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Morte

A liberdade posta a prova
- Deus criou o homem à sua imagem e o constituiu em sua amizade.
- Criatura espiritual, o homem só pode viver esta amizade como livre submissão a Deus. É o que exprime a proibição, feita ao homem, de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, "pois, no dia em que dela comeres, terás de morrer" (Gn 2,17). "A árvore do conhecimento do bem e do mal" evoca simbolicamente o limite intransponível que o homem, como criatura, deve livremente reconhecer e respeitar com confiança:
  • O homem depende do Criador, está submetido às leis da criação e às normas morais que regem o uso da liberdade.

O primeiro pecado do homem
- O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem.
  • Todo pecado, daí em diante, será uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade.
- O homem preferiu a si mesmo a Deus, e com isso menosprezou a Deus:
  • optou por si mesmo contra Deus, contrariando as exigências de seu estado de criatura e consequentemente de seu próprio bem.
- Constituído em um estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente "divinizado" por Deus na glória.
  • Pela sedução do Diabo, quis "ser como Deus", mas "sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus".
- A Escritura mostra as conseqüências dramáticas desta primeira desobediência. Adão e Eva perdem a graça da santidade original.
- A harmonia, estabelecida graças à justiça original, está destruída:
  • o domínio das faculdades espirituais da alma sobre o corpo é rompido;
  • a união entre o homem e a mulher é submetida a tensões;
  • suas relações serão marcadas pela ambição e pela dominação.
- A harmonia com a criação está rompida:
  • a criação visível tornou-se para o homem estranha e hostil.
- Por causa do homem, a criação está submetida "à servidão da corrupção". - Finalmente, vai realizar-se a conseqüência explicitamente anunciada para o caso de desobediência:
  • o homem "voltará ao pó do qual é formado"
                                          A morte entra na história da humanidade.

O amor vem restaurar o amado
- Desfigurado pelo pecado e pela morte, o homem continua sendo "à imagem de Deus", mas é "privado da Glória de Deus", privado da "semelhança".
- A promessa feita a Abraão inaugura a Economia da salvação, no fim da qual o próprio Filho assumirá "a imagem" e a restaurará na "semelhança" com o Pai, restituindo-lhe a Glória, o Espírito "que dá a vida".

Morrer em Cristo
- Para ressuscitar com Cristo é preciso morrer com Cristo, é preciso "deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor". Nesta "partida" que é a morte, a alma é separada do corpo. Ela será reunida a seu corpo no dia da ressurreição dos mortos
- "É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto." Em certo sentido, a morte corporal é natural; mas para a fé ela é na realidade "salário do pecado". E, para os que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de poder participar também de sua Ressurreição.
A morte é o termo da vida terrestre.
- Nossas vidas são medidas pelo tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte aparece como o fim normal da vida. Este aspecto da morte marca nossas vidas com um caráter de urgência:
  • a lembrança de nossa mortalidade serve também para recordar-nos de que temos um tempo limitado para realizar nossa vida:
Lembra-te de teu Criador nos dias de tua mocidade antes que o pó volte à terra donde veio, e o sopro volte a Deus, que o concedeu (Ecl 12,1.7).

A morte é transformada por Cristo.
- Jesus, o Filho de Deus sofreu também Ele a morte, própria da condição humana. Todavia, apesar de seu pavor diante dela, assumiu-a em um ato de submissão total e livre à vontade de seu Pai:
  • A obediência de Jesus transformou a maldição da morte em bênção.
O sentido da morte cristã
- Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. "Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro" (Fl 1,21). "Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos"(2Tm 2,11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente "morto com Cristo", para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este "morrer com Cristo" e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor:
  • É bom para mim morrer em Cristo Jesus, melhor do que reinar até as extremidades da terra. É a Ele que procuro, Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que ressuscitou por nós. Meu nascimento aproxima-se. Deixai-me receber a pura luz; quando tiver chegado lá, serei homem. (Santo Inácio de Antioquia)
- Na morte, Deus chama o homem a si. É por isso que o cristão pode sentir, em relação à morte, um desejo semelhante ao de São Paulo: "O meu desejo é partir e ir estar com Cristo" (Fl 1,23); e pode transformar sua própria morte em um ato de obediência e de amor ao Pai, a exemplo de Cristo:
  • Meu desejo terrestre foi crucificado; há em mim uma água viva que murmura e que diz dentro de mim: "Vem para o Pai".(Santo Inácio...)
  • Quero ver a Deus, e para vê-lo é preciso morrer. (Santa Tereza)
  • Eu não morro, entro na vida. (Santa Terezinha Menino Jesus)
- Está claro aqui que o ‘desejo santo’ de voltar para a casa do Papai é diferente do ‘desejo de morrer’ por causa de nossas frustrações com pessoas, com o mundo ou com os problemas da vida, quem sabe a hora é somente o Papai.
- A visão cristã da morte é expressa de forma privilegiada na liturgia da Igreja:
  • Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.
- A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir seu destino último. Quando tiver terminado "o único curso de nossa vida terrestre", não voltaremos mais a outras vidas terrestres. "Os homens devem morrer uma só vez" (Hb 9,27):
  • Não existe "reencarnação" depois da morte.
- A Igreja nos encoraja à preparação da hora de nossa morte:
  • Orando: "Livra-nos, Senhor, de uma morte súbita e imprevista";
  • A pedir à Mãe de Deus que interceda por nós "na hora de nossa morte";
  • E a entregar-nos a São José, padroeiro da boa morte.
Em todas as tuas ações, em todos os teus pensamentos deverias comportar-te como se tivesses de morrer hoje. Se tua consciência estivesse tranqüila, não terias muito medo da morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte.
Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã?

CIC-Catecismo da Igreja Católica 396-400; 705; 1005-1014

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