IGREJAS NA CHINA estão transbordando à medida que se multiplica o número de cristãos no país. No passado, a repressão comunista levou muitos a se converterem em segredo, – conversões que continuam a frutificar.
É impossível dizer ao certo quantos cristãos existem hoje na China, mas ninguém nega que o número cresce, e rapidamente. O governo, contrariado, diz que são cerca de 25 milhões no total, entre católicos e protestantes, mas as estimativas independentes mais conservadoras apontam para algo em torno dos 60 milhões. – Os novos cristãos podem ser encontrados em vilarejos no interior e também nas grandes cidades, onde vivem os jovens de classe média.
A estrutura do cristianismo chinês é complexa: durante todo o século XX, foi associado ao "imperialismo ocidental". Após a vitória dos comunistas, em 1948, os missionários cristãos foram expulsos do país, mas a fé cristã continuou sendo permitida nas igrejas aprovadas pelo Estado, – desde que essas igrejas se mantivessem fiéis, primeiramente, ao Partido Comunista... – Para o líder Mao Tsé Tung, as religiões eram um "veneno". Sob seu comando, a Revolução Cultural (décadas de 1960 e 1970) tentou erradicar a Igreja.
Porém, forçados a praticar sua religião em segredo, os cristãos chineses não apenas sobreviveram. Agora, com seus próprios mártires, os fiéis se multiplicaram em número e também em fervor.
Desde a década de 1980, quando a fé religiosa voltou a ser permitida no país, as igrejas oficiais vêm conquistando cada vez mais espaço próprio, mas ainda estão subordinadas à "Administração do Estado para Assuntos Religiosos". Estão proibidas de tomar parte em qualquer atividade religiosa fora dos locais designados ao culto e têm de aderir ao slogan "Ame o país – ame sua religião". Em troca, o Partido promove o ateísmo nas escolas, mas se compromete a "Proteger e respeitar a religião, até o momento em que ela, por si só, desapareça".
Tanto protestantes quanto católicos estão divididos, na China, entre igrejas oficiais e não oficiais. A Associação Patriótica Católica, aprovada oficialmente, nomeia seus próprios bispos e não tem permissão de manter qualquer contato com o Vaticano, embora os católicos estejam autorizados a reconhecer a autoridade espiritual do Papa. Mas existe no país a Igreja Católica extraoficial, maior, que conta com o apoio do Vaticano. Pouco a pouco, Vaticano e governo da China tentam chegar a um acordo. Bispos ordenados são hoje reconhecidos por ambas as partes.
A fé católica dos chineses é sólida. Na manhã do último Domingo de Páscoa, no centro de Pequim, uma igreja celebrou quatro Missas. Todas estavam lotadas, com mais de 1500 fiéis.Nas montanhas a oeste de Pequim, na cidadezinha de Ho Sanju, uma igreja católica erguida no século 14 recebe fiéis até hoje. A fé robusta dos que frequentam a igreja, muitos deles já idosos, resistiu à invasão japonesa e à Revolução Cultural. O hospital do vilarejo é administrado por freiras, uma delas vinda da Mongólia, onde há uma grande concentração de católicos. É em cidadezinhas como essa que a Igreja Católica recruta jovens que receberão treinamento para a vida religiosa.
Igrejas domésticas
As maiores concentrações de fiéis, no entanto, encontram-se nas chamadas "igrejas domésticas". clandestinas, essas igrejas vêm se espalhando pelo país. Destas, as autoridades consideram inaceitável a recusa em aceitar qualquer forma de autoridade oficial sobre elas. Falando à BBC, uma jovem cristã descreveu o fenômeno: "(Na China) todos trabalham muito, não têm tempo para atividades sociais. Mas na igreja as pessoas sentem um calor, se sentem bem-vindas. Elas sentem que as pessoas as amam de verdade, então querem fazer parte da comunidade, muitos vêm por isso".
Tim Gardan, diretor do St Anne's College, em Oxford, ao lado das irmãs católicas de Sangyu |
Aos poucos, o Estado vem procurando incorporar o cristianismo em sua "grande ideia" de uma "sociedade harmoniosa", slogan que domina a vida pública chinesa. Mas se há uma questão que com certeza preocupa as autoridades é a razão pela qual tantos vêm se voltando para a religião. Hoje, fala-se muito a respeito de uma "crise espiritual" na China. A frase foi usada até pelo premiê Wen Jiao Bao.
Fonte:
BBC Brasil, em
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/09/110912_china_r0eligiao_mv.shtml?print=1
BBC Brasil, em
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/09/110912_china_r0eligiao_mv.shtml?print=1