(...)Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação ...” (Rm 8, 28)
“Ó Deus, sois o amparo dos em que vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam.”
Neste dia festivo somos reunidos na Igreja, casa de Deus, a fim de manifestarmos ao mundo aquilo o que nos tornamos no dia do nosso batismo, ou seja, que nós somos a Igreja do Senhor, “pedras vivas” (cf. 1Pd 2,5) do edifício espiritual, a assembleia convocada que se reúne sempre neste “oitavo” dia a fim de ouvir o que o Senhor irá falar. Hoje acontece conosco como no Salmo 121. O salmista diz: “Que alegria quando ouvi que me disseram vamos à casa do Senhor”. É uma alegria meus irmãos podermos estar aqui reunidos na Casa de Deus, no Templo Santo onde refulge a Sua glória, a fim de ouvirmos a Sua Palavra e de nos alimentarmos do banquete das núpcias do Cordeiro (cf. Ap 19,9).
Poderíamos começar nossa reflexão pela oração coleta dessa missa. Deus é o “amparo daqueles que esperam n’Ele”. Sem o auxílio de Deus, ninguém é santo, nem forte. Ao reconhecermos isso pedimos ao Senhor que redobre de amor para conosco a fim de que, conduzidos por Ele, possamos usar de tal modo os “bens que passam” que possamos abraçar “os bens que não passam”.
Aqui encontramos a direção que nos é dada pela Palavra de Deus. Na primeira leitura, Salomão pede a Deus um “coração que escuta” para poder governar o povo. O desejo do rei é ter um coração sábio, para poder governar o povo de Deus. O rei não pede nada para si e, por isso, o seu pedido agradou a Deus. Salomão é como o salmista, que escolheu por sua herança “observar a palavra do Senhor”.
Essa visão para além dos bens desse mundo é a que nos é apresentada pelo Evangelho de hoje. Hoje terminamos de fazer a leitura das sete parábolas a respeito do Reino que Jesus conta para a multidão que está às margens do mar da Galiléia. Ouvimos hoje a parábola do tesouro escondido no campo, da pérola descoberta pelo mercador e da rede lançada ao mar. Nas duas primeiras parábolas o que nos importa é a atitude tanto de um como de outro personagem ao encontrar o tesouro e a pérola. Tomados de alegria pela descoberta de um tão grande tesouro, correm, vendem tudo o que possuem e compram, um a pérola preciosa e, o outro, o lugar onde está escondido o tesouro a fim de obtê-lo.
Jesus exige de seus ouvintes uma tomada de atitude. O Reino dos Céus é esse tesouro e essa pérola. Estamos diante do grande tesouro. Isso alegra o nosso coração? Isso nos diz algo? Estamos dispostos a vender tudo para abraçar o Reino? Estamos dispostos a usar os bens que passam com sabedoria a fim de podermos abraçar os bens que não passam? Ou será que queremos Jesus só para que Ele nos dê os bens que passam? Estamos a cada domingo diante da pérola preciosa que é o Reino que já se manifesta sacramentalmente na Igreja. E o que temos feito? O nosso coração é como o desse mercador da segunda parábola. Andamos a procura de algo, de uma pérola realmente preciosa. Talvez tenhamos encontrado tantas, mas não a que realmente queríamos... Hoje o Senhor Jesus coloca diante dos nossos olhos a verdadeira pérola, o Reino, essa única riqueza capaz de saciar o desejo do nosso coração. Saiamos também com alegria a fim de vender nossos outros tesouros, para ficarmos com o único que realmente nos interessa: o Reino dos Céus e a sua justiça.
A parábola da rede lançada ao mar é muito semelhante a do trigo e do joio. A mensagem é a mesma. De um lado, a separação entre bons e maus posta para o fim dos tempos coloca um freio naqueles que querem se arvorar em juízes na comunidade cristã. A parábola nos mostra que este é o tempo da paciência de Deus, onde Ele está esperando que os homens se convertam. O juízo pertence ao próprio Deus e se dará no fim dos tempos. Por outro lado, falar dessa separação faz com que cada um tome consciência de que tipo de peixe tem sido. Porque o juízo virá e não podemos brincar com Deus, uma vez que Ele não brinca conosco. A sua misericórdia não exclui o dever que nós temos de procurarmos uma vida de conversão, a fim de sermos realmente seus “trigos”, bons peixes recolhidos nas santas vasilhas do seu Reino.
Mateus conclui com essa imagem do escriba cristão. Aquele que se tornou discípulo de Cristo, tendo sido outrora escriba, pode tirar agora do seu tesouro coisas novas e velhas, porque não perdeu o que possuía, mas o tesouro ganhou uma riqueza nova, uma vez que Cristo realiza as promessas da Antiga Aliança.
Depois de toda essa riqueza recebemos ainda a pérola preciosa e o tesouro escondido dessa segunda leitura. O grande Apóstolo dos gentios nos diz: “Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação”. Creiamos nessa Palavra. É a Palavra de Deus para nós hoje. Essa Palavra Deus a inspirou num coração profundamente provado pela angústia e pelo sofrimento. Paulo nos diz na 2Cor 7,5 “(...) fomos afligidos de todas as maneiras; fora de nós, lutas; dentro de nós, temores.” Paulo é um homem forjado no sofrimento, mas mesmo assim afirma com convicção: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”. Essa certeza enche o coração do Apóstolo e, por isso, ele afirma: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”. Às vezes, em momentos de tribulação é impossível crer que os sofrimentos também possam contribuir para o nosso bem, mas contribuem. Deus não desejaria que fosse assim. Mas sendo assim por causa do pecado, Ele envia o seu Espírito, para que até dos sofrimentos e angústias possamos tirar um fruto e às vezes são os melhores frutos, talvez porque os busquemos com mais afinco. Peçamos hoje ao Espírito Santo, que é profusamente derramado sobre nós cada vez que nos reunimos para celebrar a Divina Liturgia, que Ele mesmo renove em nós essa certeza de que tudo, tudo mesmo, contribui para o nosso bem, uma vez que somos aqueles que amamos a Deus, ainda que com nossos limites. Peçamos também a graça de sermos como esse mercador feliz e como esse grande homem que encontrou um tesouro no campo. Peçamos a graça de ao encontrarmo-nos com o Reino dos Céus, que vem com poder na Igreja, sejamos sábios para não deixar que as preocupações do tempo presente nem os bens desse mundo ocupem o lugar primordial que só Cristo deve ter em nosso coração. Peçamos ainda como Salomão “dai-me, Senhor, um coração que escuta” a fim de que a Palavra semeada em nós de frutos e frutos que permaneçam.
Liturgia Dominical:
1ª Leitura: 1Rs 3,5.7-12
Sl 118
2ª Leitura: Rm 8,28-30
Evangelho: Mt 13,44-52
Fonte: Arquidiocese do Rio de Janeiro.
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