Já faz tempo que nossos leitores vinham nos cobrando a publicação de um post explicando se podemos ou não bater palmas na missa. Sempre tivemos a nossa opinião pessoal sobre o assunto, mas preferimos não divulgá-la, pois nos faltava maior embasamento. Até que encontramos um vídeo em que São João XXIII pede aos fiéis que não batam palmas dentro do templo de Deus.
No vídeo, muito simpático e acolhedor, o Papa se mostra grato pelo carinho que o povo lhe dá. A Igreja está cheia de jovens, que o aclamam ardorosamente, com muitas palmas. Mas, como bom pai, o santo não deixa de fazer a devida correção fraterna:
“Estou muito satisfeito por estar aqui. Mas eu devo exprimir-lhes um desejo: que na igreja não gritem e não batam palmas, nem mesmo para saudar o Papa, porque Templum Dei Templum Dei (o templo de Deus é o templo de Deus). Agora, se vocês estão felizes em encontrar-me nesta bela igreja, imagine como o Papa não está feliz em ver seus filhos! Mas assim que ele vê seus filhos, eles batem as mãos na frente de sua face. E esse que está diante de vocês é o sucessor de São Pedro!”
- São João XXIII; 1963, Ostia, IV Domingo da Quaresma (tradução nossa)
Está bem claro que São João XXIII considerava falta de respeito bater palmas dentro do templo de Deus. É bom notar que era um Papa considerado por muitos como progressista, pois foi aquele que convocou o Concílio Vaticano II.
A igreja é um local sagrado de culto, de adoração, de oração, de recolhimento, de meditação. É ali que o sacrifício de Cristo na cruz é reapresentado a cada missa, para a salvação do mundo. Não é o lugar, portanto, para demonstrações efusivas de contentamento. É claro, há momentos em que o povo de Deus pode, sim extravasar sua alegria de modo festivo: lembremos, por exemplo, a chegada de Jesus em Jerusalém. Muitos O saudavam em altos brados, dizendo: “Bendito é Aquele que vem em nome do Senhor!”; outros corriam para acompanhar os passos do burrinho; as crianças saltitavam. Mas tudo tem hora e lugar.
A liturgia da Igreja permite aplausos para acolher um neobatizado e para demonstrar alegria após o consentimento dos noivos, no Ritual do Matrimônio, bem como na criação de novos cardeais e na posse de párocos. Entretanto, está havendo um grande abuso em nossos templos do uso das palmas. Arruma-se qualquer pretexto para aplaudir. Palmas para o aniversário de fulaninho, palmas para a Bíblia, palmas para tudo!
O que está no centro de todos os templos católicos? O ALTAR. E o que é o altar? É o lugar do SACRIFÍCIO de Cristo, e equivale equivale ao solo onde a cruz de Cristo foi fincada (saiba mais aqui). Tem sentido ficar gritando, saltitando ou batendo palmas diante do Calvário? Não, né… Da mesma forma, não devemos fazer tais coisas diante do santo altar.
É importante fazer uma ressalva: em algumas culturas, acompanhar a música com palmas é aceitável e digno (desde que o clima geral seja sereno e reverente, e não oba-oba). Isso é muito comum na África e no Brasil. No vídeo abaixo, vejam o belo exemplo de uma missa em Kuito (Angola). As pessoas estão vestidas com muita decência e estão bem compenetradas; não tem ninguém rodando a baiana nem requebrando, como nas lamentáveis “missas afro” aqui do Brasil!
Pausa para o momento “eu acho”. Eu acho que não devemos fazer um cavalo de batalha com essa questão. As palmas já fazem parte da rotina na maioria de nossas igrejas, e creio que isso não vai mudar. Boa parte do nosso clero não educou o povo a evitar as palmas; os que são contra, as toleram, para não melindrar o sentimento das pessoas; os que são a favor, as incentivam ainda mais, achando que assim a missa ficará mais atraente.
Antes bater palmas do que entrar na igreja montado na garupa de uma moto…
Antes bater palmas do que fazer da casa de Deus um circo…
Se os aplausos na igreja causaram desgosto a São João XXIII, que diria ele se visse essas atrocidades? Diante de tanta bizarrice, bater palmas, dos males, é o menor.