Sacerdote que seus contemporâneos habituaram-se a chama-lo de “Sábio e Santo”, face a sua cultura polivante.
Foi ele ungido sacerdote aos vinte e dois anos de idade e sua primeira missa celebrada na Capela do Colégio da Imaculada Conceição, no final do mês de setembro, de mil novecentos e vinte e sete. Anos depois, seria ele Capelão e Professor do mencionado Educandário.
Viveu apenas trinta e nove anos!
Nasceu no ano do falecimento do Padre João Maria, em mil novecentos e cinco, dia três de janeiro. A curta trajetória existencial não impediu a conquista de grandiosa sabedoria e de realizações significativas e consagratórias.
No dia da sua Ordenação Sacerdotal, o então Cônego Estevam José Dantas, seu ex-mestre de Latim, no Seminário, declarou na imprensa, jornal “Diário de Natal”, que o novo sacerdote já poderia ser considerado, inobstante sua pouca idade, o maior latinista do Estado.
Antecipou-se em tudo. Ainda menino, ingressou na Congregação Mariana. Seminarista, já lecionava no Ginásio Diocesano de Natal, embrião do atual Colégio Santo Antônio (Marista), tendo sido seu vice-diretor, ao lado do diretor, Monsenhor Landim. Dito educandário funcionava no velho prédio da conhecida Igreja do Galo.
Aos vinte e seis anos, início da década de mil novecentos e trinta, assumiu a Cadeira de docente do Atheneu, tendo sido aprovado em concurso.
Na Igreja de Natal dirigiu a Juventude Católica, a Juventude Feminina, a Pia União das Filhas de Maria Imaculada, além de criar a Juventude Operária Católica. No Marista dirigiu a Cruzada Eucarística.
Tomou, sob sua responsabilidade, diversos movimentos da cristandade, espalhados por ambientes leigos e religiosos. A Escola de Serviço Social, foi de sua inspiração, sonho tornado realidade pela ação do irmão, então sacerdote, Nivaldo Monte. No velho Atheneu, o alunado pertencente ao Centro Estudantil elegeram-no seu Presidente de Honra, pela confiança nele depositada, como amante da juventude estudiosa. Nesse mesmo educandário ele criou, para os alunos, a Escola da Cultura, a fim de despertar os ânimos literários e artísticos, como uma agremiação incentivadora de projetos educativos e culturais.
A ação era a determinante da sua vida, repleta de afazeres religiosos e intelectuais.
Foi ele um dos fundadores da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, em mil novecentos de trinta e seis, instituição idealizada por Luís da Câmara Cascudo. O Lema dessa instituição cultural: “Ad Lucem Versus”, – “Rumo à Luz”, é de sua autoria. Após exato seis dias da fundação dessa iimportante entidade, precisamente no dia vinte de novembro do mencionado ano, ele escreveu um artigo intitulado “Nossa Academia de Letras”, no qual, conclui nos termos: “O homem de letras precisa mergulhar na corrente da vida e nunca isolar-se na anacrônica torre de marfim. Bem sabemos que a arte tem sua finalidade própria, e nesse caso é soberana, mas o artista é humano, e o fim do homem supera e governa o fim da arte. (…) Já se vê que não estamos aqui para bater palmas a qualquer literato nem defender qualquer literatura. Releva dizer que o primado do Espírito que defendemos contra a supremacia da Matéria – com todo o seu cortejo tecnicista e economista – não se contenta com o simples prestígio da inteligência. Há realidades espírituais que ultrapassam os limites da razão.
O verdadeiro Espírito incorpora também a ordem transcendental e a ordem da graça. O poeta que só exprimisse as belezas sensíveis seria um poeta-cone-truncado, sem vértice. Pelas escadas da metafísica e da teologia subimos a planos elevadíssimos, de onde descortinamos um panorama muito mais vasto, pleno de luz e rico de belezas. Prestigiando a Inteligência, representada pela nossa Academia de Letras, saudamos os novos Acadêmicos, certos de que eles não desertarão do drama da vida, nem deixarão de, cultivando a arte e a beleza, reverenciar a Verdade que é a suprema Beleza”. Foi o primeiro escrito sobre a nova instuição literária. Dele, disse o Cônego Jorge O’Grady de Paiva, autoridade em ciências exatas, naturais e literárias: ” Monte dominou todas as ciências do seu tempo”. Biólogo que era, o Padre Luiz Monte foi autor de um compêdio de Biologia e Botânica, dentre outros. Conhecia a trajetória tumultuada da ciência da vida e através dela desvendada sintomas de doenças as mais variadas.
Daí, a inspiração para traduzir o drama existencial de almas aflitas, na sua definição: “A dor é a sentinela da vida, ela fere, mais depois consola”. Por outro lado, a sensível revelação espiritual, motivava-o pensamentos como este: “A Eucaristia é um infinito numa sensação e a eternidade num minuto. Sem ela, somos pequenos demais para o céu; com ela, demasiado grandes para a terra”. Na esfera da manifestação cultural, conceituava: “A arte não matará o amor, porque a arte é a religião do belo”. Como estudioso do método indutivo, raciocinava: “por ilógica e absurda repilo a quadratura do círculo e, por concebível, mas ilusória, a transaltura do espaço”.
Com relação ao Amor: “ninguém é mais exigente, nem escolhe mais que o amor. A alma elege o coração que quer amar”. E conclui: “a inteligência foi feita para a verdade, como o coração para o amor”. Em relação à Onipotência Divina: “a unidade é Deus, elevada a qualquer potência, a unidade é sempre unidade – imutável, simples, perfeita. A unidade incriada, por ser indivisível, é eterna”. Analisando o ato da vontade: “Tudo que o homem tem pertence a Deus, porque Ele pode tirar; a única coisa do homem é a vontade; é a única coisa que podemos dar Aquele que nos deu tudo”. Escreveu, certa vez, Dom Adelino Dantas, que o Latim, por ser uma língua dúctil, se prestava à cunhagem perfeita de lemas, frases e sentenças, as mais lapidares. E o Padre Luiz Monte gravava sempre, esses pensamentos, no clássico idioma do Lácio. O espaço é exíguo para abordar parte considerável dos frutos advindos da inteligência e do coração do conhecido sacerdote.
O Padre Monte foi um sacerdote exemplar: caridoso e intelectual. Dotes estes que elevaram o seu conceito social por todos conhecidos. Daí, o epíteto de Sábio e Santo. Razão pela qual tramita o seu processo de Beatificação, postulado pela Igreja de Natal, junto ao Vaticano, ao lado da postulação, de outro processo, o do Padre João Maria, este último conhecido como Santo da Caridade.