Há dois grandes meios: o mau exemplo e os mimos.
1º- O mau exemplo.
Todos os homens se imitam entre si. As crianças mais do que ninguém
estão expostas a macaquear os grandes, e, antes de quaisquer outros, os
da sua imediata convivência, sobretudo os pais, que lhes aparecem como
seres privilegiados em que nada há de condenável.
A mãe é arrebicada? A filha será
vaidosa. Falará, agirá, adornar-se-á, não por ideal de beleza conforme
com a sua condição, com a sua posição, mas para que dela se tenha uma
opinião levantada, há-de passar adiante de todas as suas companheiras,
das amigas, pelo corte ou pela singularidade dos seus vestidos, ligará
uma importância considerável, exagerada, a ínfimos pormenores do trajar,
despertará crises de terrível ciúme quando se julgar desbancada.
O pai é
orgulhoso? Procura acaso encarecer as suas qualidades, rebaixar as dos
outros, ou não as querer reconhecer? O rapaz há-de ser presunçoso,
desdenhoso, gabarola, pretensioso, arrogante, obstinado, dará mostras de
incompreensão com relação aos outros.
Os pais
são faladores, questionadores, picantes nas suas palavras? Os filhos
hão-de ser intemperados em palavras, bulhentos, ciumentos.
Os pais são fingidos? Os filhos arriscam-se
a tornarem-se mentirosos. Há indiscrições nas conversas, julgando-se a
torto e a direito as ações alheias? Os filhos, já inclinados a julgarem
de tudo do alto da sua grandeza, farão apreciações indiscretas,
injustas, inoportunas.
Os pais manifestam gosto pelas comodidades, pela riqueza, ambição até de adquirirem por todos os meios? Os filhos arriscam-se a fazerem-se egoístas, apegados ao bem-estar, e se a ocasião se proporcionar, a serem fraudadores.
2º- Mimos. – Certos pais são demasiados duros, não animam. Outros – é o maior número – são bonacheirões, lisonjeiam os filhos, condescendem com todos os seus caprichos.
Amimar os filhos não é querer-lhes bem, não é amá-los por eles mesmos. É antes umretorno dos pais sobre si mesmos. Buscam-se
a si nos filhos. Assim não poderão dar firmeza à educação, nem castigar
quando for necessário, nem prevenir extravagâncias, nem fazerem-se
obedecer. Deixarão de censurar qualquer fantasia.
Mas
se não somos bondosos, a criança foge-nos; nas horas difíceis deixará
de desabafar, ficaremos privados das suas confidências. Se, pelo
contrário, multiplicarmos as nossas atenções, será sempre franca e
teremos mãe nela.
Não se trata de faltar à bondade,
trata-se de não ser fraco. Se dois criteriosos firmes, longe de
perderdes a confiança dos vossos filhos, mais confiança terão eles
ainda, porque sois prudentemente fortes. Se eles vêem que nas provas de
afeição que lhes dais não vos buscais a vós mesmos, mas unicamente o bem
deles, compreenderão que nas vossas atitudes de severidade não há
vestígios de capricho, mas só o interesse deles. É precisamente isso que os educa, esse contato com uma alma forte e desprendida.
(Cristo no lar, meditações para pessoas casadas, por Raúl Plus, S.J, tradução de Pe. José Oliveira Dias, S.J. ; 2ª Edição, Livraria Apostolado da Imprensa, 1947, com imprimatur)