Muitos se perguntam qual seria o significado deste pequeno sinal, qual seria sua utilidade, ou ainda, se ele realmente é útil num momento em que muitos abusos ocorrem.
O sinal da paz ocorre logo após o Cordeiro de Deus (Agnus Dei) e é precedido pela seguinte oração, que é muito semelhante na forma ordinária:
"Senhor Jesus Cristo, que dissestes aos vossos apóstolos: "Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz": não olheis os meus pecados, mas para a fé da vossa Igreja; dai-lhes, a paz e a unidade, segundo a vossa misericórdia. Vós que sendo Deus, viveis e reinais, em união com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém."Forma Extraordinária
Seguido desta oração o sacerdote dá a paz aos ministros dizendo: "A Paz esteja convosco". Com este gesto é sinalizado um dos grandes efeitos da Sagrada Comunhão: o dom da paz.
Não é necessário que todos os fiéis realizem o sinal da paz para atingir seu significado, porém é permitido que os fiéis façam o sinal entre si quando for conveniente. Lembrando que não existe nenhum "canto de paz" e deve ser feito em ambiente silencioso por motivos muito profundos.
Este dom é concedido aos Apóstolos quando o Senhor aparece glorioso entre os discípulos e lhes mostra as mãos e o lado, atestando para eles a realidade da Ressurreição. As Escrituras afirmam:
"Disse-lhes ele: A paz esteja convosco! Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor."Evangelho de São João, 20, 19s
Do contato direto com o ressuscitado nasce uma grande alegria, que é um prazer espiritual, e dela brota a paz, que é sua perfeição:
"... a perfeição da alegria é a paz, de dois modos. Primeiro, quanto à tranquila libertação das perturbações exteriores; (...) E por isso o coração perfeitamente pacificado num gozo, por nada pode ser molestado, pois considera tudo o mais como quase não existente; (...) Segundo, quanto à satisfação do desejo volúvel, pois não gozamos suficientemente quando não nos satisfaz no objeto do nosso gozo. Ora, ambos esses casos implicam a paz, de modo que não sejamos perturbados pelas causas externas e descansemos os nossos desejos num só objeto."Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Ia IIae, q.70, a.3
Portanto, a Liturgia sinaliza esta realidade sublime e maravilhosa: a paz que brota no coração daqueles que tocam pessoalmente a humanidade do Cristo glorioso e ressuscitado. Deste contato com nosso Senhor surge um recolhimento profundo em que se despreza as coisas exteriores e um repouso de nosso desejo no Amado que favorecem uma união intensa na recepção da Eucaristia.
Esta paz é fruto da presença de Deus e não provém do esforço humano, sendo consequência da atuação do próprio Espírito Santo em nossas almas.
Os modos em que se podem dar o "ósculo da paz" entre os fiéis são variados, porém devemos lembrar: se a paz é recolhimento espiritual, então vemos que qualquer confusão ou atitudes que levam ao exterior sinalizam uma falsa paz, onde muitos caem no erro de tornar este momento barulhento, confuso ou um derramar-se para fora.
Ainda devemos lembrar as palavras de um dos grandes Santos Padres:
"«Acolhei-vos mutuamente e dai-vos o ósculo da paz». Não suponhas que este ósculo seja como os que os amigos íntimos se dão na praça pública. Este ósculo não é assim. Mas este ósculo une as almas entre si e é para elas penhor de esquecimento de todos os ressentimentos."São Cirilo de Jerusalém, Catequeses Mistagógicas, V, 3
Portanto, se nosso modo de conceder a paz é semelhante ao que vemos nas ruas, nos ambientes de trabalho ou locais públicos quando dois pagãos se encontram fica claro que não estamos sinalizando a paz cristã que é recolhimento, silêncio e união das almas entre si e com Cristo.
Para alguns esclarecimentos e recomendações oportunas da Santa Sé sobre isso existe uma Carta Circular que dá orientações claras para que se evitem determinados abusos: Carta Circular: O significado ritual do dom da paz na Missa
Que possamos experimentar e ser sinal da verdadeira paz que somente Cristo nos dá, que não é mundana, mas própria do Espírito Santo.