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O QUE SÃO OS EVANGELHOS?

Pe. Henrique Soares da Costa 1 – Visão geral do Evangelho
a) O que são os evangelhos?
Para compreender bem os evangelhos é muito importante ter em mente que eles não são a história da vida de Jesus; não estão preocupados em contar fatos da vida humana de Jesus de Nazaré: não dizem qual o seu aspecto físico, como se vestia, o que comia, como foi educado... Os evangelhos têm somente uma intenção: mostrar que ele é o Cristo de Deus, o Messias de Israel que por nós morreu e ressuscitou, de modo que aquele que crer no seu nome, receber o Batismo por parte da Igreja e, fazendo parte da Comunidade de Jesus (que é a Igreja), alimentar-se da Eucaristia, tem a vida eterna em nome de Jesus.
Assim, os evangelhos não são a narração neutra, imparcial como um documento histórico, mas são relatos escritos por cristãos e para cristãos que acreditavam em Jesus e queriam que as pessoas, lendo esses relatos, tivessem fé no Senhor. Isto aparece muito claro no final do Evangelho de João: “Jesus fez, diante de seus discípulos, muitos outros sinais ainda, que não se acham escritos neste livro. Esses, porém, foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo (= o Messias), o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20,30-31). Portanto é bobagem fazer algumas perguntas como: o que Jesus fez entre os doze e os trinta anos? Como era a sua vida de família? Qual era o seu aspecto físico? Como foi que Maria conheceu e casou com José? – os evangelhos nem de longe se preocupam com isso: eles somente estão interessados em nos fazer compreender uma coisa: Cristo morto e ressuscitado é o Senhor e nele nós temos a salvação se nele acreditarmos!
b) Como surgiram os evangelhos?
Hoje temos quatro evangelhos bem arrumadinhos na nossa Bíblia. Mas o seu nascimento não foi simples nem fácil. Jesus morreu no dia 7 e ressuscitou no dia 9 de abril do ano 30 da nossa era; pois bem, ele não mandou escrever nada: “Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo” (Mc 16,15-16). Então, a Igreja nascente proclamou o Evangelho, batizou, celebrou a Eucaristia (chamada no Novo Testamento de “fração do pão”)... e tudo isso sem existir ainda o Novo Testamento. A Igreja de Cristo, a Igreja católica, vem antes da Bíblia: os apóstolos não andavam com a Bíblia debaixo do braço... ainda não havia Novo Testamento.... e já havia Igreja católica!
Se não havia os quatro evangelhos, que Evangelho os Apóstolos pregavam? O Evangelho (= Boa Notícia) é um só: Cristo morreu e ressuscitou para nos salvar! O Pai ressuscitou Jesus e derramou sobre ele o Santo Espírito e quem crer no nome de Jesus recebe este Espírito para a remissão dos pecados e tem a vida eterna! Um bom resumo desse Evangelho está em 1Cor 15,1-8! O Evangelho não é um livro escrito, mas uma boa notícia, uma novidade alegre de salvação, que Cristo entregou à sua Igreja, chefiada por Pedro e os Doze!
Contudo, à medida que os Apóstolos iam pregando, as várias comunidades cristãs (no Novo Testamento tais comunidades são chamadas de “igrejas”) iam colocando por escrito alguma coisa sobre Jesus, de modo que foram aparecendo pequenas apostilas... umas com alguns milagres de Jesus, outras com algumas curas, outras com seus discursos ou pequenas frases soltas... Pois bem, o primeiro que reuniu uma parte deste material e arrumou tudo num “evangelho” escrito foi São Marcos, lá pelo ano 63 – portanto, 33 anos após a morte e ressurreição de Jesus! Depois surgiram os outros evangelhos. Estes evangelhos nem sempre foram escritos por um apóstolo. Quando trazem o nome do apóstolo é porque foram escritos com base na sua pregação, na pregação apostólica. Um exemplo disso está no final do evangelho de João: “Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e foi quem as escreveu; e sabemos que seu testemunho é verdadeiro (Jo 21,24). Vejamos: quem é o discípulo que dá testemunho? É João, o Discípulo Amado; e quem são as pessoas que sabem (“sabemos”, diz o texto!) que o testemunho de João é verdadeiro? Sãos os cristãos das comunidades fundadas por João, que escreveram a sua pregação e a colocaram por escrito! São eles os autores do Quarto Evangelho!
Mais uma coisa interessante: não foram escritos somente quatro evangelhos, mas muito mais de dez.... Por exemplo: o Proto-Evangelho de Tiago, o Evangelho de Pedro, o Evangelho dos Doze Apóstolos, o Evangelho aos Hebreus.... e muitos outros! Diante desta confusão toda, como saber quais eram os escritos inspirados? Foi a Igreja – a Igreja católica! – quem decidiu, com a assistência do Santo Espírito (cf. Mt 28,20; Jo 14,25-26; At 15,28) quais daqueles livros e cartas eram inspirados!
Foi assim que surgiram nossos quatro evangelhos atuais. Naquele tempo eles não eram chamados de “evangelhos”, mas sim de “Memórias dos Apóstolos”, porque traziam por escrito não um relato jornalístico sobre a vida de Jesus, mas o miolo da pregação apostólica. São Justino, que viveu no século II, escreveu assim, lá pelo ano 150, contando como se celebrava a Missa: “No dia que se chama do sol (era o modo dos pagãos chamarem o domingo) celebra-se a reunião dos que moram nas cidades ou nos campos e ali se lêem, quanto o tempo permite, as Memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas (quer dizer, o Antigo Testamento)”. Somente no final do século II e início do século III, estes quatros escritos passaram a se chamar “evangelhos” (no plural). Então, pregar o Evangelho é muito mais do que ler e explicar os quatro evangelhos!
c) O Evangelho de Mateus
O Evangelho segundo Mateus não é o mais antigo: enquanto Marcos foi escrito em 63, Mateus somente foi escrito lá pelos anos 80 – quase vinte anos depois de Marcos! Não sabemos quem é seu autor. A Tradição da Igreja o atribui a Mateus, significando que este evangelho é um eco fiel da pregação apostólica. Sabemos com certeza que ele foi escrito para os cristãos que se converteram do judaísmo, cristãos de raça israelita. Isto é fácil de perceber pela quantidade de vezes que Mateus cita o Antigo Testamento. Muitas vezes ele vai dizer: “Isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura”... Ora, somente os judeus conheciam a Escritura, quer dizer, o Antigo Testamento! Outra coisa: quando Mateus fala dos costumes dos judeus nunca precisa explicá-los... por que? Porque estava escrevendo para judeus que conheciam muito bem tais costumes.
Quando Mateus escreveu o seu evangelho, que imagem de Jesus ele quis mostrar? Para ele, Jesus é:
- o novo Moisés. Uma tal idéia aparece até mesmo no modo como Mateus arruma seu evangelho: ele o divide em cinco partes para recordar os cinco livros da Lei de Moisés. Muitas vezes Jesus vai ser apresentado sobre o monte, como Moisés no Monte Sinai. A narrativa da infância de Jesus, Mateus a escreve copiando muita coisa daquilo que os judeus contavam sobre a infância de Moisés (coisas que não estão na Bíblia!).
- ele é também o Filho de Deus, nascido por obra do próprio Deus. Ele é aquele que vem realizar as promessas a Abraão e a Israel. Por isso mesmo Mateus faz questão de afirmar que Jesus descende de Abraão: “Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1).
- ele é o novo Davi, o verdadeiro Davi prometido pelos profetas, o Messias (= o Ungido) verdadeiro, rei de Israel. Por isso mesmo Mateus faz questão de mostrar na sua genealogia (cf. Mt 1,1-17) que Jesus descende do rei Davi.
- finalmente, para Mateus Jesus é o Deus mesmo conosco. Ele não é um simples profeta, não é um simples mensageiro: ele é Deus mesmo que vem visitar e habitar com o seu povo. Isso aparece no início e no fim do evangelho (cf. Mt 1,23 e Mt 28,20).
Outra coisa importante: para Mateus, o tema central da pregação e missão de Jesus é o anúncio e instauração do Reino dos Céus. Em outras palavras: Jesus é aquele que anuncia e torna presente o Reino dos Céus, o Reino de Deus que o Antigo Testamento tanto tinha prometido!
d) O esquema do Evangelho de Mateus
A - Evangelho da Infância (Mt 1 – 2)
B – A promulgação do Reino dos Céus (Parte I) ( Mt 3 – 7) - A
C – A pregação do Reino dos Céus (Parte II) (Mt 8 – 10) - B
D – O mistério do Reino dos Céus (Parte III) (Mt 11 – 13,52) - C
E – A Igreja, primícias do Reino dos Céus (Parte IV) (Mt 13,53 – 18) – B1
F – O advento próximo do Reino dos Céus (Parte V) (Mt 19 – 25) – A1
G – A paixão e a ressurreição (Mt 26 – 28)
Algumas observações sobre o esquema:
Se olharmos com atenção o evangelho foi esquematizado em cinco partes, comparando com os cinco livros de Moisés. A parte mais importante das cinco é a do meio: assim: A, B, C, B1, A1.
Cada uma das cinco partes é composta de um bloco de narrativas e de um discurso. Assim, em Mateus, Jesus, novo Moisés, faz cinco discursos: o Discurso da Montanha, o Discurso da Missão, o Discurso das Parábolas, o Discurso sobre a Igreja e o Discurso Escatológico.
Além das cinco partes, Mateus coloca uma introdução (as narrativas da infância de Jesus) e uma conclusão (a Páscoa do Senhor), que é, sem dúvida, o ponto alto do evangelho. Em todos os quatro evangelhos tudo que se escreve é preparação para mostrar que o Senhor morto e ressuscitado é o nosso Salvador.
2 - O Evangelho da infância segundo Mateus (Mt 1 – 2)
Trata-se de um midraxe (um modo de contar uma história próprio dos judeus) no qual Jesus é apresentado como o novo Moisés. Para isso Mateus usa as histórias que os rabinos contavam sobre o pequeno Moisés: faraó soube que nasceria um menino judeu que iria libertar o povo e manda matar todas as crianças judias; os pais de Moisés eram santos e piedosos e um anjo anunciou-lhes que seu filho iria libertar Israel, etc.
Mateus deseja mostrar também que Jesus que é aquele que refaz o caminho de Israel, chamado do Egito (Mt 1 – 2). Ele é o fruto maduro e santo de Israel, que vai passar a limpo a história do seu povo. Portanto, a intenção do Evangelista é apresentar Jesus como aquele prometido pelas Escrituras de Israel, o Profeta, prometido desde os tempos de Moisés.
Mas ele é mais que Moisés: é o Filho de Deus, o Emanuel, Filho de Davi! Por isso Mateus narra a origem humana de Jesus: se por um lado ele vem de Abraão e de Davi, por outro, ele vem diretamente de Deus (daí Mateus contar a concepção virginal). Ele é o Emanuel, o próprio Deus no meio do seu povo!
3 - Estudo da parte III: O mistério do Reino dos Céus (Mt 11 – 13,51)
a) A parte narrativa (11,1 – 12,50)
Este é o tema central do Evangelho de Mateus: o Reino do céus que Jesus veio trazer. Mateus começa narrando várias cenas e palavras de Jesus: “Jesus partiu para pregar e ensinar nas cidades deles” (11,1):
Ele manda dizer ao Batista que é o Messias que traz o Reino (11,1-15)
Diante dele é preciso decidir-se e isto vai ser decisivo para o destino eterno de cada um (11,16-24)
Somente quem for simples pode acolher o Reino que ele traz e aceitá-lo como Messias (11,25-30)
Como Messias, ele é o Senhor do sábado (Mt 12,1-14)
Mas vai implantar o Reino como o Servo sofredor predito por Isaías (12,15-21)
Trazendo o Reino dos Céus, ele expulsa o reino de Satanás ((12,22-37)
Por tudo isso não se pode ficar indiferente diante de Jesus: é preciso fazer parte da nova família que ele vem fundar (a Igreja) (12,43-50)
O sinal definitivo da presença do Reino será a Ressurreição (12,38-42).
b) O Discurso das Parábolas (13,1–52)
Mas é sobretudo no Discurso das Parábolas que Jesus apresenta o mistério do Reino dos Céus. Mateus reúne sete parábolas (sete é o número da perfeição, da plenitude): Jesus se senta num barco (é a posição própria do mestre, de quem está na “cadeira de Moisés”) e aí apresenta o Reino:
É como o semeador que lança a semente (13,1-23)
É como um campo de trigo no qual cresce o joio (13,24-30)
É como um grão de mostarda (13,31-32)
É como o fermento que leveda a massa (13,33)
É como um tesouro de grande valor (13,44)
É como uma pérola preciosa (13,45-46)
É como uma rede jogada no mar (13,47-50)
4 – Estudo da parte I: A promulgação do Reino dos Céus (Mt 3 – 7)
Nesta primeira parte (A) do corpo do evangelho de Mateus, o evangelista que apresentar a promulgação, quer dizer, o decreto do Reino do Céus: quais são suas leis, seus valores, suas características.
a) A parte narrativa (3,1 – 4,25)
O Batista prepara a chegada do Messias que vai trazer o Reino (3,1-12)
Jesus aparece e é batizado e é ungido com o Espírito como Messias-Servo sofredor (3,13-17)
O Espírito leva Jesus para ser provado no deserto (4,1-11)
Jesus volta para sua terra e começa a anunciar o Reino, convidando à conversão (4,12-17)
Em vista do Reino e da Igreja, ele começa a escolher seus discípulos (4,18-22)
Jesus ensina e cura, como sinal da chegada do Reino que destrói o reino de Satanás (4,23-25)
b) O Discurso da Montanha (5,1 – 7,29)
Jesus senta-se (como Moisés na sua cátedra) no Monte (como Moisés no Sinai); aí ele vai promulgar a Lei do Reino dos Céus: é uma lei toda interior, feita de bondade, sinceridade, misericórdia, confiança em Deus e total abandono nas suas mãos. Quem aceitar o Reino que Jesus trouxe, constrói a casa de sua vida sobre a rocha. Neste discurso, que começa com as bem-aventuranças, Jesus quer ensinar:
O espírito que deve animar os filhos do Reino (5,3-48) = a benignidade
O espírito com o qual eles devem cumprir as leis religiosas (6,1-18) = a sinceridade interior
O desprendimento das riquezas (6,19-34)
As relações com o próximo (7,1-12) = a bondade
A necessidade de entrar no Reino por uma decisão que transforme a vida (7,13-27) = a radicalidade sincera
5 – Estudo da Parte V: O advento próximo do Reino dos Céus (Mt 19 - 25)
Esta parte (A1) está ligada à parte I (A): o Reino dos Céus que Jesus promulgou no início de sua pregação, ele agora vai realizá-lo efetivamente: com ele o Reino virá em plenitude!
a) Parte narrativa (19,1 – 23,39)
No primeiro bloco desta parte Mateus procura apresentar palavras e gestos de Jesus que mostram o quanto o Reino é exigente: a questão do divórcio (19,1-9), o celibato (19,10-12), a necessidade de ser como as crianças (19,13-15), a necessidade de deixar tudo pelo Reino (19,16-30), a necessidade de fazer tudo isso por amor de Deus e não por interesse mesquinho (20,1-16), a necessidade de estar com Jesus na sua provação, seguindo-o sempre (20,17-34). Outro tema importante é a polêmica de Jesus com Israel que, recusando Jesus recusa o Reino e se tornará estéril (21 – 22). Finalmente, Jesus censura os escribas e fariseus que se sentaram “na cátedra de Moisés” (23,2), cátedra que é de Jesus! Aí Jesus lança-lhes oito “ais”, em contraposição às oito bem-aventuranças: a mensagem é clara: diante do Reino, é necessário escolher entre a bênção e a maldição. Jesus faz o que Moisés fez com Israel (cf. Dt 28,1-46; 11,29; Js 8,32-35).
b) O Discurso Escatológico (24,1 – 25,46)
Neste belíssimo Discurso Mateus usa o estilo apocalíptico, isto é, fala do aparição final do Reino usando imagens fortes como num quadro pintado com tintas bem berrantes, para chamar atenção! Só entende bem este discurso quem entender sua linguagem simbólica, cheia de imagens muito usadas na época de Jesus. É importante observar que aqui Mateus mistura dois tipos de palavras de Jesus: um sobre a destruição de Jerusalém e outro sobre o fim dos tempos: a destruição de Jerusalém, que acontecerá logo [“esta geração não passará sem que tudo isso aconteça” (24,34)] é um sinal, um prenúncio do final dos tempos, que acontecerá “numa hora em que não pensais” (24,44), pois “daquele Dia e da Hora, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas só o Pai” (24,36).
Para compreender este discurso, eis algumas observações importantes:
• Quando Jesus fala em revoluções, dores (= fenômenos históricos) e sinais na natureza (fenômenos cósmicos) é para dizer que o Reino vai transformar e purificar a história humana e toda a criação: nada deixará de ser confrontado com o Reino dos Céus!
• O que realmente interessa a Jesus é o apelo à vigilância: contra os falsos profetas e falsos messias (24,4-5), contra a apostasia e o esfriamento da fé (24,9-14.37-44). Jesus previne que o caminho não é fácil, mas quem perseverar será salvo (24,13)! As quatro parábolas que Mateus coloca neste Discurso mostram bem isto:
A parábola da figueira (24,32-36): necessidade de estar atentos aos sinais do Reino
A parábola do mordomo (24,45-51): necessidade da fidelidade esperançosa
A parábola das virgens (25,1-12): necessidade de vigiar
A parábola dos talentos (25,14-30): necessidade de trabalhar pelo Reino
Tudo isto se completa no quadro impressionante do último julgamento: nossa atitude diante de Jesus e de seu Reino decidirão nossa sorte eterna. Mas nossa atitude diante de Jesus passa por nosso comportamento em relação aos irmãos (25,31-46)!
6 – Estudo da parte II: A pregação do Reino dos céus (Mt 8 – 10)
Nesta parte Mateus reúne muito de quanto Jesus fez e disse sobre a missão de anunciar o Reino.
a) Parte narrativa (8,1 – 9,38)
Aqui Mateus deseja mostrar o que deve fazer e como deve agir e sentir aquele que é ministro do Reino. O modelo de pregação é o próprio Jesus: ele é compassivo com o leproso e a hemorroíssa, aberto a todos, como foi ao centurião e ao pecador Mateus, ele tem pena de todos: não é frio, legalista, indiferente e distante! O evangelista apresenta uma série de dez milagres, apresentando-os, portanto, como sinais que acompanharão a pregação do Reino – é este o sentido dos milagres nos evangelhos: são sinais!
b) O Discurso sobe a Missão (10,1-42)
Jesus chama os Doze e os envia: deles nascerá a Igreja! O que Jesus diz aos Apóstolos vale para os seus sucessores em todos os tempos; vale até mesmo para cada cristão, discípulo de Jesus:
• eles devem pregar a todos e a todos levar a paz do Reino (aqui Jesus manda pregar somente a Israel (10,5-7); depois da ressurreição mandará a todo o mundo (28,19-20). Todos serão julgados pela atitude diante dos enviados de Jesus (10,5-16)
• os missionários serão sinal de contradição, como Jesus (10,17-25)
• não devem ser covardes nem medrosos (10,26-33)
• se Jesus é sinal de contradição, os discípulos também o serão e deverão segui-lo nisso (10,34-39)
• onde estiver um anunciador do Reino, aí estará o próprio Jesus (10,40-42)
7 – Estudo da parte IV: A Igreja, primícias dos Reino dos céus (Mt 13,53 – 18)
Mateus liga esta parte IV (B1) à parte II (B). A pregação dos Apóstolos dá origem à Igreja, início do Reino dos Céus: na Igreja o Reino já se faz presente como uma semente que um dia dará fruto!
a) Parte narrativa
Aqui Mateus reúne um material muito diverso, mas sempre em relação com a Igreja:
• Jesus é rejeitado em Nazaré: ele formará uma nova Pátria, um novo Povo, a Igreja (13,53-58)
• destino de João Batista já indica qual será o destino que o antigo Povo dará a Jesus (14,1-12)
• As multiplicações dos pães mostra Jesus, novo Moisés, que alimentará com o novo maná (a Eucaristia) o novo Israel (14,13-21; 32-39): os dois milagres mostram que a Igreja reunirá judeus e pagãos
• Aparece também o papel de Pedro: caminha sobre as águas e é feito pedra da Igreja (14,22-34;16,13-20; 17,24-27
• Jesus realiza cura para os pagãos prenunciando a missão da Igreja e a conversão dos pagãos, que serão o novo Israel (14,34-36; 15,21-28)
• Jesus reprova as tradições do antigo povo, incrédulo e cheio do velho fermento (15,1-20; 16,1-13).
• Jesus anuncia sua paixão e convida a segui-lo: a Igreja deverá sempre responder este convite (16,21-28; 17,22-23)
• Jesus convida seus discípulos à viver na fé (17,14-20)
• Jesus se transfigura: ele é aquele de quem o Antigo Testamento (Moisés e Elias) tinha falado: a Igreja deverá sempre ouvi-lo! Ele morrerá, mas venceu! (17,1-8)
b) O Discurso sobre a Igreja
Aqui Mateus reúne várias palavras de Jesus sobre a vida da Comunidade: a Igreja deve ser como Jesus sonhou para ser sinal do Reino dos Céus!
• Na Igreja, é maior quem serve mais (18,1-4)
• Deve-se evitar o escândalo, sobretudo por causa dos fracos na fé, que podem se desgarrar; os pastores devem preocupar-se com estes (18,5-14)
• Na comunidade deve haver a correção fraterna (18,15-180
• Deve-se rezar em comum e perdoar-se mutuamente (19-35)
8 – Conclusão do Evangelho: A paixão e ressurreição do Senhor
Cada evangelho tem seu ponto alto na Páscoa do Senhor. Por isso mesmo cada evangelista apresenta de modo orante e contemplativo aqueles acontecimentos que marcam a salvação que Deus nos deu por Jesus. Os evangelhos não narram um fato cru: eles interpretam, querem mostrar o que está por trás dos acontecimentos à primeira vista absurdos e sem sentido!
No seu relato da paixão, morte e ressurreição, Mateus deseja mostrar que as Escrituras judaicas são plenamente cumpridas e o Reino dos Céus instaurado (26,29)... tanto que os pecados são perdoados (26,28), a nova aliança é selada (26,27-28) a morte é vencida, os mortos saem dos túmulos e podem entrar com o Messias na Jerusalém Celeste (27,51-54). A Páscoa judaica vai ser cumprida na Páscoa de Jesus (26,1-2) e o templo de Jerusalém e o antigo culto da antiga aliança perde o seu sentido (27,51). Tudo culmina na Ressurreição, “após o Sábado, ao raiar do Primeiro Dia” (28,1), dia novo do novo Reino; dia da alegria (28,9). Mas somente pode participar da alegria de ver o Ressuscitado quem estiver disposto a caminhar, a ir para a Galiléia para começar a missão de anunciar o Reino (28,7).
Mateus encerra o seu evangelho de modo estupendo: o Novo Moisés, sobre à montanha, como no Monte Sinai, abençoa os seus e os envia definitivamente em missão... e promete: “Eu estudarei convosco até a consumação dos séculos!” (Mt 28,16-20).

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