é essa a lógica intrínseca do amor sem medidas: se amarmos incondicionalmente, seremos sim amados por alguns, mas inevitavelmente seremos perseguidos pelo mundo. O justo será perseguido pelo fato de ser justo. Diz assim o Livro da Sabedoria:
“Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a Lei e nos acusa de contrariar a nossa educação. Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor! Sua existência é uma censura às nossas ideias; basta a sua vista para nos importunar.” (Sb 2,12-14)
A própria existência do justo é suficiente para incomodar o mundo. Hoje, muitos, dentro da Igreja, dizem: “Vamos ficar quietinhos, vamos ser 'legais', não vamos criar polêmica, e eles vão nos tolerar. Não dificultemos as coisas e eles nos verão como amigos...”. - Infelizmente, isso não existe. Basta a existência do justo para incomodar o mundo. Basta seguir o Evangelho para importunar os servos do Maligno. Toda a Sagrada Escritura, especialmente os Salmos, está repleta dessa realidade, da perseguição aos justos, - e também de sua esperança de salvação por Deus.
“Sereis entregues até por vossos pais, vossos irmãos, vossos parentes e vossos amigos, e matarão muitos de vós. Sereis odiados por todos por causa do meu Nome. Entretanto, não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. É pela vossa constância que alcançareis a vossa salvação.” (Lc 21, 15-19)
Diz o seguinte a 1ª Carta do Apóstolo S. Pedro:
“Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se assim vos acontecesse alguma coisa extraordinária. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e exultar no dia em que for manifestada sua Glória. Se fordes ultrajados pelo Nome de Cristo, bem-aventurados sois vós, porque o Espírito de Glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vós. Que ninguém de vós sofra como homicida ou ladrão ou difamador ou cobiçador do alheio. Se, porém, padecer como cristão, não se envergonhe; pelo contrário, glorifique a Deus por ter este nome. Porque vem o momento em que se começará o Julgamento pela Casa de Deus.” (I Pd 4, 13-17)
Não vos perturbeis com a provação! Isso não é nada de extraordinário, pelo contrário, é o que se espera! Que alegria sermos perseguidos por amor a Cristo! Isto é um galardão, um troféu, uma honra! Cristo nos amou primeiro, e podermos demonstrar também o nosso amor por Ele é a maior das graças!
E não somos somente nós, cristãos, que sofremos. Continua a Escritura:
“Ora, se Ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus? E, se o justo se salva com dificuldade, que será do ímpio e do pecador? Assim também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem as suas almas ao Criador Fiel, praticando o bem.” (I Pd 17, 19)
Também os ímpios sofrem, mas a enorme diferença é que eles não têm esperança. E a coroação desta carta do primeiro Papa se dá no capítulo seguinte, quando nos garante: “Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós”. (I Pd 5, 7)
Assim, prezadíssimos irmãos, vejam a resposta que procuramos: por que Deus não faz cessar a perseguição? Porque é por ela que se manifesta a virtude do justo: o Amor. É por meio dela que podemos amar de volta a Quem tanto nos amou. - A ponto de entregar seu único Filho para que vivêssemos eternamente.
O verdadeiro discípulo de Cristo enfrenta a perseguição com uma tranquilidade e uma constância que o identifica como seguidor fiel. "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me" (Lc 9,23).
A boa notícia
Carregar a cruz, porém, não quer dizer que tenhamos que viver uma vida só de tristezas, somente de dores, de privações e provações. Ao contrário: significa aceitar tudo o que Deus nos envia, crendo firmemente que é para o nosso bem maior, e aceitá-lo com alegria, sabendo que a verdadeira felicidade é algo infinitamente maior do que ter os nossos caprichos atendidos todos os dias, algo infinitamente maior do que experimentar novas sensações e desfrutar de muitos pequenos prazeres fúteis a cada instante.
E a Cruz não é a última palavra para nós, não é o último estágio. A Páscoa é. Deus virá para nos redimir, para enxugar as nossas lágrimas, para fazer cessar os sofrimentos e as dores. Que alegria saber que suportamos até o fim, que elegemos Deus como o mais importante, como a “prioridade zero” de nossas vidas, e receberemos o prêmio final: a vida eterna. Satanás continuará fazendo de tudo para que cada um de nós se perca. Mas, se permanecermos firmes, ganharemos a Vida infalivelmente. "Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação" (Lc 21,28).
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** Baseado na homilia do 33º Domingo do Tempo Comum de Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr., disponível em audio em
http://padrepauloricardo.org/episodios/a-perseguicao-dos-justos