A DOUTRINA herética da sola scriptura (somente a Bíblia como única regra de fé e prática) é a principal dificuldade para a compreensão da realidade do Purgatório: ocorre que essa palavra não se encontra, literalmente, na Bíblia.
O problema maior, evidentemente, não está em ter-se a Escritura como regra (nós também a temos), mas sim em tê-la como única e exclusiva regra, e principalmente nas suas múltiplas interpretações possíveis. É perfeitamente possível interpretar qualquer texto, - mesmo o Texto Sagrado, - de inúmeras maneiras, muitas vezes contraditórias entre si, e a prova disso está na diversidade de "igrejas" que incessantemente se multiplicam e disputam pela correta compreensão da Escritura. Nesse triste cenário, a verdade mais óbvia é sempre deixada de lado: a correta interpretação de um texto só pode partir daquele que o produziu e autenticou, - no caso da Bíblia Sagrada Cristã, a Igreja Católica.
Sobre este assunto, já respondi da seguinte maneira a um colega de classe protestante que se dizia mais livre do que nós, católicos, por supostamente não precisar observar dogmas: "Como, se o único grande dogma que você observa é sua grande cadeia? A sola scriptura é o grande dogma protestante, não há alguma, e você está acorrentado à letra do Livro Sagrado, sendo que esse mesmo Livro diz: 'Vós sois a carta de Cristo escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (...) o qual nos fez também capazes de ser ministros deum novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o Espírito vivifica!'" (2Cor 3,3.6)...
Controvérsias à parte, o Purgatório é, sim, ensinado nas Escrituras, e ensinado claramente, mesmo que não explicitamente. Antes de abraçar o ingrato trabalho a que sempre nos obrigam, de demonstrar se "está escrito", ou se "não está escrito", seria interessante analisar a questão de uma maneira um pouco menos simplória.
A existência do Purgatório é uma simples exigência da razão e da inteligência humanas, - que nos foram dadas por Deus e que nos tornam humanos, porque sem estas seríamos iguais aos animais. - A existência do Purgatório é também uma prova cabal do Amor que Deus tem por nós. Pare um pouco e pense: se nós, seres humanos falhos e imperfeitos, tentamos aplicar penas justas aos criminosos, proporcionais à gravidade dos crimes cometidos, e sabemos ser ainda mais misericordiosos quando são nossos filhos que pecam contra nós, quanto mais o Deus de Misericórdia Infinita (Lm 3,22), Deus que é Amor (1Jo 4, 8), não saberia lidar com os pecadores de acordo com as suas culpas?
Imagine um indivíduo que, por sentir fome, furtou um pacote de biscoitos no mercado. Logo depois, ele atravessa uma rua e é atropelado, vindo a falecer. Imagine que este indivíduo tenha aceitado Nosso Senhor Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, em algum momento, e praticado muitas vezes o bem, durante sua vida.
Bem, segundo a Lei de Deus, tal pessoa cometeu um pecado (roubar), e portanto está afastado da perfeita Comunhão com o Pai Celestial. E ele morreu sem confessar este pecado. Mas... Será que este ser humano, feito à imagem e semelhança de Deus, - e este filho de Deus, - mereceria receber como pena, por ter furtado um pacote de biscoitos para saciar a sua fome, uma pena eterna? Sofrer para todo o sempre num inferno de chamas? Será que esse castigo seria compatível com a perfeita Justiça Divina, proclamada no verso 137 do Salmo 119? E com a Misericórdia infinita de Deus, cantada no Livro das Lamentações (3, 22)?
"Provando biblicamente" a existência do Purgatório
O problema maior, evidentemente, não está em ter-se a Escritura como regra (nós também a temos), mas sim em tê-la como única e exclusiva regra, e principalmente nas suas múltiplas interpretações possíveis. É perfeitamente possível interpretar qualquer texto, - mesmo o Texto Sagrado, - de inúmeras maneiras, muitas vezes contraditórias entre si, e a prova disso está na diversidade de "igrejas" que incessantemente se multiplicam e disputam pela correta compreensão da Escritura. Nesse triste cenário, a verdade mais óbvia é sempre deixada de lado: a correta interpretação de um texto só pode partir daquele que o produziu e autenticou, - no caso da Bíblia Sagrada Cristã, a Igreja Católica.
Sobre este assunto, já respondi da seguinte maneira a um colega de classe protestante que se dizia mais livre do que nós, católicos, por supostamente não precisar observar dogmas: "Como, se o único grande dogma que você observa é sua grande cadeia? A sola scriptura é o grande dogma protestante, não há alguma, e você está acorrentado à letra do Livro Sagrado, sendo que esse mesmo Livro diz: 'Vós sois a carta de Cristo escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (...) o qual nos fez também capazes de ser ministros deum novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o Espírito vivifica!'" (2Cor 3,3.6)...
Controvérsias à parte, o Purgatório é, sim, ensinado nas Escrituras, e ensinado claramente, mesmo que não explicitamente. Antes de abraçar o ingrato trabalho a que sempre nos obrigam, de demonstrar se "está escrito", ou se "não está escrito", seria interessante analisar a questão de uma maneira um pouco menos simplória.
A existência do Purgatório é uma simples exigência da razão e da inteligência humanas, - que nos foram dadas por Deus e que nos tornam humanos, porque sem estas seríamos iguais aos animais. - A existência do Purgatório é também uma prova cabal do Amor que Deus tem por nós. Pare um pouco e pense: se nós, seres humanos falhos e imperfeitos, tentamos aplicar penas justas aos criminosos, proporcionais à gravidade dos crimes cometidos, e sabemos ser ainda mais misericordiosos quando são nossos filhos que pecam contra nós, quanto mais o Deus de Misericórdia Infinita (Lm 3,22), Deus que é Amor (1Jo 4, 8), não saberia lidar com os pecadores de acordo com as suas culpas?
Imagine um indivíduo que, por sentir fome, furtou um pacote de biscoitos no mercado. Logo depois, ele atravessa uma rua e é atropelado, vindo a falecer. Imagine que este indivíduo tenha aceitado Nosso Senhor Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, em algum momento, e praticado muitas vezes o bem, durante sua vida.
Bem, segundo a Lei de Deus, tal pessoa cometeu um pecado (roubar), e portanto está afastado da perfeita Comunhão com o Pai Celestial. E ele morreu sem confessar este pecado. Mas... Será que este ser humano, feito à imagem e semelhança de Deus, - e este filho de Deus, - mereceria receber como pena, por ter furtado um pacote de biscoitos para saciar a sua fome, uma pena eterna? Sofrer para todo o sempre num inferno de chamas? Será que esse castigo seria compatível com a perfeita Justiça Divina, proclamada no verso 137 do Salmo 119? E com a Misericórdia infinita de Deus, cantada no Livro das Lamentações (3, 22)?
"Provando biblicamente" a existência do Purgatório
A palavra “Purgatório” não aparece na Bíblia, literalmente. Esse termo foi definido pela Igreja. A mesma Igreja que a própria Bíblia Sagrada declara ser "a coluna e o sustentáculo da Verdade" (1Tm 3,15). - E aqui é importante abrir parênteses para lembrar que nós, cristãos católicos, reconhecemos a realidade do Purgatório desde o primeiro século da Era Cristã, isto é, desde antes de o Novo Testamento da Bíblia existir enquanto tal. - Mas o conceito do Purgatório, a realidade de um lugar ou estado de purificação das almas, é facilmente encontrado também nas Escrituras, como veremos agora.
Gregório Magno, Papa e Doutor da Igreja, no ano de 593dC já explicava o Purgatório conforme a Bíblia, nas palavras de Cristo:
“Aquele que é a Verdade, Jesus, afirma que existe antes do juízo um fogo purificador, pois Ele disse: ‘Se alguém blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem neste século nem no século futuro’ (Mt 12,32). Vemos então que certas faltas podem ser perdoadas neste mundo (neste século), e outras, num mundo (ou século) futuro. O pecado contra o Espírito não será perdoado neste mundo e nem no mundo futuro. Mostra o Senhor Jesus, então, que há pecados que serão perdoados após a morte.”1
Em 1Coríntios, Paulo também ensina a realidade do Purgatório: ele fala dos que constroem suas casas sobre o Fundamento que é Cristo: alguns utilizam material resistente ao fogo, outros usam materiais que não resistem ao fogo. Paulo apresenta o Juízo de Deus como fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, seu autor “receberá uma recompensa”; se não resistir, seu autor sofrerá uma pena, mas essa pena não é a condenação eterna, pois o texto diz que aquele cuja obra for perdida ainda se salvará: “Este perderá a recompensa; Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através do fogo” (1Cor 3,15).
Também em Mc 3,29, Jesus dá uma imagem nítida do Purgatório:
“O servo que, apesar de conhecer a Vontade de seu Senhor, lhe desobedeceu, será açoitado com numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a Vontade de seu Senhor, fizer coisas repreensíveis, será açoitado com poucos golpes. (Lc 12,45-48)”
Aí está o que a Igreja chama de Purgatório: Jesus mesmo ensina que, após a morte, há um estado em que os que foram pouco fiéis serão purificados por algum tempo, de acordo com suas culpas, e não eternamente.
Outra passagem bíblica que confirma o Purgatório é Lucas 12, 58-59:
“Faze o possível para entrar em acordo com o teu adversário no caminho até o magistrado, para que ele não te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao executor, e o executor te ponha na prisão. Digo-te: não sairás dali até pagares o último centavo”.
O Cristo não diz: “Nunca mais saírás dali”, mas ensina claramente: ao fim desta vida, seremos entregues ao Juiz, que poderá nos colocar numa prisão de onde não sairemos até saldarmos nossas dívidas, - mas da qual um dia haveremos de sair. - A condenação não é eterna em alguns casos, diferentes dos daqueles que vão ao Inferno. A mesma afirmação está em Mt 5, 22-26.
Mais: em 1Pedro (3,18-19; 4,6) vemos uma outra afirmação que nos leva inequivocamente à conclusão da existência do Purgatório:
"Cristo padeceu a morte em Carne, mas foi vivificado quanto ao Espírito. Neste mesmo Espírito Ele foi pregar aos espíritos detidos na prisão: aqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes”.
O Cristo não teria porque pregar àquelas almas, se não elas não tivessem a possibilidade de salvação: vemos então que os antigos estavam numa “prisão” temporária. Novamente, aí está o Purgatório: um estado onde as almas aguardam pela Salvação definitiva. Evidentemente não é o Céu, um lugar ou estado de alegria eterna na Presença de Deus, mas também não é um lugar de tormento eterno e irremediável. É um lugar ou estado da alma onde os espíritos são purificados, um lugar ensinado claramente na Bíblia Sagrada, inclusive pelo próprio Senhor Jesus Cristo.
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1. São Gregório Magno, Diálogos 4,39.
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Fontes bibliográficas:
• CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
• Website Veritatis Splendor, artigo "O Purgatório, a Igreja primitiva e os Santos Padres", diponível em:
http://veritatis.com.br/patristica/patrologia/435-o-purgatorio-a-igreja-primitiva-e-os-santos-padres
Acesso 25/3/014