Do mesmo modo que do tronco brotam os galhos, assim também do matrimônio derivam-se certas obrigações que devemos necessariamente explicar. Elas se referem a três coisas: à prole, à unidade e à in- dissolubilidade. A primeira de todas é a prole. Para muitos o matrimônio é uma cerimônia, um passatempo, um pretexto para se divertirem. O matrimônio, na verdade, é tudo ao contrário.
Os direitos que ele confere, são lícitos, unicamente enquanto se referem à prole, sob pena de incorrerem os cônjuges na maldição divina. Há muitos, entretanto, que se julgam honestos porque têm uma família numerosa. Só isso não basta. Qual é a ambição de certas mães? Ter filhos bonitos, vesti-los bem, para exibi-los em toda parte e receberem os melhores elogios. Ou ainda, ter filhos espertos e atilados, ágeis, cheios de saúde.
Mas isto também não é suficiente. “Os filhos não estarão completamente criados enquanto não estiverem completamente educados”, isto é, capazes de viver no mundo uma vida honesta, tanto civil como religiosa. Não há dúvida, de que pesa sobre os pais a obrigação de prover aos seus filhos o necessário para a vida, como a comida, o vestuário, a habitação, a preservação dos perigos a que constantemente eles se ex- põem, cuidando de sua saúde quando estiverem doentes.
Mas também temos dever de procurar-lhes um estado que corresponda à sua condição, preocupando-se com a instrução e a educação requeridas. Ainda mais, têm obrigação séria de proporcionar-lhes uma sólida formação religiosa.
O fim do matrimônio-Sacramento não consiste unicamente na propagação da espécie humana, mas também em multiplicar os verdadeiros adoradores de Deus, isto é, formar cristãos. Devemos constatar um fato extremamente doloroso, e é que há pais, que cumprindo de maneira perfeita com os demais deveres ao seu cargo, coisa por um lado mui louvável, não se preocupam absolutamente nada com o que se refere à religião.
Se caem algumas gotas de chuva, se sopra um pouco de vento, se a temperatura é um pouco fria ou quente mais que de ordinário, tudo isso é motivo para que não permitam aos filhos irem a Missa ou ao Catecismo. Pois bem, nessas mesmas circunstâncias, os mandarão sem tantos temores à escola ou ao colégio. Para a escola não há nem pretextos nem desculpas. Os únicos a ficar prejudica- dos são sempre a Missa e o Catecismo.
O Matrimônio há de ser uno, isto é, a união de um só homem com uma só mulher. É lei estabelecida por Deus quando criou os nossos primeiros pais: “Serão dois numa só carne!” (Gên., II, 24) Dois, não três, nem mais.
Assim o homem há de ser todo da mulher e a mulher, toda do homem. Dois não somente em casa mas também fora dela. Não somente nos atos públicos da vida, mas também nos pensamentos da mente e nos afetos do coração. Dois, até a morte, ainda mesmo que se encontrem longe ou doentes, ainda que estejam separados legal ou canonicamente, quer estando o marido do outro lado do oceano, ou das montanhas.
Mesmo que um dos cônjuges estivesse encarcerado, mesmo que sua condenação devesse durar toda a vida. Dois, nas mudanças de domicílio e de cidade; nos contratempos, nos abandonos, e na perda dos bens.
Sempre dois, em qualquer tempo ou circunstância. E por quê? Porque o que Deus uniu, o homem não pode separar. (Mons. André Scotton, INSTRUÇÕES CATEQUÍSTICAS SOBRE O MATRIMÔNIO – Nova edição).
Requer-se fidelidade de PENSAMENTO pelo qual se proíbe todo pensamento voluntário sobre outra pessoa que não seja seu cônjuge; fidelidade do CORAÇÃO pela qual não se deve admitir deliberadamente nenhum sentimento, nenhum afeto, nenhuma complacência, nem desejo, que perturbe o amor conjugal; fidelidade de VONTADE pela qual há de permanecer na fé jurada ante o altar.
Quão formosa é a religião! Com que poder e eficácia defende a fidelidade conjugal. Existem esposos exageradamente ciumentos que para se certificarem da fidelidade do cônjuge, fazem indagações entre os amigos, vizinhos, e até mesmo entre os criados sobre o proceder do mesmo durante a sua ausência.
Uma coisa é suficiente para se viver tranquilo nesse ponto: A RELIGIÃO. Se ela existe, e principalmente se é sólida, ela somente basta; se ela não existir, todo e qualquer outro meio será ineficaz. O vínculo matrimonial validamente contraído não se rompe em nenhum caso durante a vida de ambos os esposos. É lei posta por Deus e confirmada por Jesus Cristo com estas palavras: “O que Deus uniu, o homem não separe”. (Mat., XIX, 6).
É lei eclesiástica, sustentada firmemente pela Igreja, através dos séculos, mesmo tendo que fazer frente a gravíssimas dificuldades. É também entre nós, lei civil. Várias vezes tentou o divórcio estabelecer- se entre nós, mas sempre encontrou repulsa por parte da maioria. Peça- mos a Deus que o afaste para sempre da nossa pátria. O divórcio é uma das maiores maldições que Deus pode mandar sobre uma nação, ao mesmo tempo é um dos maiores pecados contra as leis divinas e eclesiásticas. As leis civis são obrigatórias contanto que não se oponham às de Deus.
O Estado poderá permitir o divórcio, mas, apesar dessas leis, o matrimônio, permanece intacto diante de Deus e da Igreja. O divórcio é, além disso, uma maldição para a família porque diminui o número dos filhos e os já existentes veem-se expostos a mil perigos.
Uma maldição para a sociedade por causa das rixas, discórdias, e vinganças que se originam nas famílias. Uma maldição para a sociedade conjugal, que se veria sem base sólida: faltar-lhe-ia a alma, que é o verdadeiro amor cristão. As razões que alguns alegam, defendendo o divórcio, não têm valor.
A vida não é apenas uma poesia: é muito mais, é prosa séria e dura. Abri uma pequena brecha no costado de um navio, e em pouco tempo ele irá a pique. Há alguma coisa que faz sofrer, no matrimônio?
Supor-te-se com paciência. Pelo bem da sociedade e pelo bem da pátria dá-se até a vida. Bom seria que os pais fizessem seus filhos compreenderem esta grande verdade, principalmente aos que estão em vésperas de se casar. E como? Primeiro com o exemplo. Quando os filhos veem que seus pais levam uma vida laboriosa, séria, toda ela consagrada ao bem da família, ainda que cheia de sacrifícios, não podem deixar de fazer uma grande idéia da sublimidade do matrimônio.
Também por meio de conversas e confabulações em casa, pode-se fazer muito bem, neste campo. Há momentos na vida de família em que se está disposto a falar e a ouvir: em que se olha com seriedade o futuro. Excelente ocasião para uma boa mãe pronunciar uma palavra delicada, de luz e de vida. Esse é o momento propício para fazer o filho compreender que o matrimônio é um estado sério, que impõe obrigações muito graves, que é preciso pensar na futura família, tornando-se desde então capazes de mantê-la e educá-la; que o matrimônio une a própria vida com a de outrem, à qual se há de consagrar todo o afeto; que este laço há de durar toda a vida aconteça o que acontecer.
Para este mesmo fim pode a mãe aproveitar as correções que se veja obrigada a fazer aos filhos. Por exemplo: se o filho gasta muito, não trabalha com interesse e afinco, anda demasiado fora de casa; se a filha é ambiciosa, pouco amiga de retiro, vaidosa; então a mãe deve, aproveitando o momento oportuno, corrigi-los orientando-os ao matrimônio, fazendo-lhes advertências destinadas a sua futura maneira de proceder.
A um filho que durante o carnaval gastara demais, disse-lhe o pai: “É este o modo de portar-se de um chefe de família?” Estas palavras causaram mais impressão no filho do que qualquer outra reprimenda mais severa. Em suma, é preciso que se fale em família, com as devidas precauções de tempo e de lugar, desobrigações do matrimônio, de sorte que os filhos cheguem a conhecer-lhe a fundo a natureza e seus fins. Costuma-se dar, com relação ao matrimônio, mais importância ao dote, à saúde, à família a que pertence a futura esposa. Tudo isso não é mal, mas é conveniente também dar-se importância às obrigações que se contraem nesse estado.
Maternidade Cristã- Pe. Humberto Gaspardo
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