POR QUE HÁ TANTOS LÍDERES RUINS?
Rafael
Palladino, do Banco Panamericano. Carly Fiorina, da HP. Bob Nardelli,
do Home Depot. Gilberto Tomazoni, da Sadia. Bernie Ebbers, da WorldCom.
Harry Stonecipher, da Boeing. Dominique Strauss-Kahn, do FMI. A lista de
executivos-chefes que se mostraram inadequados, por motivos que vão de
fraude e escândalos sexuais a erros de gestão ou omissão, é enorme. Tão
grande que impõe a questão: é assim tão difícil escolher um bom líder
para a empresa? Pelo ritmo intenso de trocas de comando – o estudo anual
da consultoria Booz & Co. conclui que a rotatividade nas 2,5 mil
maiores companhias abertas em 2010 foi de 11,2% –, parece que sim. Por
quê?
O
primeiro motivo é a pressão a que estão submetidos os
executivos-chefes. Num mundo mais competitivo, em que os resultados
precisam vir mais rapidamente, é natural que a rotatividade aumente. Mas
um estudo psicológico de como são feitas as escolhas de líderes apontou
problemas recorrentes, capazes de causar grandes prejuízos. O estudo é
dos pesquisadores Jeffrey Cohn e Jay Moran, da consultoria Spencer
Stuart, autores de Why Are We Bad at Picking Good Leaders? (“Por que
somos ruins para escolher bons líderes?”). A seguir, as cinco principais
armadilhas em que conselho e acionistas caem:
O GRANDE CARISMA DIANTE DO PÚBLICO ÀS VEZES CAMUFLA
UMA FALHA NA HABILIDADE DE SE COMUNICAR FACE A FACE
UMA FALHA NA HABILIDADE DE SE COMUNICAR FACE A FACE
1. Síndrome da patota_Cercar-se de iguais é intrínseco ao ser humano. “Muitos executivos do alto escalão favorecem, mesmo que inconscientemente, os profissionais com histórico, experiências e características similares às suas próprias”, dizem os autores. No Banco Panamericano, Rafael Palladino, um ex-personal trainer sem diploma em administração sob cuja gestão o banco quase fechou, era primo em primeiro grau de Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos.
2. Síndrome dos holofotes_A
loquacidade e o carisma, o talento de magnetizar uma plateia, costumam
impressionar os selecionadores. O prestígio do CEO carismático é ainda
residual da “Era Jack Welch” na GE. Casos como o de Steve Jobs, que dá
verdadeiros shows nas apresentações da Apple, reforçam o mito. Porém,
como advertem os autores, o grande carisma diante do público às vezes
camufla uma insuficiência na comunicação íntima, face a face. “Falar em
público é uma capacitação aprimorável com um coach. Já a comunicação
direta com o interlocutor é algo bem mais difícil de desenvolver”,
dizem.
3. Síndrome do deslocamento_Poucos
CEOs foram tão demonizados na década passada quanto o autocrático Bob
Nardelli, em sua desastrada passagem pela rede de varejo Home Depot. Ao
tentar gerar eficiência operacional, Nardelli quase destruiu a cultura
descentralizada, informal e amigável que era marca registrada da rede. O
CEO chutado, obviamente, estava longe de ser um tolo. Na década de 90,
fora um dos executivos mais admirados dos Estados Unidos, na General
Electric. “Há casos em que as competências do executivo estão
deslocadas, e não têm como ser bem utilizadas na empresa”, dizem Cohn e
Moran. O caso de Nardelli era mais ou menos como exigir de um caminhão
Scania a performance de uma Ferrari.
4. Síndrome do menino-prodígio_É
fácil ficar impressionado com profissionais brilhantes, principalmente
se forem jovens geniais. Mas esse encantamento às vezes impede de
enxergar falhas grandes em outros aspectos, como a ética ou a capacidade
de comunicação. O caso mais notório, na última década, foi o de Jeffrey
Skilling, ex-CEO da Enron, hoje cumprindo pena de 24 anos numa cadeia
americana por causa de uma bilionária fraude de “contabilidade criativa”.
Precoce, Skilling era braço direito do então presidente Kenneth Lay,
nos anos 90. Ajudou-o a catapultar a capitalização de mercado da Enron,
de US$ 2 bilhões para US$ 70 bilhões. Tornou-se sucessor natural de Lay.
Foi um desastre.
5. Síndrome do bom-moço_É
o contrário da anterior, o encantamento com o executivo-modelo, querido
por todos. A justificativa em geral vai para o lado de que a pessoa é
uma ótima “formadora de equipes”, ou “cria sinergia”. A dura realidade,
dizem os autores, é que “os melhores líderes raramente são bons membros
de equipe”. O profissional “bom-moço” tem ascensão rápida na escada
corporativa. Mas quase sempre dá um ótimo número 2, não número 1.
Tendendo à gestão por consenso, ele costuma agregar profissionais de
pensamento homogêneo.
Ter
em mente essas armadilhas não vai livrar as empresas de sofrerem
deslizes. Mas diminui, dizem Cohn e Moran, a possibilidade de um
desastre.
Contabilidade criativa
– É a manipulação das demonstrações financeiras de empresas,
aproveitando brechas na legislação para turbinar resultados. A expressão
tornou-se célebre em 2001 com os escândalos contábeis da Enron e da
WorldCom