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Excelências da Santa Missa (VIII) – Pela Santa Missa agradecemos dignamente a Deus todos os benefícios




Por S. Leonardo de Porto-Maurício, da Ordem dos Frades Menores

S. Leonardo de
Porto-Maurício
A TERCEIRA DÍVIDA ou obrigação é a do reconhecimento pelos benefícios de que nos cumulou carinhosamente nosso DEUS. Computai todos os favores que dele tendes recebido, os bens da natureza e da Graça, o corpo, a alma, os sentidos, as faculdades, a saúde, a vida... A própria Vida, enfim, de seu Filho JESUS, e a Morte que por nós sofreu, elevam além de qualquer medida a divida de gratidão que temos para com DEUS. Como poderemos agradecer-Lhe suficientemente?

Se, duma parte, a lei da gratidão é observada mesmo pelos animais selvagens, que às vezes mudam sua ferocidade em afeição àqueles que lhe fazem bem (como quando recebem alimento ou um afago carinhoso), quanto mais deverá ser ela observada entre os homens, dotados de razão e tão prodigiosamente favorecidos pela liberalidade de DEUS! Doutra parte, porém, nossa miséria é tão grande que não temos sequer o meio de satisfazer pelos menores benefícios recebidos de DEUS. Pois o menor de todos, provindo das Mãos de tão grande REI e acompanhado dum Amor infinito, adquire um preço infinito e nos obriga a um reconhecimento também infinito. Infelizes que somos! Se não podemos suportar o peso de um só benefício, como poderemos arcar com o fardo de Graças inumeráveis?

Sendo assim, portanto, estaremos destinados à triste contingência de viver e morrer ingratos para com nosso Benfeitor. Consolai-vos, porém, pois o meio de dar ações de graças suficientes ao Boníssimo DEUS nos é ensinado pelo rei Davi, que, contemplando com espírito profético o Divino Sacrifício, confessava que só ele bastava para dar a DEUS ações de graças adequadas. "Quid retribuam Domino pro omnibus quae retribuit mihi?", perguntava. “Que retribuirei ao Senhor por todos os benefícios que me tem feito?”

E responde: Calicem Salutaris, ou, segundo outra versão: Calicem Levabo! “Elevarei ao Céu o Cálice do Senhor”, isto é, oferecer-Lhe-ei um Sacrifício que será infinitamente agradável, e com o qual somente satisfarei a minha dívida por tantos e tão grandes benefícios.

Acresce que este Sacrifício foi instituído pelo nosso Redentor, principalmente para este fim, quero dizer, para reconhecer a divina Munificência e agradecer-Lhe, e por isso chama-se Eucaristia por excelência, o que significa “Ação de Graças”. Ele mesmo nos deu o exemplo, quando na Última Ceia, antes de pronunciar nessa primeira Missa as palavras da Consagração, elevou os olhos ao céu e deu graças a seu PAI: "Elevatis oculis in caelum, tibi gratias apens fregit".

Ó divina Ação de Graças, que nos descobre o fim sublime para que foi instituído este augusto Sacrifício, e nos convida a conformar-nos a nosso Chefe, a fim de que sempre, ao assistir à Santa Missa, saibamos servir-nos de tão grande Tesouro, oferecendo-o em ação de graças a nosso soberano Benfeitor, e associando-nos ao Paraíso todo, à Santíssima Virgem, aos Anjos e Santos, que se enchem de alegria ao ver-nos render a nosso adorável DEUS este Tributo de reconhecimento!



A venerável Irmã Francisca Farnese vivia em contínuos tormentos de Amor, por se ver inteiramente cumulada de Benefícios divinos, sem encontrar o meio de depor tão pesado fardo, dando ao Senhor um reconhecimento suficiente. Certo dia apareceu-lhe a Santíssima Virgem e, depondo-lhe nos braços o Divino Infante (!), disse-lhe: “Toma-O, Ele é teu, e saibas dele servir-te, pois com Ele pagarás todas as tuas dívidas.”!

Ó bem-aventurada Santa Missa, graças à qual o Filho de DEUS é depositado, não em nossos braços, mas em nossas mãos e em nosso coração! Uma Criancinha nos é dada, a fim de que dela nos sirvamos, e não há dúvida de que com ela possamos solver completamente a Dívida de reconhecimento que temos para com DEUS. Mais ainda: se bem refletirmos, na Santa Missa damos, de certo modo, a DEUS algo mais do que Ele nos deu: pois DEUS PAI nos deu somente uma vez o seu Divino FILHO, na Encarnação, enquanto nós lho damos sem cessar neste Santo Sacrifício.

De modo que parece o sobrepujamos, por assim dizer, se não no próprio Dom, pois maior não pode haver que o FILHO de DEUS, mas ao menos em aparência, renovando tantas vezes o mesmo Dom!

Ó imenso, infinito DEUS! Ó DEUS, Fonte do Amor! DEUS todo Amor! Quem dera pudéssemos ter uma infinidade de línguas para agradecer-vos pelo incalculável Tesouro que nos destes, instituindo a Santa Missa! E vós, que fazeis? Abristes enfim os olhos para reconhecer tão preciosíssimo Tesouro? Se, no passado, Ele foi para vós como um Tesouro Oculto, agora que começais a conhecê-lo, não exclamais transportados de admiração: Oh! Que admirável Tesouro! Que imenso Tesouro!

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Fonte:
MAURÍCIO, Leonardo de Porto. As Excelências da Santa Missa, conforme a ed. romana de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XII

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