Quando o Espírito Santo faz morada em nossa alma vai nos configurando, cada vez de forma mais intensa, ao Sagrado Coração de Jesus.
É curioso notar um fato empírico: todos os santos que chegaram à sétima morada se encontram exclusivamente no mesmo lugar. Este lugar é onde está realmente o Cristo com seu Espírito Santo e o que possui os instrumentos eficazes para que possamos receber esta presença divina na alma.
Devemos lembrar que Cristo antes de subir aos céus deixou-nos claro todo seu poder:
“Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue.” (Mt 28,18)
Com esta autoridade no céu e na terra ele funda a Igreja e confia aos discípulos a grande missão:
“Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei.” (Mt 28,19s)
Que o ensino do mestre deva ser conservado é uma coisa óbvia para qualquer discípulo de qualquer mestre meramente humano. Porém chama a atenção a curiosa ordem de batizar as pessoas.
Vemos aqui que não basta conhecer e seguir os ensinamentos de Jesus, como se enganam muitos hoje em dia, pois se isso bastasse, o Cristo não teria dado a ordem do batismo com toda a autoridade do céu e da terra.
Portanto existe algo que acontece no batismo que não é possível se obter somente seguindo uma vida moral reta e honesta segundo os ensinamentos de Jesus. Podemos seguir apenas o ensinamento, mas veremos que serão apenas esforços humanos caindo na impossibilidade de chegar à sétima morada.
Isso é evidente pelo fato de que todos os santos, que foram pessoas que alcançaram as moradas mais elevadas da alma, eram batizados, enquanto que nunca se viu alguém alcançar estes níveis profundos de união à Deus sem o batismo. Com fatos tão claros assim, não podemos pensar que o batismo é algo simbólico, mas temos que notar que existe uma grande diferença concreta entre um batizado e um não batizado.
Então o que o batismo faz na alma para causar tal diferença? O batismo infunde o Espírito Santo na alma tornando presente nela as pessoas divinas. Somente a partir disto é possível alcançar a plena restauração que foi exposta e que não se limita apenas à um “ir para o céu ou para o inferno”.
Porém é necessário notar que só é possível receber o Espírito Santo daqueles aos quais foi confiado. Estas pessoas são os apóstolos aos quais o Cristo confiou-lhes: “Recebei o Espírito Santo.” (Jo 20,22)
Estes apóstolos foram os mesmos sobre os quais Jesus assentou sua Igreja, que é também chamada de Jerusalém Celeste, conforme podemos ver:
“A muralha da cidade tem doze alicerces, sobre os quais estão os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro.” (Ap 21,14)
Os mesmos aos quais disse:
“E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20)
Os mesmos que testemunharam a fundação da própria Igreja:
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela.” (Mt 16,18)
Os mesmos aos quais foram dirigidas estas palavras:
“Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou.” (Lc 10,16)
Portanto vemos que a Igreja não é uma simples comunidade de crentes, não é um clube onde encontramos amigos que pensam igual, não é um grupo de pessoas que se uniu em prol de uma causa, nem sequer um lugar para resolver nossos problemas ou um mecanismo para amortecer nossas angústias.
A Igreja é o lugar que possui os meios reais e eficazes para trilhar o caminho de restauração do homem à seu projeto original. É a própria presença de Cristo que se perpetua na história. É onde se encontra Cristo, de forma real e presente, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. É a Esposa do Cordeiro que se une à seu amado. É onde o Espírito Santo deve ser buscado pelos homens.
Por isso ensinava Santo Agostinho:
“Onde está a Igreja, aí está o Espírito de Deus. Na medida que alguém ama a Igreja é que possui o Espírito Santo. Fazei-vos Corpo de Cristo se quereis viver do Espírito de Cristo. Somente o Corpo de Cristo vive do seu Espírito”. (Santo Agostinho de Hipona).
Talvez ficasse a pergunta: se o objetivo é unirmos ao Cristo, porque parece que desviamos o foco para a Igreja? Porque na verdade a Igreja é a união de todas as almas que estão unidas à Cristo. Quando se une duas coisas, elas passam a ser uma só. Quando se une as almas à Cristo, Jesus e as almas passam a ser uma coisa só. Portanto amar à Igreja e participar dela, nada mais é que amar a Cristo e estar unido com Ele.
Por causa desta verdade o Apóstolo Paulo louva os que se aproximaram de tão grande mistério e obra de restauração humana:
“Vós vos aproximastes do monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém Celestial, e de milhões de anjos reunidos em festa, e da assembléia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, o Juiz de todos, e dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição, e de Jesus, mediador de uma nova aliança, e do sangue da aspersão mais eloqüente que o de Abel.” (Hb 12,22-24)
Que tão grande amor Deus tem por nós por colocar ao nosso alcance uma obra de redenção tão imensa, tão liberal, tão bela e tão perfeita.
Murilo Esteves Frizanco