Pular para o conteúdo principal

A Lumen Gentium

Côn. Henrique Soares da Costa


            Prometi apresentar brevemente os principais documentos do Concílio Vaticano II. Pois bem, vamos tratar agora da Lumen Gentium (Luz dos Povos), o documento do Concílio sobre a Igreja.
            A primeira coisa importante: a luz dos povos não é a Igreja, mas Cristo. É o que afirma logo a primeira frase do nosso documento: “Sendo Cristo a luz dos povos, este Sagrado Concílio, congregado no Espírito Santo, deseja ardentemente que a luz de Cristo, refletida na face da Igreja ilumine todos os homens, anunciando o Evangelho a toda criatura” (LG 1). Cristo é a luz, o sol; a Igreja é como a lua: só ilumina se refletir na treva do mundo a luz do sol, a luz de Cristo. Assim, quando a Igreja fala dela mesma, não é para ficar preocupada consigo própria, mas para melhor viver, testemunhar e anunciar Jesus Cristo, nosso único caminho, nossa única salvação.
            Outro aspecto importante. O Concílio contempla a Igreja primeiramente como mistério, isto é, como parte do plano eterno de Deus para a salvação da humanidade. Assim: “Aos que acreditam em Cristo, (o Pai) quis convocá-los na santa Igreja, a qual, já prefigurada desde a origem do mundo e preparada admiravelmente na história do povo de Israel e na antiga aliança, e instituída nos últimos tempos (por Jesus Cristo), foi manifestada pela efusão do Espírito Santo (em Pentecostes) e será consumada em glória no fim dos séculos” (LG 2). A Igreja é, portanto, parte do plano de salvação de Deus. Ela não é nossa, é de Deus. Sua missão é ser o lugar, o espaço, a comunidade onde a humanidade pode encontrar Deus em Jesus Cristo e ser santificada no seu Espírito Santo. Por isso a Igreja, preparada pelo Pai, fundada pelo Filho e continuamente santificada pelo Espírito, é semente do Reino de Deus que nela já atua misteriosamente (cf. LG 3). É na Igreja que se experimenta de modo mais intenso o Reino trazido por Jesus!
            Essa Igreja fundada por Cristo está continuamente unida a ele, como o corpo à cabeça. Cristo, pela ação do Espírito presente nos sacramentos, a santifica, a sustenta, a vivifica (cf. LG 7). Mas, onde se encontra a Igreja de Cristo? “Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste (permanece toda inteira) na Igreja católica governada pelo Sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele ainda que fora do seu corpo se encontrem realmente vários elementos de santificação e de verdade” (LG 8).
            O Concílio privilegia uma imagem para descrever a Igreja: o Povo de Deus. Dedica todo um capítulo a essa descrição. Dizer que a Igreja é Povo de Deus é recordar que nela se cumpre tudo quanto Deus havia preparado em Israel, é também afirmar que esse povo é caminheiro, peregrino neste mundo e, portanto, sempre necessitado de conversão. A pátria deste povo é o céu (cf. LG 9). Significa também afirmar que, neste povo, todos têm uma mesma dignidade, conferida pelo Batismo. Mais que ser padre, freira, papa, bispo... o importante é ser cristão! Tudo o mais decorre daí. Assim, todo batizado é membro do povo sacerdotal que, unido a Cristo se oferece ao Pai pela humanidade e procura construir o Reino de Deus enquanto caminha no mundo (LG 10-13). Este povo de Deus é um povo que estar no mundo a serviço da salvação de toda a humanidade. A Igreja não existe para si mesma, mas para levar Cristo, Luz dos povos, a todos os homens. Por isso, todos os membros do Povo de Deus têm responsabilidade na ação missionária da Igreja. Mas, quem são os membros desse povo? Somente os batizados em Cristo Jesus. É muito importante deixar claro que “povo” aqui é o povo dos batizados, independente de classe social, raça, cultura ou modo de pensar. Então, o Povo de Deus é a Igreja nascida da Trindade Santa, peregrina neste mundo, testemunha e construtora do Reino trazido e anunciado pelo Senhor Jesus na potência do Espírito, e peregrina rumo à Pátria.

            Depois de deixar claro que todo cristão é membro do Povo de Deus, o Concílio olha os dois grandes grupos presentes neste povo: os cristãos leigos e os cristãos ordenados para o ministério (Bispos, padres e diáconos). Aí, afirma que os Bispos são sucessores dos Apóstolos, em comunhão com o Papa, Sucessor de Pedro. Eles têm a autoridade para pastorear, ensinar e santificar em nome de Cristo. Afirma-se também que os padres são colaboradores dos Bispos e que os diáconos são servidores da comunidade, auxiliando o Bispo e os padres no seu ministério (LG 18-29). Os Bispos são verdadeiros representantes de Cristo na sua Igreja diocesana, a qual pastoreiam com a cooperação de seus padres. Ali ele edifica, no Espírito Santo, a Igreja, pela pregação da Palavra de Deus de acordo com a Tradição católica e apostólica, e também pela celebração dos santos sacramentos, pelos quais Cristo age e santifica o seu rebanho. Depois o Documento detém mais uma vez no papel do leigo para mostrar que eles, como membros do Povo de Deus, participam da missão de Cristo, já que receberam a unção no Batismo e na Crisma e são alimentados pela Eucaristia. Os leigos têm a missão profética de anunciar o Cristo Jesus e testemunhá-lo diante do mundo (cf. LG 30-38).
            Depois a Lumen Gentium recorda que todos na Igreja são chamados à santidade, isto é, a uma vida de profunda comunhão com o Senhor. Este é o maior testemunho e a maior obra da Igreja! (cf. LG 39-42). Depois o Documento trata de um carisma que, no meio do Povo de Deus, de vê ser especial sinal dessa santidade: a vida religiosa (cf. LG 43- 47).
            Sendo Povo de Deus peregrino, a Igreja nunca pode esquecer que sua pátria é o céu e é para lá que ela deve conduzir a humanidade toda. Por isso mesmo ela tem um papel importantíssimo neste mundo, que ninguém, a não ser ela, pode realizar: ser sinal do Reino que está para acontecer plenamente na glória. A Igreja deve despertar nos homens a saudade do céu e a fidelidade ao Cristo na terra! Por isso, tudo quanto de bom os homens construírem, tem a aprovação e solidariedade da Igreja... mas ela sabe, que a plenitude do Reino somente se dará na Glória (cf. LG 48-51)!
            Finalmente, o Documento termina por contemplar a Virgem Maria como modelo de cristã e modelo da Igreja. Membro mais belo da Igreja, ela já nos espera na Glória, como sinal daquilo que todos nós seremos e a Igreja toda será em Cristo Jesus (cf. LG 52-69).
            Leia a Lumen Gentium. Será uma fonte de conhecimento e amor à Igreja!

Postagens mais visitadas deste blog

Símbolos e Significados

A palavra "símbolo" é derivada do grego antigo  symballein , que significa agregar. Seu uso figurado originou-se no costume de quebrar um bloco de argila para marcar o término de um contrato ou acordo: cada parte do acordo ficaria com um dos pedaços e, assim, quando juntassem os pedaços novamente, eles poderiam se encaixar como um quebra-cabeça. Os pedaços, cada um identificando uma das pessoas envolvidas, eram conhecidos como  symbola.  Portanto, um símbolo não representa somente algo, mas também sugere "algo" que está faltando, uma parte invisível que é necessário para alcançar a conclusão ou a totalidade. Consciente ou inconscientemente, o símbolo carrega o sentido de unir as coisas para criar algo mair do que a soma das partes, como nuanças de significado que resultam em uma ideia complexa. Longe de objetivar ser apologética, a seguinte relação de símbolos tem por objetivo apenas demonstrar o significado de cada um para a cultura ou religião que os adotou.

Como se constrói uma farsa?

26 de maio de 2013, a França produziu um dos acontecimentos mais emblemáticos e históricos deste século. Pacificamente, milhares de franceses, mais de um milhão, segundo os organizadores, marcharam pelas ruas da capital em defesa da família e do casamento. Jovens, crianças, idosos, homens e mulheres, famílias inteiras, caminharam sob um clima amistoso, contrariando os "conselhos" do ministro do interior, Manuel Valls[1]. Voltando no tempo, lá no já longínquo agosto de 2012, e comparando a situação de então com o que se viu ontem, podemos afirmar, sem dúvida nenhuma, que a França despertou, acordou de sua letargia.  E o que provocou este despertar? Com a vitória do socialista François Hollande para a presidência, foi colocada em implementação por sua ministra da Justiça, Christiane Taubira,  a guardiã dos selos, como se diz na França, uma "mudança de civilização"[2], que tem como norte a destruição dos últimos resquícios das tradições qu

Pai Nosso explicado

Pai Nosso - Um dia, em certo lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar como João ensinou a seus discípulos”. È em resposta a este pedido que o Senhor confia a seus discípulos e à sua Igreja a oração cristã fundamental, o  Pai-Nosso. Pai Nosso que estais no céu... - Se rezamos verdadeiramente ao  "Nosso Pai" , saímos do individualismo, pois o Amor que acolhemos nos liberta  (do individualismo).  O  "nosso"  do início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade, nossas divisões e oposições devem ser superadas. É com razão que estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca. Os sete pedidos - Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo