“Se alguém não confessa de acordo com os santos Padres, propriamente segundo a verdade, como Mãe de Deus, a santa, sempre virgem e imaculada Maria, por haver concebido, nos últimos tempos, do Espírito Santo e sem concurso viril gerado incorruptivelmente o mesmo Verbo de Deus, especial e verdadeiramente, permanecendo indestruída, ainda depois do parto, sua virgindade, seja condenado” (Papa Martinho I durante o Concílio de Latrão, 664).
A virgindade de Nossa Senhora pode ser entendida em três dimensões:Virgindade de mente ou aspecto espiritual, que diz respeito à entrega total da Santíssima Virgem a Deus, por meio do Seu constante propósito de virgindade, evitando tudo aquilo que repugnava a perfeita castidade;Virgindade dos sentidos ou aspecto moral, o que podemos entender como imunidade dos impulsos desordenados da carne, a concupiscência;Virgindade do corpo, isto é, integridade física jamais violada por nenhum contato de homem algum. Essas três dimensões traduzem-se na expressão Aeiparthenos – “sempre-virgem” – termo grego usado pelos cristãos dos primeiros séculos para qualificar de modo singular e eficaz a pessoa de Maria Santíssima e exprimir numa só palavra a fé da Igreja em Sua virgindade perpétua.
A Igreja ensina este mistério e privilégio mariano com uma fórmula tradicional: virgem antes do parto, virgem no parto e virgem depois do parto. Essa verdade de fé foi proclamada como Dogma no Concílio Ecumênico de Latrão, em 649, e a partir deste ano toda a Liturgia Cristã enaltece a Virgindade Perpétua da Divina Mãe de Deus.
Entende-se, portanto, que o amor de Jesus à Sua Mãe, que havia oferecido a Deus Sua virgindade, fez que os planos divinos da redenção se realizassem, respeitando esse propósito de Maria Santíssima. Desse modo, a Maternidade e a Virgindade, dizia São Bernardo, são duas coroas que Deus quis concedê-la (cf. In assumptione B. Mariae Virginis: PL 183, 428).
Assim, o Dogma da Virgindade Perpétua deve considerar, principalmente, aintegridade corporal de Maria Santíssima, pois, como nos ensina a Igreja, Nossa Senhora:
- era virgem ao conceber a Nosso Senhor (antes do parto);
- foi virgem ao dar a luz ao Senhor (no parto);
- permaneceu virgem depois do nascimento de Cristo (depois do parto).
De acordo com o Magistério:
Em todos os Símbolos Apostólicos se declara a Fé quando se diz: "Creio em Jesus Cristo... que nasceu da Virgem Maria, por obra do Espírito Santo" (cf. DZ. 4,5,6,7,19,282).
b) Os Concílios e declarações pontifícias expressam com unanimidade esta verdade.
A Sagrada Tradição também nos afirma essa verdade, por meio de escritos dos santos:
Santo Irineu: "Era necessário que na restauração de Adão por Cristo... a desobediência virginal de Eva fosse desvirtuada e suprimida pela obediência virginal
de Maria".
São Jerônimo: "Cristo virgem e Maria virgem consagraram os princípios da virgindade em ambos os sexos".
Santo Agostinho: "Se com o nascimento de Jesus se houvesse corrompido a integridade da mãe, não haveria nascido de uma virgem, e, portanto, toda a Igreja
professaria falsamente que havia nascido de uma virgem".
Santo Efraim: "Entrou e habitou secretamente no seio; saindo depois do seio, não rompe o selo virginal".
"Enquanto o hedonismo, a sensualidade e a exaltação imoderadada do sexo vêm inundar e asfixiar a humanidade, o Senhor nos revela sua estima e seu apreço divino da pureza, unindo milagrosamente em sua Mãe o gozo da maternidade e o honra da virgindade." (Pio XII)
O que nos diz esse Dogma?
A virgindade perpétua de Maria Santíssima é um milagre operado por Deus e um privilégio concedido e intimamente ligado ao da maternidade divina. Este dogma mariano se explícita em três grandes momentos: antes, no, e depois do parto:
A Virgindade antes do parto:
Antes de conceber Jesus, Maria Santíssima não teve nenhum contato carnal humano e, ainda, concebeu o Senhor milagrosamente, isto é, sem o contato com um homem. A ação do sêmen viril foi suprimida milagrosamente por Deus, “por obra do Espírito Santo”.
Segundo a Sagrada Escritura:
- "A virgem conceberá e dará a luz a um filho." (Is 7, 14)
- "o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma virgem, o nome da virgem era Maria". (Lc 1, 26)
- “'Como será isso, pois não conheço homem algum? '. 'O Espírito Santo virá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra'." (Lc 1, 34-36)
- "José... não temas receber Maria, porque o concebido nela é obra do Espírito Santo". (Mt 1, 20).
- Em Mt 1, 16 e 18-25: "... Jacó gerou a José"; ao citar a seqüência das genealogias, o lógico seria continuar essa seqüência dizendo: José gerou a Jesus, mas se disse: "... Maria da qual nasceu Jesus".
Por razões de conveniência, São Tomás de Aquino nos explica que o Verbo que foi concebido eternamente na mais alta pureza espiritual, foi também concebido virginalmente quando se fez carne. Além disso, nos afirma que “para que a natureza humana do Salvador estivesse extinta do pecado original, converia que não fosse concebido por via seminal, mas por concepção virginal. Do contrário, seria um absurdo que Cristo tivesse necessidade de se redimido. Se fez igual em tudo a nós, menos no pecado (cf. Hb 4,15).
A Virgindade No Parto:
A Virgem Maria deu a luz ao Seu Filho primogênito sem perder a Sua integridade corporal e, ainda, Seu parto foi sem dor alguma. A Ela não alcançou o castigo que Eva recebeu: “gerarás teus filhos com dor” (Gn 3,16). O parto, em conseqüência, foi milagroso e de caráter extraordinário.
Segundo a Sagrada Escritura:
- "E deu a luz a seu Filho primogênito e o envolveu em panos, e o reclinou em uma manjedoura, porque na cidade não havia lugar para eles". (Lc 2,7)
- São Pio X, por sua vez, nos diz que o nascimento de Nosso Senhor foi "como um raio de sol que atravessa o cristal sem rompê-lo ou manchá-lo".
Por conveniência, São Tomás de Aquino expressa que “o Verbo, que foi certamente concebido e que procede do Pai sem nenhuma corrupção, devia, ao fazer-se carne de uma Mãe virgem, conservar Sua virgindade”.
A Virgindade Depois do Parto:
Depois de dar a luz a Seu Filho primogênito, Maria Santíssima, virginalmente permaneceu sempre virgem, até o final de Seus dias na terra, sem ter contato com homem algum, e em conseqüência, sem gerar outros filhos.
Segundo a Sagrada Escritura:
- "Pois não conheço homem algum" (Lc 1,34). Essas palavras indicam a resolução de Maria, opinião comum, fazendo o voto perpétuo de virgindade, o qual significa que aceita a concepção virginal de Cristo - por obra do Espírito Santo - e reafirma seu desejo de permanecer sempre virgem.
- "E não a conheceu até que deu a luz um Filho, ao qual pôs o nome de Jesus" (Mt 1,25). As palavras desse versículo: "E não a conheceu até que deu a luz..." tem induzido alguns a interpretá-la no sentido que, depois do nascimento de Jesus, entre a Virgem Maria e São José, houveram relações matrimoniais. Deve levar-se em conta o sentido bíblico que diz "até que", pretende ressaltar o que já tem ocorrido até esse momento: a concepção virginal de Jesus. A partícula não leva em conta a situação posterior.
A Igreja tem ensinado sempre a perpétua virgindade de Maria. Conforme as declarações do Magistério neste capítulo e os comentários sobre a passagem da Anunciação no capítulo 3 e, em particular, o dizem no v. 34 da mesma passagem. "Mulher, eis aí teu Filho" (Jo 19,26). Isso não haveria ocorrido, não seria lógico, se Maria tivesse outros filho que pudessem cuidar dela.
Maria Santíssima é a pureza personificada, o ideal vivente da virgindade. Por ela, escreve Santo Cura D'Ars: "Devemos professar uma fervente devoção à Santíssima Virgem, se quisermos conservar essa virtude; da qual não nos deve caber dúvida alguma, se considerarmos que Ela é a Rainha, o modelo de Patrona das Virgens..." (Sermão sobre a pureza)
A união virginal entre São José e Nossa Senhora:
Pode-se supor que entre José e Maria, no momento do noivado, houvesse um entendimento sobre o projeto de vida virginal. De resto, o Espírito Santo, que tinha inspirado a Maria a escolha da virgindade em vista do mistério da Encarnação, e queria que esta acontecesse num contexto familiar idôneo ao crescimento do Menino, pôde suscitar também em José o ideal da virgindade (João Paulo II, A Virgem Maria, p.79).
Precisamente em vista da sua contribuição para o mistério da Encarnação do Verbo, José e Maria receberam a graça de viverem juntos o carisma da virgindade e o dom do matrimônio. A comunhão de amor virginal de Maria e José, embora constitua um caso muito especial, ligado à realização concreta do mistério da encarnação, foi todavia um verdadeiro matrimônio (cf Exort. Apost. Redemptoris custus, 7).
Acreditar na virgindade de Maria é acreditar nos privilégios que Deus tinha por Sua Mãe. Ela era e é a Cheia de Graça, cheia das bênçãos de Deus, que pode tudo “Pois para Deus nada é impossível (Lc 1,37). “Maria é virgem porque a sua virgindade é o sinal de sua fé, “absolutamente livre de qualquer dúvida” (Catecismo da Igreja Católica, nº 506).
Fonte:
CATECISMO da Igreja Católica: Edição típica Vaticana. São Paulo: Loyola, 2000.
VALADÃO, Bruno. A Virgindade de Maria. Disponível em: http://www.virgemperegrina.com.br/formacao/mariologia/virgindade.asp. Acesso: Ago 2009.
AQUINO, Felipe Rinaldo de Queiroz de. (org.). A Virgem Maria – 58 Catequeses do Papa sobre Nossa Senhora/ Papa João Paulo II. Lorena: Cléofas, 2006.