Pela Santa Missa podemos satisfazer a Justiça Divina pelos pecados cometidos (Excelências da Santa Missa – VII)
Por S. Leonardo de Porto-Maurício, da Ordem dos Frades Menores
A SEGUNDA OBRIGAÇÃO que temos para com DEUS é a de satisfazer à sua Justiça por tantos pecados por nós cometidos. Oh!, que dívida imensa esta! Um único pecado mortal pesa tanto na balança da Justiça Divina que não bastariam, para expiá-lo, todas as boas obras de todos os mártires e de todos os santos passados, presentes e futuros. No entanto, com o Santo Sacrifício da Missa, se considerarmos o seu valor intrínseco e seu Preço, pode-se satisfazer plenamente a Deus por todos os pecados cometidos.
E aqui buscai compreender quanto de reconhecimento deveis a JESUS. Pensai-o bem: é Ele o ofendido; entretanto, não contente de no Calvário ter satisfeito por nós à Justiça Divina, deu-nos e continua a dar-nos incessantemente o meio de apaziguá-la no Sacrifício da Santa Missa, pois aí renova a Oferenda que, na Cruz, fez a DEUS PAI, pelos pecados do Mundo inteiro. O mesmo Sangue que derramou para resgatar o gênero humano é aplicado e oferecido especialmente na Santa Missa pelos pecados daquele que a celebra ou manda celebrar, e de todos os que participam deste augusto Sacrifício.
Não que o Sacrifício da Santa Missa apague por si mesmo e imediatamente nossos pecados, como é o caso do Sacramento da Confissão; mas obtém que eles nos sejam apagados, proporcionando-nos, seja no momento mesmo da Santa Missa, seja em outra ocasião oportuna, boas inspirações, movimentos salutares e graças atuais que nos são indispensáveis para nos arrependermos dignamente de nossas faltas. Só DEUS sabe quantas almas escaparam das garras do pecado pelos socorros extraordinários que lhes provieram deste divino Sacrifício!
Assim conquanto às almas em estado de pecado mortal não lhes aproveite o valor no que tem de propiciatório, todos os pecadores deviam assistir muitas vezes à Santa Missa para alcançar mais facilmente a graça da conversão. Quanto às almas vivendo em paz com DEUS, o Sacrifício da Santa Missa lhes dá uma força surpreendente para se manterem nesse estado e, conforme a opinião comum, são apagados todos os pecados veniais, casso tenham ao mesmo tempo um arrependimento geral.
É o que ensina claramente Santo Agostinho: “Se alguém assiste devotamente à Santa Missa, não cairá em pecado mortal e os pecados veniais lhe serão perdoados”.
Narra São Gregório que uma pobre mulher encomendava a celebração de Santas Missas todas as segundas-feiras, em ação de graças para o seu marido, que ela julgava morto, pois ele caíra nas mãos dos bárbaros. Estava vivo, porém, e durante o tempo em que se celebravam essas Santas Missas, a cadeias se lhe soltavam dos pés e das mãos e lhe caíam as algemas, e ele ficava livre e desembaraçado, como, ao libertar-se da escravidão, pôde contar a sua mulher. Quanto mais devemos crer na eficácia deste Sacrifício para desatar os laços espirituais, isto é, os pecados veniais, que de certo modo mantém cativa a alma, impedindo-a de agir com a liberdade e o fervor que ela teria, não fossem esses entraves.
Ó bem-aventurada Santa Missa, que nos restitui a liberdade de filhos de DEUS, e satisfaz todas as penas devidas por nossos pecados! Mas então, me direis, basta assistir ou encomendar uma única Santa Missa para pagar as maiores dívidas com DEUS, em vista de tantos pecados cometidos, pois, sendo infinito o seu valor, com ela daremos a DEUS uma satisfação infinita. – Devagar!, eu vos peço. Realmente, se bem que o valor do Santo Sacrifício seja infinito, deveis saber, entretanto, que DEUS o aceita numa medida limitada e finita, mais ou menos, conforme a devoção maior ou menor de quem o celebra, manda celebrar, ou a ele assiste. "Quorum tibi fides cógnita est et nota devotio" ('Quanto a eles, sua fé e devoção são conhecidos por Ti'), diz a Santa Igreja no Cânon da Santa Missa, e, por esta linguagem dá-nos a entender o que ensinam expressamente os Doutores, e é que a maior ou menor satisfação proporcionada pela Santa Missa, quanto à pena devida por nossos pecados, depende da disposição de quem a celebra ou a ela assiste.
Note-se aqui o erro daqueles que preferem as Missas mais curtas e menos devotas, ou, o que é pior, que a elas assistem com pouca ou nenhuma devoção. É verdade que todas as Missas são iguais do ponto de vista do Sacramento, como ensina São Tomás; não o são, porém, quanto aos efeitos que delas provêm. Quanto maior a piedade atual ou habitual do celebrante, maior será o fruto de seu Sacrifício. Assim, não fazer diferença entre um padre mais fervoroso e outro menos, seria o mesmo que, para pescar, lançar mão indiferentemente de uma rede de malhas pequenas ou grandes.
Diga-se o mesmo dos que assistem à Santa Missa. E, ainda que eu vos exorte, o mais que posso, a assistir muitas vezes à Santa Missa, advirto-vos: mais glória dais a DEUS com aquela única Missa assistida com devoção e adoração profundas, e retirais mais e melhor fruto do que assistir cinquenta vezes sem a mesma disposição, – apesar do que chamamos ex opere operato1, – do que um outro há de tirar de cinquenta.
“Na satisfação, olha-se mais a piedade do oferente que a quantidade da oblação”: “In satisfactione magis attenditur affectus offrentis quam quantitas oblationis”, diz São Tomás de Aquino.
Pode acontecer, sem dúvida, que, com uma única Missa, assistida com extraordinária devoção, se dê satisfação à Justiça de DEUS por todos os pecados ainda do maior pecador, conforme se depreende do Santo concílio de Trento, que diz: “Graças à oferenda deste santo Sacrifício, DEUS concede o dom da verdadeira penitência, e por ela o perdão dos pecados, ainda dos mais graves”. No entanto, visto não conhecermos claramente a disposição interior com que assistimos à Santa Missa, nem a satisfação correspondente, devemos ter o cuidado em assistir a muitas, o mais que pudermos, e assistir com todo o amor e devoção possíveis. Felizes de vós, se depositardes uma grande confiança em DEUS, que tão admiravelmente exerce Seu Amor neste Divino Sacrifício, e se assistirdes com fé, fervor e reverência, a todas as Santas Missas que puderdes!
Afirmo-vos que podeis alimentar a doce esperança de alcançar diretamente o Paraíso, sem passar pelo Purgatório. À Santa Missa, portanto, à Santa Missa! E que jamais se ouça de vossos lábios esta palavra escandalosa: “Uma Missa a mais, uma Missa a menos, não tem importância...”.
S. Leonardo de Porto-Maurício |
E aqui buscai compreender quanto de reconhecimento deveis a JESUS. Pensai-o bem: é Ele o ofendido; entretanto, não contente de no Calvário ter satisfeito por nós à Justiça Divina, deu-nos e continua a dar-nos incessantemente o meio de apaziguá-la no Sacrifício da Santa Missa, pois aí renova a Oferenda que, na Cruz, fez a DEUS PAI, pelos pecados do Mundo inteiro. O mesmo Sangue que derramou para resgatar o gênero humano é aplicado e oferecido especialmente na Santa Missa pelos pecados daquele que a celebra ou manda celebrar, e de todos os que participam deste augusto Sacrifício.
Não que o Sacrifício da Santa Missa apague por si mesmo e imediatamente nossos pecados, como é o caso do Sacramento da Confissão; mas obtém que eles nos sejam apagados, proporcionando-nos, seja no momento mesmo da Santa Missa, seja em outra ocasião oportuna, boas inspirações, movimentos salutares e graças atuais que nos são indispensáveis para nos arrependermos dignamente de nossas faltas. Só DEUS sabe quantas almas escaparam das garras do pecado pelos socorros extraordinários que lhes provieram deste divino Sacrifício!
Assim conquanto às almas em estado de pecado mortal não lhes aproveite o valor no que tem de propiciatório, todos os pecadores deviam assistir muitas vezes à Santa Missa para alcançar mais facilmente a graça da conversão. Quanto às almas vivendo em paz com DEUS, o Sacrifício da Santa Missa lhes dá uma força surpreendente para se manterem nesse estado e, conforme a opinião comum, são apagados todos os pecados veniais, casso tenham ao mesmo tempo um arrependimento geral.
É o que ensina claramente Santo Agostinho: “Se alguém assiste devotamente à Santa Missa, não cairá em pecado mortal e os pecados veniais lhe serão perdoados”.
Narra São Gregório que uma pobre mulher encomendava a celebração de Santas Missas todas as segundas-feiras, em ação de graças para o seu marido, que ela julgava morto, pois ele caíra nas mãos dos bárbaros. Estava vivo, porém, e durante o tempo em que se celebravam essas Santas Missas, a cadeias se lhe soltavam dos pés e das mãos e lhe caíam as algemas, e ele ficava livre e desembaraçado, como, ao libertar-se da escravidão, pôde contar a sua mulher. Quanto mais devemos crer na eficácia deste Sacrifício para desatar os laços espirituais, isto é, os pecados veniais, que de certo modo mantém cativa a alma, impedindo-a de agir com a liberdade e o fervor que ela teria, não fossem esses entraves.
Ó bem-aventurada Santa Missa, que nos restitui a liberdade de filhos de DEUS, e satisfaz todas as penas devidas por nossos pecados! Mas então, me direis, basta assistir ou encomendar uma única Santa Missa para pagar as maiores dívidas com DEUS, em vista de tantos pecados cometidos, pois, sendo infinito o seu valor, com ela daremos a DEUS uma satisfação infinita. – Devagar!, eu vos peço. Realmente, se bem que o valor do Santo Sacrifício seja infinito, deveis saber, entretanto, que DEUS o aceita numa medida limitada e finita, mais ou menos, conforme a devoção maior ou menor de quem o celebra, manda celebrar, ou a ele assiste. "Quorum tibi fides cógnita est et nota devotio" ('Quanto a eles, sua fé e devoção são conhecidos por Ti'), diz a Santa Igreja no Cânon da Santa Missa, e, por esta linguagem dá-nos a entender o que ensinam expressamente os Doutores, e é que a maior ou menor satisfação proporcionada pela Santa Missa, quanto à pena devida por nossos pecados, depende da disposição de quem a celebra ou a ela assiste.
Note-se aqui o erro daqueles que preferem as Missas mais curtas e menos devotas, ou, o que é pior, que a elas assistem com pouca ou nenhuma devoção. É verdade que todas as Missas são iguais do ponto de vista do Sacramento, como ensina São Tomás; não o são, porém, quanto aos efeitos que delas provêm. Quanto maior a piedade atual ou habitual do celebrante, maior será o fruto de seu Sacrifício. Assim, não fazer diferença entre um padre mais fervoroso e outro menos, seria o mesmo que, para pescar, lançar mão indiferentemente de uma rede de malhas pequenas ou grandes.
Diga-se o mesmo dos que assistem à Santa Missa. E, ainda que eu vos exorte, o mais que posso, a assistir muitas vezes à Santa Missa, advirto-vos: mais glória dais a DEUS com aquela única Missa assistida com devoção e adoração profundas, e retirais mais e melhor fruto do que assistir cinquenta vezes sem a mesma disposição, – apesar do que chamamos ex opere operato1, – do que um outro há de tirar de cinquenta.
“Na satisfação, olha-se mais a piedade do oferente que a quantidade da oblação”: “In satisfactione magis attenditur affectus offrentis quam quantitas oblationis”, diz São Tomás de Aquino.
Pode acontecer, sem dúvida, que, com uma única Missa, assistida com extraordinária devoção, se dê satisfação à Justiça de DEUS por todos os pecados ainda do maior pecador, conforme se depreende do Santo concílio de Trento, que diz: “Graças à oferenda deste santo Sacrifício, DEUS concede o dom da verdadeira penitência, e por ela o perdão dos pecados, ainda dos mais graves”. No entanto, visto não conhecermos claramente a disposição interior com que assistimos à Santa Missa, nem a satisfação correspondente, devemos ter o cuidado em assistir a muitas, o mais que pudermos, e assistir com todo o amor e devoção possíveis. Felizes de vós, se depositardes uma grande confiança em DEUS, que tão admiravelmente exerce Seu Amor neste Divino Sacrifício, e se assistirdes com fé, fervor e reverência, a todas as Santas Missas que puderdes!
Afirmo-vos que podeis alimentar a doce esperança de alcançar diretamente o Paraíso, sem passar pelo Purgatório. À Santa Missa, portanto, à Santa Missa! E que jamais se ouça de vossos lábios esta palavra escandalosa: “Uma Missa a mais, uma Missa a menos, não tem importância...”.
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1. N. do E.: "Ex opere operato" é uma expressão teológica latina que significa "pela obra operada", e se refere ao fato de que os Sacramentos realmente são eficazes: conferem a Graça quando o Sinal Sacramental é validamente realizado, não como resultado de atividade da parte do receptor, mas pelo Poder e Promessa de Deus. Ainda assim, não contrariando esta realidade, S. Leonardo diz que muito mais proveito tira dos Sacramentos aquele que deles participa com grande piedade, com autêntico espírito de adoração.
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Fonte:
1. N. do E.: "Ex opere operato" é uma expressão teológica latina que significa "pela obra operada", e se refere ao fato de que os Sacramentos realmente são eficazes: conferem a Graça quando o Sinal Sacramental é validamente realizado, não como resultado de atividade da parte do receptor, mas pelo Poder e Promessa de Deus. Ainda assim, não contrariando esta realidade, S. Leonardo diz que muito mais proveito tira dos Sacramentos aquele que deles participa com grande piedade, com autêntico espírito de adoração.
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Fonte:
MAURÍCIO, Leonardo de Porto. As Excelências da Santa Missa, conforme a ed. romana de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XII