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Uma vez, há uns cinco anos, toda a paróquia ouviu o seguinte diálogo antes da Missa: a minha filha, de cinco anos na época, começou a orar em voz alta – e bem alta. Enquanto isso, seu irmão, de três anos de idade, repetia tudo o que ela dizia, assim:
Cinco anos de idade: "Querido Deus, obrigado por meus bichinhos de pelúcia".
Três anos: "Querido Deus, obrigado por meus bichinhos de pelúcia".
Cinco anos de idade: "Obrigada por meus pôneis, ainda que eu esteja sentindo falta de quatro deles".
Três anos: "Obrigada por meus pôneis, ainda que eu esteja sentindo falta de quatro deles".
Com isso, minha filha abriu um olho e fitou o irmão: "Você não tem pôneis, não minta para Deus. Pare de me imitar".
Meu filho olhou para ela com ar inocente: "Eu não estou imitando você".
"Faça a sua própria oração!"
"Eu estou fazendo a minha oração!"
Neste momento, o meu marido e eu separamos os dois, pensando que o problema se resolveria – isto é, até o Pai Nosso, quando minha filha começou a acusar o irmão de copiar suas orações novamente, desta vez com os olhos marejados. Orações comuns com seu irmão nunca foram do gosto dela, razão pela qual o terço em família nunca é um ato espiritual calmo por aqui.
Outra vez, enquanto dirigia de volta de um passeio ao jardim zoológico de Memphis num calor insuportável, ouvi a seguinte conversa entre os dois irmãos:
"Jesus consegue disparar raios laser de seus olhos?" (Isto veio de meu filho, que tinha cerca de seis anos na época).
Eu acho que a pergunta foi dirigida a mim, mas minha filha de oito anos de idade conseguiu, pela primeira vez, ter um momento de fúria. "O quê? Você está ...? Jesus? Quê?" Ela estava tão indignada com a pergunta, que se limitou a cuspir.
Meu filho fingiu não perceber sua indignação e repetiu: "Os raios laser. Jesus consegue dispará-los dos seus olhos?".
Minha filha quase se asfixiou. E então respondeu: "Ele é Deus. Então, se ele quisesse disparar raios laser de seus olhos, ele poderia. Mas por que ele faria isso?". Ela não chegou a dizer a palavra "idiota", porque sabia que ficaria em apuros, mas o tom era tão mordaz, que não foi preciso.
Mas seu irmão continuou: "Então, ele poderia ser como Super-Homem. O Super-Homem dispara raios laser de seus olhos. Ele é legal. Ele é mais forte do que Jesus".
Isso levou a um total de 15 segundo de silêncio e choque da minha filha, que, depois, gritou: "Jesus é mais forte! Ele é Deus!".
"Mas o Super-Homem é extra forte." Olhei pelo retrovisor para ver a minha filha agitando os punhos para o irmão, enquanto ele inclinava a cabeça para trás e olhava pensativo para fora da janela.
"Jesus é mais forte ainda!" Minha filha me chamou a atenção no espelho e fez um gesto, pedindo ajuda. Eu rapidamente desviei o olhar e mexi no rádio, tentando morder minha língua.
Meu filho de cinco anos perguntou: "Será que ele poderia levantar três pessoas ao mesmo tempo?".
"O quê? Ele poderia levantar todas as pessoas do mundo, ao mesmo tempo, e ainda teria espaço de sobra em suas mãos."
"Ah." Arrisquei outro olhar pelo retrovisor, para observar como meu filho ponderava isso.
"Bem – finalmente disse ele, sorrindo para a irmã enfurecida –, eu sou extra, extra, extra, extra, extra forte. Então, eu sou mais forte do que Jesus. Mas eu não posso disparar raios laser dos meus olhos. Ainda. Mas talvez, se eu pedir a Jesus, ele vai me deixar."
A julgar pelo olhar que ela lhe lançou, imaginei que a minha filha estava pedindo o mesmo dom divino naquele exato momento.
Os pais recebem uma educação incrível por meio dos seus filhos. Eu só não esperava que as aulas de teologia fossem tão estranhas.
Autor: Cari Donaldson