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Mitos litúrgicos: a Adoração Eucarística fora da Missa é ultrapassada?

CONTINUAMOS NOSSA série de postagens baseadas no estudo de Francisco Dockhorn com revisão teológica de Dom Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo da Diocese de Frederico Westphalen (RS). As abordagens tem grande potencial para esclarecer muitas dúvidas comuns dos católicos de nossos tempos. Que seja útil.




Prólogo - Infelizmente, temos visto que muitos escritos sobre Liturgia editados no Brasil, assim como muitos cursos de Liturgia ao nosso redor tem se tornado uma “hora do conto”, em que se ensinam mitos que não correspondem à verdade da doutrina e da disciplina da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Não nos referimos, evidentemente, à má intenção de quem promove ou ministra tais cursos, pois isso não nos cabe julgar. Nossa avaliação é puramente em nível de conteúdo. Com este estudo pretendemos demonstrar a flagrante contradição entre o que anda sendo ensinado sobre catolicismo "por aí" e o que prescreve, de fato, a autêntica doutrina católica.




Mito 3: A Adoração Eucarística fora da Missa é ultrapassada

Não é. O Bem-aventurado Papa João Paulo II registrou na Encíclica Ecclesia de Eucharistia (de 2003, nº 25):

“O culto prestado à Eucaristia fora da Missa é de um valor inestimável na vida da Igreja, e está ligado intimamente com a Celebração do Sacrifício Eucarístico. A Presença de Cristo nas Hóstias Consagradas que se conservam após a Missa – Presença essa que perdura enquanto subsistirem as espécies do Pão do Vinho – resulta da Celebração da Eucaristia e destina-se à Comunhão, sacramental e espiritual. Compete aos pastores, inclusive pelo testemunho pessoal, estimular o culto eucarístico, de modo particular as exposições do Santíssimo Sacramento e também as visitas de adoração a Cristo presente sob as Espécies Eucarísticas.

É bom demorar-se com Ele e, inclinado sobre seu peito, como o discípulo predilecto (cf. Jo 13,25), deixar-se tocar pelo Amor infinito do seu Coração. Se atualmente o cristianismo se deve caracterizar sobretudo pela 'arte da oração', como não sentir de novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa, atitude de Amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela força, consolação, apoio!

Desta prática, muitas vezes louvada e recomendada pelo Magistério1, deram-nos o exemplo numerosos santos. De modo particular, distinguiu-se nisto Sto. Afonso Maria de Ligório, que escrevia: 'A devoção de adorar Jesus Sacramentado é, depois dos Sacramentos, a primeira de todas as devoções, a mais agradável a Deus e a mais útil para nós'2. A Eucaristia é um Tesouro inestimável: não só a sua Celebração, mas também o permanecer diante dela fora da Missa permite-nos beber na própria Fonte da Graça. Uma comunidade cristã que queira contemplar melhor a Face de Cristo, segundo o espírito que sugeri nas cartas apostólicas Novo Millennio Ineunte e Rosarium Virginis Mariæ, não pode deixar de desenvolver também este aspecto do culto eucarístico, no qual perduram e se multiplicam os frutos da Comunhão do Corpo e Sangue do Senhor.”

Que belíssima e apaixonada declaração, tanto do Papa quanto do santo que ele cita! E para demonstrar que a excelência da Adoração Eucarística é sempre atual, acrescenta o agora Papa Emérito Bento XVI  (Sacramentum Caritatis, de 2007, nos nºs. 66-67):

“De fato, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a Adoração Eucarística é apenas o prolongamento visível da Celebração Eucarística, a qual, em si mesma, é o maior ato de adoração da Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude de adoração d’Aquele que comungamos. Precisamente assim, e apenas assim, é que nos tornamos um só com Ele e, de algum modo, saboreamos antecipadamente a beleza da Liturgia Celeste[!]. O ato de adoração fora da Santa Missa prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria Celebração Litúrgica. (…) Juntamente com a assembléia sinodal, recomendo, pois, vivamente aos pastores da Igreja e ao povo de Deus, a prática da Adoração Eucarística, tanto pessoal como comunitária. Para isso, será de grande proveito uma catequese específica na qual se explique aos fiéis a importância deste ato de culto que permite viver, mais profundamente e com maior fruto, a própria Celebração Litúrgica. Depois, na medida do possível e sobretudo nos centros mais populosos, será conveniente individuar igrejas ou capelas que se possam reservar propositadamente para a adoração perpétua. Além disso, recomendo que na formação catequética, particularmente nos itinerários de preparação para a Primeira Comunhão, se iniciem as crianças no sentido e na beleza de demorar-se na Companhia de Jesus, cultivando o enlevo pela sua Presença na Eucaristia.”

O que poderíamos nós acrescentar a exortações tão claras e contundentes? Ultrapassadas, na realidade, são as tentativas modernistas de desvirtuar a fé cristã e católica que sempre animou o coração da Igreja de Jesus Cristo.

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Fontes e bibliografia:

1. «Durante o dia, os fiéis não deixem de visitar o Santíssimo Sacramento, que se deve conservar nas igrejas, no lugar mais digno e com as honras devidas segundo as leis litúrgicas; cada visita é prova de gratidão, sinal de amor e dever de adoração a Cristo ali presente»: Paulo VI, Carta enc.Mysterium fidei (3 de Setembro de 1965): AAS 57 (1965), 771

2. Visitas ao Santíssimo Sacramento e a Maria Santíssima, Introdução: Obras Ascéticas (Avelino 2000), 295.

• Conc. Ecum. de Trento, Sess. XIII, Decretum de ss. Eucharistia, cân. 4: DS 1654.

• Ritual Romano: Sagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa, nºs. 80. 86-90

• João Paulo II, Carta ap. Novo Millennio Ineunte (6 de Janeiro de 2001), 32: AAS 93 (2001), 288.
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