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Cristianismo, capitalismo e comunismo - parte 1



No post "Bono Vox, do U2: 'O capitalismo tira mais pessoas da pobreza do que doações'!", o comentário que reproduzimos abaixo, seguido de nossa resposta. Entendemos que seria importante dedicar uma postagem específica para tratar deste tema, pois a mensagem  representa uma certa linha de pensamento que é compartilhada por outros leitores. Segue:


Discussão polêmica e extensa! Mas gostaria de dar uma contribuição singela.
Creio que o Cristianismo pode se desenvolver bem, não importa o sistema político vigente, desde que os Cristãos permaneçam fiéis. E isso é o que importa.
Acredito também que a Igreja deve viver num "Comunismo Cristão", segundo o livro de Atos:

Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, e dividiam o produto entre todos, segundo a necessidade de cada um.
Atos 2, 44-45.

Isso é amor entre irmãos. Agora, o problema é o Comunismo Político, porque é um sistema ateu e, portanto, diabólico e que causou muitos males aos Cristãos.

Logo de início, precisamo dizer que realmente não vemos polêmica quanto a este assunto, ao menos entre cristãos realmente comprometidos, – e estamos incluindo protestantes aqui. – Será que estou com a visão turva ou você escreveu mesmo “comunismo cristão”!? Ora, o que temos aqui é uma expressão tão auto-contraditória quanto seria, por exemplo, falar em “corintiano palmeirense” ou “flamenguista vascaíno”, ou talvez numa “diária noturna” ou numa “noitada diurna”... Ou é uma coisa ou é outra, não tem como ser as duas, porque são antagônicas.

Esta reflexão nasceu da evidente confusão que algumas pessoas fazem com relação a temas como comunidade (comum unidade) e comunismo (ideologia comum – no caso, política), o que se confirmou através de algumas outras mensagens que recebemos, semelhantes à sua: o assunto é atual e premente. Tentaremos então, humildemente, lançar alguma luz sobre ele. A todo aquele que vier a nos ler neste, instamos: por favor, leia com atenção antes de nos considerar arcaicos ou retrógrados (o título de 'conservador' parece ser hoje mais ofensivo do que o de assassino ou o de ladrão, mas nós o ostentamos com muita honra!). Temos uma sólida convicção: não compensa ser “moderninho” ou “antenado” com o mundo moderno se não estivermos, antes de tudo, “antenados” com a Verdade. E a Verdade é a mesma ontem, hoje e eternamente (Hb13,8).

Entrando definitivamente no assunto, antes de tudo é preciso saber que o termo comunismo tem um significado muito próprio. Os dicionários definem comunismo como (atenção) uma  “doutrina ou sistema que preconiza a comunidade dos bens e a supressão da propriedade privada" (MICHAELIS, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – Melhoramentos). Em outras palavras, o termo "comunismo" não tem o significado de comunidade, no sentido de um grupo que compartilha bens e serviços fraternalmente. Há todo um conjunto de significados envolvidos para o termo comunismo; trata-se, exatamente, de uma doutrina bem específica, ateia desde as bases, posto que é materialista em sua essência. É por isso que, em todos os lugares onde o comunismo prevaleceu, os cristãos foram perseguidos, sacerdotes e religiosos massacrados, templos destruídos, etc.

O problema e o perigo todo é que, muitas vezes, têm-se uma ideia tão romântica quanto falsa sobre comunismo; assim como seus simpatizantes comum e rapidamente se tornam fanáticos. Um fanático é, basicamente, alguém que está cego (voluntariamente ou não) para a realidade objetiva dos fatos. Você lhes dá, por exemplo, o Livro Negro do Comunismo nas mãos; eles leem e dizem: "não, eu não concordo com o que aconteceu na antiga União Soviética, nem com o que acontece na China Comunista ou na Coreia do Norte... Também não acho certo o que se faz na Venezuela ou em Cuba, e muito menos quero viver em algum país comunista, mas 'eu acho' que a ideia central do comunismo é boa... Acho que o conceito em si até pode ser compatível com o cristianismo"...

Nada mais absurdo. O fato incontestável é que esse comunismo idealizado, de igualdade para todos, esse sonho de um lugar onde todos são iguais, onde não há hierarquia, em que tudo é de todos e nada pertence a ninguém... Não passa de uma completa utopia, um delírio dourado que só tem alguma chance de se concretizar no país das maravilhas (aquele da Alice).

Ou será que estamos sendo chatos, azedos, negativos? Hoje em dia é tão “bacana” ser comunista, é quase que uma obrigação moral declarar-se simpático ao comunismo, que é tão moderno, tão admirável... A maioria dos artistas do mundo compartilha desta ideia, e aqui em nosso Brasil nem se fale. Não só os artistas, como também os homens e mulheres à frente dos veículos de comunicação. "Dá ibope" ser comunista. Tomemos o exemplo do arquiteto “comunista” Oscar Niemeyer: nada mais patético do que ver um homem que mora numa casa cuja área construída é maior do que um quarteirão inteiro do seu bairro, um homem que coleciona automóveis de luxo e imóveis esplendorosos, que vivia rodeado da mais fina flor da sociedade, desfrutando de todo tipo de luxo... usando o bonezinho do PC do B! Aí está um legítimo representante da “esquerda caviar”.

Como é fácil declarar-se "comunista" quando se tem à disposição todos os confortos, tecnologias e prazeres que só o sistema capitalista pode proporcionar. Faz lembrar o mito Che Guevara, que adorava Coca-cola e morreu com um belíssimo Rolex no pulso.

Um outro fato muito interessante: a quase totalidade dos grupos de jovens agitadores esquerdistas que promoveram e praticaram o vandalismo nas recentes manifestações populares no Brasil, ostentando foice e martelo em nome da revolução, era formada por filhos de empresários de classe média-alta, autênticos "filhinho(a)s" de papai" que estudam nas melhores universidades particulares, ganham mesadas bem maiores que o meu salário e viajam para os EUA e/ou Europa duas vezes por ano. Os legítimos filhos do proletariado, em sua imensa maioria, cultivam interesses bem mais condizentes com a realidade.


Uma das cenas mais ridículas dos últimos tempos: o deputado Jean Wyllys, militante dos direitos dos homossexuais, caracterizado como Che Guevara. – Parece que ninguém contou para ele que o verdadeiro Che perseguia os homossexuais, sendo que muitos deles foram mortos pela ditadura cubana ou enviados para os "UMAP", campos de concentração cubanos, – tão desumanos que geraram protestos internacionais até dos próprios comunistas.

Para os nossos afetados “artistas” e comunicadores, não há maior símbolo de status social do que ter sido perseguido durante a ditadura militar. Ah, a ditadura militar no Brasil, a coisa mais hedionda, tenebrosa e monstruosa que já existiu na face da Terra! – Curioso é que os mesmos sujeitos que berram tão indignados diante das 400 e poucas mortes atribuídas, direta ou indiretamente, à ditadura militar no Brasil em 21 anos de existência, são fervorosos partidários de uma ideologia que gerou ditaduras como a da China (que vitimou cerca de 60 milhões de inocentes), da URSS (responsável por cerca de 20 milhões de mortes), de Cuba (que ceifou 100 mil vidas) e acham tudo isso muito “normal” e justo... Parece que, para essas pessoas, assassinato se justifica quando o número das vítimas ultrapassa a casa dos seis dígitos.


O modo de vida comunitário dos primeiros cristãos

Alguém me responda, por favor: onde e quando o comunismo deu certo no planeta Terra? E por favor, não venha me citar o modo de vida dos primeiros cristãos, porque esta é uma comparação completamente esdrúxula, estrambótica, estapafúrdia e o que mais começar com “es”... Mais uma vez eu preciso mencionar aquela mesma história, da qual já falei tantas vezes: nós podemos usar da Escritura para justificar qualquer pensamento, qualquer ideologia ou qualquer prática política, por mais nefasta que seja.

Ora, o modo de vida das primeiras comunidades cristãs não tem nada, absolutamente nada a ver com o comunismo, e é exatamente esse tipo de pensamento ingênuo, superficial e utópico que vem corroendo as estruturas da Igreja Católica (e também das protestantes históricas, pelo que sei) a partir de dentro, de um modo que à primeira vista pode ser imperceptível, mas que tem efeitos devastadores. Então vamos, juntos, buscar entender porque uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Antes de tudo, por favor, compreenda que quando tratamos do sistema social dos primeiríssimos cristãos, conforme descrito brevemente no Livro dos Atos, estamos falando de:

1) Um grupo pequeno: estamos analisando um contexto de alguns milhares de pessoas (no máximo), e, – muito importante: – pessoas fortemente unidas em torno de um mesmo ideal e de uma mesma fé, concentrados num território pequeno e bem demarcado.

a – Estes "pequenos detalhes" fazem toda a diferença! – Imagine tentar implantar este mesmo regime, por exemplo, num país pluricultural como o Brasil, de uma população de 200 milhões de habitantes espalhados por uma área de 8 515 767,049 km2! E só para "apimentar" ainda mais este "angu", considere que estamos falando de um povo que idolatra a figura do “malandro”, que acha linda a malandragem, a “malemolência” do brasileiro... Responda sinceramente: você acha que haveria alguma (mínima que seja) chance de um sistema idêntico ao dos primeiros cristãos dar certo dentro desse contexto absurdamente diferente? Ou será que a corrupção da classe política (esta sim a verdadeira 'zelite' de que tanto falam, a verdadeira 'classe opressora' dos trabalhadores) tornaria alguns milionários em detrimento de uma imensa maioria de excluídos? Não precisa responder.

b – Um sistema comunitário (eu disse comunitário, não comunista!) parece ter dado certo, por algum tempo, naquele lugar determinado, com um determinado grupo e sob condições muito, muito específicas, sendo a mais importante a fé comum, tendo como elemento principal a Graça santificante de Deus. Além disso, a própria Bíblia deixa transparecer que, mesmo nesse contexto infinitamente mais simples e mais propício, já aconteciam conflitos e disputas: diversas epístolas o evidenciam. Não é preciso pensar muito para notar que a comparação entre comunismo e Igreja primitiva é, com muita boa vontade, no mínimo ingênua. No mínimo.

2) Além de tudo, os cidadãos que constituíam a Igreja primitiva eram dóceis ao poder do Estado, pois acreditavam (como ainda acreditamos hoje) que toda autoridade temporal tem origem em Deus. Os textos do Novo Testamento são claríssimos neste sentido: ninguém ali pregava a revolução, não se pensava em construir o Reino de Deus aqui na Terra, como certos “teólogos (sic) da libertação” dos nossos tempos.

3) Um outro elemento muito importante nessa história é compreender que os primeiros cristãos esperavam o retorno de Cristo para muito breve. Sabemos historicamente que alguns desses primeiros membros da Igreja não só deixaram tudo o que tinham, como também pararam de trabalhar, achando que a Parousia, a segunda vinda do Cristo, era para já, para as próximas semanas ou meses. O Apóstolo Pedro precisou advertir a Igreja a esse respeito, pois já havia murmuração e inquietação, visto que os dias se sucediam e nada acontecia: “Amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não tarda a cumprir sua Promessa, como pensam alguns, entendendo que há demora; Ele usa de paciência convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a converter-se. Mas o dia do Senhor virá como ladrão...” (2Pd 3,8-10).

a – Este é um ponto essencial no quadro geral, que não pode ser ignorado: é bem mais fácil para alguém que acredita piamente que Jesus está prestes a retornar, para julgar os vivos e os mortos, que venda tudo que tem e se entregue à vida comunitária, deixando tudo o que é mundano de lado, do que para alguém que não pense deste modo.

* * *

Esclarecidos estes pontos fundamentais, busquemos compreender, através do testemunho direto da Sagrada Escritura, se há alguma possibilidade de relação harmoniosa entre as ideias comunistas marxistas-leninistas e o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que diretivas estavam sendo transmitidas já às primeiras comunidades cristãs pelos Apóstolos? Vejamos:

“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são para temor quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para o teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada: ela é instrumento de Deus para fazer justiça e punir quem pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo, também pagais tributos, porque os que governam são servidores de Deus (...). Pagai a todos o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.” (Rm 13, 1-7)

A passagem é mais do que clara. Devemos obedecer ao governo que Deus põe sobre nós. Isso é o exato oposto de comunismo, de fazer revolução ou procurar construir o Reino de Deus neste mundo, numa utopia de sociedade igualitária, desprovida de classes hierárquicas totalmente impossível. Deus mesmo criou o governo, para estabelecer a ordem, punir o mal e promover a justiça (Gn 9,6; 1 Cor 14,33; Rm 12,8). Devemos obedecer ao governo em tudo – pagando impostos, seguindo as regras, demonstrando respeito, etc. E se não o fizermos, estaremos demonstrando desrespeito contra Deus. Enote-se que quando o Apóstolo escreveu esse texto, ele estava sob o governo de Roma e durante o reinado de Nero, um dos mais impiedosos inimigos dos cristãos. Mesmo assim, Paulo reconhece a autoridade do governo e o coloca como regra para o cristão.

Continua...

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