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O Senhor Morto



Padre Monte, 1929
 Para o Calvário

Após o infinito percurso de dois mil anos, ainda esse pesar renasce vivo como se agora mesmo fosse produzido, e a emoção dos que a relembram na sinceridade de fé e do seu amor pelo Cristo, vibra-lhes intensamente na sensibilidade, na alma e no coração, como se pela primeira vez assistissem à tremenda tragédia do Gólgota.
A cena ressurge vívida à recordação do inenarrável suplício.
Descem como pequeninos rubis, as gotas de sangue precioso à fronte iluminada e bela, como implácido céu estrelejado, cingida da coroa irônica de lancinantes espinhos; as rótulas dilaceradas pelas quedas, em marcha da penedia sinistra, a boca exangue e luminosa entreaberta aos haustos extremos a uma asfixia que o oprime sob o peso do lenho descomunal, vai selar com a vida de exemplos e milagres a redenção do homem.
Toda a imensa dor humana, refulgente nesses belos olhos doces e claros, como sóis longínquos e melancólicos, pesava-lhe mais aos ombros marmóreos e sagrados, que o áspero madeiro que conduzia.
E por toda parte por onde aquela dor universal passava, assinalava de sangue precioso as estações que se repetiam às forças exauridas ao próprio espírito divino, para gáudio do ódio e da perversidade ingênitos, a piedade, a complacência, o perdão e o Amor ia semeando para frutificação do Bem e da Virtude.
Era a Verdade que, do cimo da penedia sagrada, na convulsão dramática do universo, no trágico e tremendo protesto da terra e dos céus, em face da insensatez humana ia irradiar-se, maravilhosamente, pelo mundo!
E após milênios passados, interroga a dúvida vencida à evidência dos fatos:
Que homem tão excepcional é este que, após vinte séculos do seu negregado suplício, ainda arrasta após ele, multidões inumeráveis e silenciosas, numa compunção profunda e sincera, comovida e lacrimosa?
Que homem é esse, que todos, moços e velhos, mulheres e crianças, cultos e bárbaros lhe sabem a história magnífica, única entre todas, na grandeza emocional dos seus atos, atitudes e ações?
Que estranha Criatura é essa, que todos lhe sabem o nome, o nascimento e a morte?
Que Sobre-humano é esse, que através da profunda mutação de séculos e séculos, reúne em torno de sua fé, de sua doutrina e de exemplos todas as raças e todos os povos da terra?!
Que Entidade tão extraordinária é essa que agita a ciência, a sabedoria e o pensamento humano e desperta em volta de si mesmo toda sorte das mais arrojadas hipóteses e audaciosas conclusões, para deixá-los, afinal, perplexos, indecisos, confundidos e postulantes da suprema evidência de sua divindade?!
É que Ele encarnara o sentimento humano nas suas aspirações de justiça, de perdão e de amor, de fé e de paz, de bondade e de esperança...

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