Uma questão muito simples, porém às vezes mal compreendida; outras tantas vezes, usada como pretexto...
ALGUNS LEIGOS de outras comunidades religiosas, que nos enviam mensagens, declaram não compreender bem como a Igreja de Jesus Cristo pode ser chamada Católica Apostólica Romana. E o problema reside, como não é difícil supor, no último título.
Quando explicamos que “católica” significa universal, isto é, que a Igreja está para todos os homens e mulheres do mundo, de todas as nações, culturas e condições sociais, conforme a determinação de Nosso Senhor Jesus Cristo (Mc 16,15), normalmente não há refutação. Quanto ao termo “apostólica”, também não se criam maiores problemas, já que a verdadeira doutrina cristã é aquela que procede dos Apóstolos, e isso está dito e repetido na Bíblia inúmeras vezes (p/ex. 2Ts 2,15; 3,6). Mas e quanto ao título “romana”? Por que a Igreja é chamada assim?
E correm os mais afoitos, ligeiríssimos, a nos acusar de toda sorte de corrupção da fé cristã. Já ouvi as mais curiosas (e absurdas) associações e deturpações a esse respeito, até uma assim: "Você é católico romano, eu sou 'católico cristão'", - como se fosse possível ser cristão e não ser católico, no sentido próprio da palavra. É comum, inclusive, que algumas pessoas chamem a Igreja de Cristo apenas “Igreja Romana”, suprimindo seus títulos principais (Católica e Apostólica), numa triste tentativa de diminuir a sua importância ou negar a sua autenticidade histórica e autoridade sagrada, percebida claramente em todo o contexto e história do cristianismo.
Bem, mas, afinal, como é que a Igreja pode ser universal e romana ao mesmo tempo?
É um desses problemas tão simples que nos impressiona a maneira como pode provocar dúvidas. - Se bem que, em muitos casos, parece-nos evidente que exista também alguma (ou muita?) má vontade para compreender. O fato é que o título “romana” não implica nacionalismo nem particularismo: não quer dizer que a Igreja pertença a Roma, ou que se limite a Roma, assim como aconteceria com uma empresa, por exemplo. Romana, no caso da Igreja, é apenas o título que indica o endereço da sede primacial da Igreja. Apenas isso.
De fato, a Igreja, atuando neste mundo, precisa ter um endereço, um referencial físico e postal, que é o do Bispo de Roma, feito Chefe visível por Cristo, o Papa. Em consequência, a Igreja Católica recebe, como uma espécie de “subtítulo”, a designação “romana”, mas isso em nada contraria a sua catolicidade/universalidade.
De modo semelhante, Jesus, Salvador de todos os homens, foi chamado “Nazareno”, porque, convivendo entre os homens, precisou usar um endereço físico neste mundo, que foi a cidade de Nazaré. E será que Nosso Senhor Jesus Cristo, por acaso, veio só para os habitantes de Nazaré? Evidentemente não. Chamá-lo de “Jesus Nazareno” ou “Jesus de Nazaré” compromete o caráter universal da sua missão? Claro que não. Da mesmíssima maneira se dá com o nome dado à Igreja que Ele instituiu neste mundo.
Importante para nós, católicos, é enxergar o Poder de Deus também nesse título de “católico romano”; - pois desde o inicio do cristianismo os católicos foram perseguidos, caçados, torturados
e mortos justamente pelo Império Romano, durante centenas de anos. Desde a liberação da fé cristã pelo Imperador Constantino, porém, a sede dos cristãos está em Roma, como que a mostrar ao mundo que os perseguidores sucumbiram frente à Igreja de Deus. Ela, que foi perseguida e martirizada, hoje está situada exatamente na sede do antigo Império! Isso prova que Deus sempre transforma o mal em bem, como diz São Paulo: “Onde abundou o pecado, superabundou a Graça” (Rm 5,20).
Onde predominou o Império de Roma, - o maior já visto na História, e que levou a escravidão, o terror e a morte a milhões de pessoas, - este mesmo lugar Jesus Cristo converteu no maior centro de fé e difusão das Boas Novas da libertação, do amor fraterno e da vida em todo o mundo, através de sua Igreja, que perdurará até o fins dos tempos, segundo a Promessa do próprio Senhor, que vemos no Evangelho (Mt 28,20).
E como diz a Bíblia Sagrada, nenhuma instituição permanecerá se não for obra divina: “Se o teu projeto ou tua obra provém de homens, por si mesmo se destruirá; mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la (At 5,38-39). O Império Romano caiu. A Igreja Católica Apostólica Romana, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, permanece por dois milênios.
Ref. bibliográfica:
CONGAR, Yves. Igreja e Papado, São Paulo: Loyola, 1997, pp. 33-49.