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Gudrun
Kugler é uma jovem mulher e mãe bem conhecida nas instituições
europeias: teóloga e advogada católica nascida na Áustria, dirigiu
durante três anos a World Youth Alliance-Europe, que representa mais de 1
milhão de jovens de 100 países perante a União Europeia e a ONU.
Após
uma breve passagem pela política, atualmente ela integra o Observatório
da Intolerância e Discriminação contra os Cristãos na Europa. O
Observatório acaba de divulgar um informe em que documenta 67 crimes de
ódio anticristão na Europa nos últimos 12 meses. A Aleteia conversou com
Kugler.
O informe fala de limitações quanto à objeção de consciência. De que campos estamos falando?
A
objeção de consciência é um compromisso da sociedade. Os procedimentos
estão legalizados, mas muitos não se sentem confortáveis com eles. Uma
sociedade ideológica tenta erradicar a objeção mediante a repressão. Só
os valentes seguem adiante.
Não
se trata só de procedimentos médicos, ainda que neste campo seja mais
gritante. Pense no aborto: não só a permissão está implicada, mas também
os anestesistas, as enfermeiras, os administradores... Onde a eutanásia
está legalizada, o problema aumenta. Mas também afeta farmacêuticos,
que em muitos países são obrigados a vender a pílula do dia seguinte.
Outra área é a dos funcionários do Registro civil, com a legalização das
uniões homossexuais.
Uma
sociedade tolerante deveria buscar um entendimento razoável, mas a
sociedade ideologizada na Europa diz: não, queremos que você se submeta.
Não há outra opção.
A Europa caminha para uma maior discriminação dos cristãos? Há dados objetivos que permitem analisar as tendências futuras?
Infelizmente
não há ainda estatísticas comparativas. Estamos em um momento crucial.
Se muitos cristãos permanecerem silenciosos e tímidos como estão agora,
vamos enfrentar uma piora da situação. Se os cristãos falarem e se
mobilizarem, se voltarem à política de uma forma comprometida, poderemos
mudar o rumo.
Punem-se as crenças religiosas em geral ou especialmente o cristianismo?
Ambos
fenômenos existem. Na Europa, há uma desconfiança geral pela religião. O
secularismo nos diz: a fé é para os fracos. A fé não tem nada a ver com
a razão. A fé deveria ser praticada só no âmbito privado. Uma opinião
inspirada pela fé não deveria ser permitida em praça pública. Isso afeta
todas as religiões, ainda que as pessoas em geral sejam mais
respeitosas, e mais temerosas, ao dizer isso abertamente contra
muçulmanos e judeus.
Mas
há uma hostilidade específica contra o cristianismo. As pessoas
acreditam que sabem do que estão falando. É “chic” e moderno ser crítico
das tradições dos próprios avós – que valentes, que avançados! É como
um pêndulo: antes o cristianismo gozou de muita influência, agora se
percebe erroneamente que é ser valente estar contra ele. É como uma
reação de adolescentes em intelectuais e artistas. Muita gente entra
nessa onda como uma moda.
Além
disso, há grupos de pressão com fortes convicções que se opõem ao
cristianismo. Tentam ajudar sua causa tornando a opinião cristã
impossível ou ridícula. Esses grupos não duvidam em defender leis
intolerantes que proibirão essas outras opiniões no espaço público.
O
Parlamento europeu está emanando muitas diretrizes europeias a favor do
“casamento” gay, do aborto, etc, que se chocam com muitas crenças
cristãs. A União Europeia está fazendo uma engenharia social pelas
costas dos cidadãos?
As
instituições políticas só são boas quando pessoas as gerenciam.
Infelizmente, uma geração inteira de líderes tem uma agenda que é
problemática para os cristãos. Mas não é sua culpa em primeiro lugar – é
culpa dos seus pais, escolas, pastores e sacerdotes. As instituições
europeias têm um problema adicional: estão muito distantes das
preocupações das pessoas. Não há uma praça pública em que os europeus
possam discutir o que acontece. Em parte pelas diferentes línguas e
culturas implicadas. Isso leva a uma forma de fazer política ideológica
que não pode ser confrontada pelos cidadãos.
O
maior problema que vejo atualmente na União Europeia é a legislação
sobre a igualdade de trato, que é muito perigosa: diz às pessoas como
têm de tratar umas às outras. A União Europeia tem uma quinta diretriz
sobre a igualdade de trato que deverá – quando adotada – obrigar os
negócios privados a não diferenciar entre clientes homossexuais e
heterossexuais, ou entre clientes de diferentes credos.
Isso
soa bem, claro. Mas pense em uma agência de viagens cristã; numa editora
que não queira imprimir uma revista gay, como aconteceu recentemente na
Irlanda do Norte. Negócios honrados que pagam seus impostos terão de
fechar em nome da igualdade. E quanto um mais fala de igualdade de
trato, mais gente se sente discriminada.
Fonte: http://www.aleteia.org