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O Estado de Israel


Para que qualquer pessoa possa compreender a história do Estado de Israel, esta pessoa deve, obrigatoriamente, conhecer antes duas outras coisas: a história do território chamado Palestina e a história do povo judeu. Na verdade, qualquer tentativa de entender a existência de Israel obriga a que se conheçam essas duas outras histórias, pois elas formam um todo indissociável.

A Palestina

1) Introdução:

Uma das noções mais importantes para um historiador ou estudante de História é saber que o conceito de “país”, e o correspondente conceito de “nacionalismo” são
modernos. No mundo antigo, este conceito simplesmente não existia. E, quando passou a existir, não se estabeleceu ao mesmo tempo em toda a parte: nem mesmo hoje se poderia dizer que, em todas as regiões do mundo, as pessoas consideram que fazem parte de um “país”. O que identificava as pessoas, há muito pouco tempo atrás em termos históricos, não era “a sua nacionalidade” – pois, como eu disse, o conceito de “país”, como entendemos hoje, do qual deriva o de “nacionalidade”, nem sequer existia. O que identificava grupos, ou indivíduos, era a sua origem étnica, a sua proveniência territorial e, sobretudo e principalmente, a sua religião.

Se algum de vocês entrasse numa máquina do tempo e fosse até a Europa medieval, por exemplo, e perguntasse a um cidadão “que país é este?”, ele lhe responderia que você estava – por exemplo – “em terras do Barão X”. Ele saberia, é claro, o
nome de acidentes geográficos da região (lagos, rios, montanhas, vales), de vilas, localidades, cidades próximas e construções locais importantes: mas essas vilas, localidades, cidades e construções não formariam nenhuma unidade que se pudesse chamar de “país”. Se você adiantasse ou atrasasse a máquina do tempo para repetir a sua pergunta àquela pessoa em outra ocasião, ela lhe diria, talvez, que aquelas eram terras “do Duque Y”, ou do “Império Z”. Os nomes das localidades, vilas e cidades poderiam ser os mesmos ou ter sido alterados – mas, como eu disse, a idéia de uma unidade à qual se pudesse chamar de “país”, conforme entendemos hoje, era inexistente.

O território existente entre o que é hoje o moderno Egito e a moderna Turquia era chamado de “Rejtenu” pelos antigos egípcios – e depois, através do tempo, o território compreendido entre o mar Mediterrâneo até além do rio Jordão passou a ser conhecido como o território da “Palestina”. Este território, durante a Antiguidade, foi habitado por inúmeros grupos humanos, que se estabeleceram lá e mais ou menos dominaram, por períodos diversos, a região ou parte dela. Muitos deles são apenas vagamente conhecidos por nós, e sumiram ou foram absorvidos sem deixar vestígios, ou deixando muito poucos – enquanto outros estenderam seu domínio por espaços maiores, construíram cidades, mantiveram uma hegemonia na região por mais tempo; entre esses, estavam os hebreus. 


O que é importante entender nesta introdução é que:

- a noção de país, como entendemos hoje, é uma noção moderna e inexistente na região da Palestina até o século XX;

- a região da Palestina foi habitada por inúmeros grupamentos humanos e cada um desses grupos estabeleceu, por algum período, domínios sobre partes maiores ou menores da região, teve importância maior ou menor , e durou tempos diferentes.

2) História antiga da Palestina:

Este é um assunto muito, muito extenso – e com certeza o resumo aqui apresentado é mínimo. Mas, mínimo ou não, é claro que é necessário falar sobre a história antiga da região. Como eu disse, inúmeros grupos, maiores ou menores, mais poderosos ou menos poderosos, se estabeleceram por tempos diferentes na região.

Na Antiguidade, os homens estabeleciam vínculos com a geografia que os cercava sacralizando esta geografia: a ligação das pessoas com um lugar expressava a ligação dessas pessoas com algo
sagrado, maior, que transcendia a existência humana. Isto aconteceu em todas as instâncias em que qualquer grupamento humano estabeleceu uma relação com qualquer lugar do mundo – é, portanto, a condição fundamental para que existissem todas as civilizações humanas que jamais existiram. Em suma: nunca houve o que chamamos de civilização sem que estivesse presente, no início de sua história, esta condição - a de que ali, naquele determinado lugar, um grupamento humano tivesse criado um vínculo que considerava sagrado – e a partir dali, do ponto em que este vínculo foi criado, o grupamento expandisse o seu domínio, a sua civilização.

Assim foi com maias, egípcios, chineses, romanos, etc. E ainda com outros grupos menores, que não tiveram tanto sucesso tanto na sua extensão geográfica quanto na sua expansão no tempo, na sua duração – e por isso sabemos pouco, ou às vezes nada, sobre essas pequeninas civilizações que duraram pouquinho e se restringiram a um território menor.

É inegável que os hebreus chegaram ao território palestino, então ocupado pelos chamados canaanitas, no século XIII A.C. Há referências não-bíblicas a eles, encontradas, por exemplo, nas estelas egípcias do Faraó Merneptá. É verdade que as referências não-bíblicas concretas são relativamente poucas, e os historiadores precisam partir de referências bíblicas para confirmá-las via descobertas arqueológicas – muitas vezes encontradas, e outras, não. Mas o fato é que o conseso histórico, o consenso entre os historiadores, é de que os reinos de Israel e Judá de fato existiram, pois os detalhes de natureza política, econômica e comercial que constam nos textos bíblicos – combinados com o que se sabe sobre o Oriente Próximo via outras referências – são numerosos demais para que o império do rei Davi não tenha existido.

3) Os babilonios e os persas:

Ao
sacralizar a cidade de Jerusalém, através da construção de um templo para abrigar a sua Arca da Aliança, o povo hebreu, portanto, criou ali um ponto que para sempre permaneceria como um marco de identificação entre eles, como pessoas – e aquele específico “local geográfico”. Esta associação tem-se mostrado indestrutível, e eu voltarei a ela diversas vezes, em outras partes desta história.

Os babilônios, sob o grande rei Nabucodonosor, foram os primeiros a conquistar o reino hebreu, e a destruir o Grande Templo do rei Schlomo. A derrota de Israel e Judá para os babilônios - e mais que isto, a destruição de seu Templo Sagrado - constituiu-se na primeira vez em que os judeus foram obrigados a deixar a terra - sacralizada por eles e dessacralizada, no seu entender, pelos babilônios que os venceram - para se espalhar pelo mundo. Foi a primeira diáspora – mas não a única. E é importante notar que nem todos os hebreus “foram embora” da Palestina; muitos ficaram, para viver sob o domínio dos conquistadores.

Mas o império de Nabucodonosor acabou se desfazendo – e Ciro, rei dos persas, os venceu, por sua vez, passando a dominar a região. Ciro era tolerante, e os exilados hebreus começaram a voltar ao seu antigo reino de Israel e Judá, para lá se fixar outra vez. Não como “dominantes”, claro - mas como habitante da região, sob domínio persa. E logo reconstruíram, porque lhes foi permitido, seu antigo Templo – reestabelecendo o elo de sacralidade entre eles e aquele lugar de forma visível, concreta.

Como talvez alguém comece a entender, o que moveu, ininterruptamente, os hebreus para a região da Palestina foi sempre muito mais o “vínculo sagrado” do que qualquer outra coisa. Os judeus não se importavam de viver na região sob o domínio político de outros povos: era a existência concreta de seu Templo Sagrado, o que ele representava como vínculo transcendente, que os movia a permanecer lá e a retornar para lá, quando era o caso.

4) Os hebreus no exílio:

Depois da derrota para os babilônios e da derrubada do Templo de Schlomo, os judeus se espalharam por todo o império babilônio. Antes que Ciro vencesse os babilônios, e possibilitasse, para os exilados, a reconstrução do Templo e portanto o impulso de retornar, os hebreus no exílio criaram, a partir da ausência deste símbolo visível que fora o Templo, uma extraordinária reforma religiosa e intelectual – que resultou no que conhecemos como Judaísmo.

Como o Templo concreto estava destruído, a Torah passou, no universo interior dos hebreus no exílio, a representá-lo simbologicamente. Artaxerxes, o imperador persa no século V A.C., não tinha nenhum interesse em promover encrencas e brigas entre os povos que seu império dominava, e não só não se opunha, como incentivava que eles preservassem sua religião e o código ético dela derivado, que aliás não se opunha ao seu. De modo que uma
identidade judaica, dentro e fora da Palestina, com ou sem a existência concreta do Templo, começou a existir, fundamentada na Torah como vínculo, e não tornando mais obrigatório, para grande parte dos hebreus, que existisse o vínculo concreto que o Templo representava. De alguma forma, era como se a perda deste vínculo sagrado que o Templo de Schlomo representava deixasse de ser tão penosa para os hebreus, já que a Torah, não tendo existência material e sim espiritual, era um tesouro indestrutível, que nenhum conquistador poderia “derrubar”, pois não era feita de pedras e argamassa, e sim de fé.

Este fato, que eu menciono aqui e agora, será fundamental para a compreensão de todos os acontecimentos posteriores, inclusive para que se entenda o sionismo, que explicarei mais tarde, também.

5) Os gregos:

Durante mais de dois séculos, os judeus foram súditos fiéis dos persas, que haviam sido tolerantes com eles, e os tratado bem, e permitido que seguissem a Torah em toda a província palestina – e ficaram, portanto, aterrorizados com a notícia de que um novo conquistador havia derrotado Dario, o rei dos persas na época, em 333 A.C.: este novo conquistador se chamava Alexandre, era grego da Macedônia, e era cognominado “O Grande”.

Recapitulando, portanto: os conquistadores da região da Palestina depois de lá estabelecido o reino de Israel e Judá foram os babilônios, depois os persas, e depois os gregos, até esta época da qual falo.

Embora a cultura grega fosse tão importante que atingiu praticamente todas as outras com as quais entrou em contato, e tenha fortemente influenciado praticamente todas, os judeus da Palestina tiveram pouco contato com ela, no início. Os judeus não tinham lá muito interesse na política internacional da época, e preferiam viver quietos no seu canto palestino, sem chamar muita atenção – mas não eram, evidentemente, os únicos a viver na região, pois é claro que babilônios e persas igualmente povoavam o mesmo território, junto com eles! No entanto os gregos, principalmente depois da morte de Alexandre, volta e meia cruzavam o território palestino indo da Ásia Menor para o Egito ou a Síria, e o fato é que os povos locais - os habitantes da região - passaram a considerar o helenismo como arrogante, militarista e violento.

E embora no começo os gregos também não se intrometessem tanto assim nos territórios que agora eram de seu domínio, aos poucos foram impondo o seu modelo, que muitas vezes entrava em choque com o modelo profundamente religioso dos judeus. Ginásios, acrópoles, jogos olímpicos, etc, foram primeiro vistos com extrema desconfiança, como coisas materialistas e chocantes – e, embora inevitavelmente a cultura grega (como em todos os lugares pelos quais se difundiu) acabasse por proporcionar uma extraordinária síntese com a cultura judaica, e muitos judeus que habitavam a região, assim como seus conterrâneos descendentes de babilônios ou de persas, tivessem adotado em parte esta cultura grega - outra parte desses judeus permaneceu vendo aquilo como uma ameaça aos fundamentos do Judaísmo, e à sua lei moral. Esses judeus consideravam os gregos mercenários materialistas – e grande parte dos gregos consideravam aqueles conquistados uma gente atrasada, cheia de manias obsoletas, e supersticiosa... (* - ver nota no final)

O fato é que, resumindo, acabou por haver na Palestina tanto judeus que defendiam uma educação inteiramente helênica, como judeus que defendiam uma educação nada helênica, como ainda outros que defendiam uma conjugação entre a Torah e o helenismo.

Esta situação acabou provocando uma encrenca – que eu menciono por ser considerada a primeira perseguição inteiramente religiosa da História humana: e foi feita contra os judeus ortodoxos, que se recusavam a ter alguma coisa a ver com a cultura grega. Mais uma vez eu chamo a atenção para o fato de que não se tratou de algo político – muito menos de se rebelar contra conquistadores. Os judeus havia vivido na região sob o domínio persa, como súditos fiéis – pois os persas lhes permitiram manter sua religião e seus costumes. Teriam vivido sob o domínio grego, também – mas os gregos, a horas tantas, e por causa de disputas internas, passaram a proibir a liturgia do Templo, o descanso do Shabbat, a circuncisão e a observância das chamadas “leis da pureza”. Mães foram jogadas das muralhas de Jerusalém com seus bebês, e outra viu seus sete filhos morrerem torturados um por um, exortando cada um a enfrentar a morte, mas não renegar a Torah – até que ela também foi executada.

E devido a esta perseguição a Torah teve reforçado seu caráter simbológico, e assumiu um aspecto ainda mais importante para os judeus: pricipalmente depois que o governador da província, Antíoco, reformou o Templo de Schlomo ao estilo grego, plantou árvores nos pátios, levantou colunas nos espaços rituais – e dedicou-o ao Zeus Olímpico. Eu diria que a intenção destes colonizadores gregos, assim como a de alguns judeus que concordavam com eles, era reformar coisas que eles consideravam primitivas e ultrapassadas – mas a maioria dos judeus se rebelou, mais uma vez, ao ver pela segunda vez a dessacralização de seu Templo e de suas tradições.

Um desses revoltados foi um judeu chamado Judas, apelidado o “Macabeu”- o “Martelo” . Judas Macabeu era o líder de um grupo que lutava contra os gregos e sírios, e se insurgia contra as proibições antioquenas. Em 164 A.C., ele e seus comandados conseguiram dominar Jerusalém, e Antíoco foi obrigado a revogar as proibições. Ao ver as portas do Templo queimadas e os pátios sagrados cheios de bosques gregos e de colunas, conta-se que o Macabeu se prostrou diante delas, esmagado pela dor e pela fúria, e jurou reconstruir, pela segunda vez, o Templo violado do rei Schlomo. Durante três anos Judas Macabeu e os judeus de Jerusalém se empenharam em purificar e restaurar o local, e por fim reacendeu-se o candelabro sagrado de sete braços: então, os judeus percorreram o espaço sagrado em procissão, levando ramos verdes, e o rededicaram a Yaveh - e foi decretado que todos os judeus, daí por diante, comemorariam todos os anos este dia com uma celebração – à qual chamaram Hannukah, ou “Dedicação”.

Infelizmente, a partir daí ocorreram excessos – e para o povo judeu começou a parecer que não havia lá muita diferença entre os governantes judeus e os estrangeiros seus antecessores, já que a corrupção grassava entre ambos. Os novos governantes judeus recomeçaram a estender o domínio judaico, e muitos acreditavam que voltariam os tempos do rei David, e do grande reino de Israel e Judá: mas, neste período, por causa da corrupção e das divergências internas, surgiram as diferentes seitas do Judaísmo: os saduceus, os essênios, os fariseus - e estas seitas começaram a brigar entre si. Muitos judeus apoiavam os governantes e a expansão que se anunciava; enquanto outros, ao contrário, afirmavam que “era melhor viver sob o jugo de estrangeiros do que ser governado por maus judeus”.

Durante este período de confusão, uma facção judaica resolveu se aliar a Roma, o grande império que surgia, contra a outra facção: pois, como eu expliquei, eram judeus lutando contra judeus, neste triste período.

E foi assim que um general romano chamado Gnaeus Pompeius Magnus, ao qual esta facção judaica se aliara, apareceu no cenário, em 63 A.C. - e depois de matar doze mil judeus da facção adversária, entrou no Templo, atravessou o espaço sagrado do Hekhal, e contemplou a escura santidade do Kodesh Hakodashim, o local mais sagrado de todos, só acessível ao Sumo-sacerdote judaico.

Para todos os judeus, mais uma vez o Templo fora profanado – desta vez por um romano, e aliado de parte do povo judeu! O general romano, compreendendo a “gafe”, se apressou em se retirar e em mandar que os judeus purificassem o seu Templo: ele não fizera aquilo por mal. Mas o fato é que a ocupação romana do território chamado Palestina começou com uma violação do Templo.

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(*) Nota: Outros povos e os gregos:

Abro este pequeno parênteses para explicar que não foram apenas os judeus que consideraram os gregos materialistas arrogantes, muito inteligentes mas “estéreis”, espiritualmente falando. Também outros povos profundamente religiosos ou místicos acharam a mesma coisa. A tal ponto que não apenas esses povos sofreram a influência dos gregos – mas os gregos também sofreram a influência desses povos, de seu fervor religioso, de sua fé profunda, de sua ligação com um universo Transcendente. Os sacerdotes egípcios, os magos persas, os brâmanes indianos - muitas vezes pareceram aos gregos mais sábios que seus próprios sábios. Os gregos realmente se impressionaram ao entrar em contato com esta espiritualidade: e isto também contribuiu para reforçar a fé e a auto-estima destes povos, entre os quais o povo judeu.

Esta primeira parte do artigo se encerra então, por enquanto, no começo do domínio romano do território da Palestina.

O que deve ficar claro é que, durante 1300 anos, o povo judeu esteve ininterruptamente presente neste mencionado território chamado Palestina – fosse sob seu próprio domínio, fosse sob o domínio dos babilônios, dos persas ou dos gregos: tão fortemente ligados eram eles a este território no qual haviam erguido seu Templo sagrado, por duas vezes destruído e posteriormente reconstruído por eles, durante esses mil e trezentos anos!

Neste momento o general romano Pompeu tenta corrigir a sua gafe diante dos olhos horrorizados dos judeus.

6) Os romanos:

A Palestina era um território, por sua localização, estratégico – como até hoje é, claro. Os romanos tinham como paradigma não hostilizar gratuitamente seus súditos – e desta forma adotou na Palestina uma política mais ou menos conciliadora, só intervindo para sufocar alguma rebelião quando a coisa saía de controle. Foi numa dessas ocasiões, em que Roma precisou intervir para acabar com uma revolta que estava saindo de controle, que instalou lá, para governar a província em nome do Império, um sujeito chamado Herodes. Instalado em Jerusalém, Herodes governou com plenos poderes, e se especializou em mandar matar todos os seus desafetos e eventuais possíveis desafetos.

Sendo um habilíssimo manipulador político, conseguiu impor a paz na região – admitindo a liberdade religiosa na Palestina, coisa que – como já se viu – era essencial. Então, os judeus podiam livremente manter suas práticas rituais, enquanto ao mesmo tempo Herodes mandava erguer templos aos deuses gregos e romanos, dos quais era devoto – sim, Herodes, Tetrarca da Galiléia, era considerado religioso e devoto, a seu modo... Mas, em Jerusalém, para não criar caso com os judeus, Herodes não ergueu nenhum desses templos. Ao contrário: em 19 A..C., Herodes decidiu reformar o Templo Sagrado dos judeus, para ampliá-lo e melhorá-lo. O tamanho e o formato do Templo em si não podiam ser alterados sem ferir os preceitos – mas Herodes tornou-o mais rico e mais belo, usando para revesti-lo mármores especiais, brancos com veios vermelhos e azuis, e decorando as portas do átrio com vinhas de ouro, das quais pendiam cachos de uvas também de ouro, e com cortinas de linho escarlate, azul e púrpura, com bordados que representavam o sol, a lua, e os planetas e estrelas...

Os judeus, que de início viram com desconfiança esta iniciativa, aos poucos passaram a confiar no romano que demonstrava tamanha boa vontade que, para não ferir os preceitos judaicos, fez com que se sagrassem mil sacerdotes judaicos e mandou que lhes ensinassem os ofícios de pedreiro e carpinteiro, para que a reforma do Hekhal e do Kodesh Hakodashim fosse executada por mãos puras, não profanas. Nem por um único dia os sacrifícios rituais foram interrompidos – outra preocupação dos judeus. E, já que não seria possível ampliar o Templo, Herodes mandou que se ampliasse a esplanada do Templo – obra tão gigantesca que por oitenta anos ocupou dezoito mil trabalhadores, e Herodes não viveu para vê-la pronta. Jerusalém atraía gente de toda a parte do mundo conhecido – e os judeus se sentiam prestigiados pela complacência e a benevolência do governador romano.

Mas, estranhamente, foi neste período que, como nos tempos da diáspora - a dispersão dos judeus pela Babilônia - aos poucos mais e mais judeus se voltavam, por toda a Palestina, para as sinagogas locais – passando a prescindir do grande e belíssimo Templo em Jerusalém – chamado de “Segundo”, embora fosse o Terceiro, na verdade – o Segundo era o de Judas Macabeu, o Martelo. Quem mais prestigiava o Templo eram os da seita dos fariseus, que adotavam uma postura separatista e elitista, recusando-se a falar ou a comer na companhia dos “goyim”, ou “gentios”.

Bom – esta era a situação na Palestina, e em sua grande cidade, Jerusalém. Enquanto a cidade resplandecia em festas, sob o domínio do grande Império Romano, e o Templo se enchia de fariseus, os essênios de Qumran consideravam mais e mais este Templo que o romano reformara como contaminado, e não queriam se aproximar dele, preferindo uma vida ascética e pura, considerando a Torah o único Templo verdadeiro, e Yaveh a única fonte de toda a bênção.

Os cristãos que me lêem saberão de qual dessas duas seitas o Rabbi Yeshua bar-Joseph se aproximava.

Bem – mas esta é um artigo que pretende chegar ao Estado de Israel, e não sobre a história do Cristianismo; portanto, eu não posso me deter neste episódio, por mais significativo que ele seja para mim, pessoalmente.

O fato é que Herodes - um alucinado de quem se poderia esperar qualquer coisa, e que a esta altura da vida já tinha mandado matar a mulher, a quem supostamente adorava, e de quebra três de seus filhos, acusando-os de tramar contra ele (o que era verdade, diga-se) - um belo dia resolveu erigir, sobre a porta do Templo que reformara, uma águia de ouro, símbolo do Império Romano. Como eu já disse, o povo judeu suportava qualquer coisa, exceto a violação de seu Templo – e logo jovens judeus derrubaram a águia simbólica do portal do Templo. Herodes, que estava a esta altura ocupado morrendo, levantou-se, adiou a própria morte sabe-se lá como, e mandou executar os culpados da derrubada do símbolo imperial. E aí voltou pra cama e finalmente morreu.

A situação em Jerusalém ficou confusa: havia raiva por causa da execução dos mártires da derrubada da águia, mas ainda assim os judeus fariseus não se opunham ao governo romano; no entanto, com Herodes recém-morto, e sem um outro governador romano designado, as coisas pareciam perigosamente desestabilizadas. Foi nesta ocasião que soldados judeus foram chamados pelos prepostos romanos para controlar uma turba dentro do recinto do Templo, com medo de que houvesse confusões e protestos: e o fato é que houve mesmo a esperada confusão, na qual três mil judeus foram mortos por soldados também judeus. O que representou, num curto espaço de tempo, mais uma profanação do Templo sagrado.

Parte da Palestina parecia revoltada com os romanos, e parte justamente queria um novo romano para botar ordem nas coisas; alguns fariseus chegaram mesmo a mandar uma delegação ao imperador romano Augusto, pedindo urgência para que ele designasse logo um outro mandatário romano para a região.

Os sacerdotes do Sanhedrin, o Sinédrio Judaico, tentavam manter a calma da população para evitar sacrifícios inúteis – mas a coisa novamente pegou fogo quando o novo prefeito, um romano chamado Poncio Pilatos, mandou seus soldados, durante a noite, pendurarem estandartes com a efígie de César no alto da torre Antonia, que ficava perto do Templo. Ao amanhecer, quando viram aquilo, os judeus de Jerusalém se enfureceram , e uma verdadeira multidão marchou até Cesaréia, onde ficava a casa do prefeito, para protestar contra mais esta violação. Ficaram acampados pacificamente por cinco dias, quando Pilatos os chamou para que se reunissem no anfiteatro de Cesaréia, onde lhes daria uma resposta. Na verdade, o romano armara uma emboscada: e quando os judeus se juntaram no anfiteatro, Poncio mandou que suas tropas os cercassem, de espada em punho.

Aproximava-se a hora em que um profeta judeu, da linhagem do rei Davi, nasceria - para produzir uma profunda alteração na História não apenas dos judeus ou da Palestina – mas de toda a humanidade.

O que o prefeito romano não esperava era que os judeus, como se fossem uma única pessoa, se prostrassem no chão, descobrindo a nuca, e gritando que preferiam a morte a ver seu Templo violado. Poncio Pilatos, diante desta inesperada reação, que certamente se fosse enfrentada com violência pelos seus soldados levaria toda a Palestina a se levantar contra Roma, cedeu, e mandou retirar os estandartes. O prefeito Poncio, deste episódio em diante, passou a temer a capacidade de resistência dos judeus, e a sua tenacidade...

O que o levaria a, quatro anos depois, não se opor à multidão que exigia dele a crucifixão de um prisioneiro judeu que ele próprio considerava inocente, e cuja condenação à morte ele achava injusta.

7) O episódio importante, quatro anos depois:

Foi num domingo que, liderada por um homem montado num jumento, uma pequena multidão desceu o monte das Oliveiras, atravessou o vale do Cedron e entrou em Jerusalém, sacudindo ramos e gritando “Hosana nas alturas ao Filho de Davi!”, e dirigiu-se diretamente ao Templo. O homem que montava o jumentinho desceu, improvisou um chicote com pedaços de corda, e passou a golpear com ele os vendedores que lá estavam, expulsando-os, enquanto bradava que eles haviam transformado um lugar sagrado num covil de ladrões. Por muito tempo o profeta permaneceu pregando nos pátios do santuário, enquanto uma multidão se reunia à sua volta para ouvi-lo dizer que “não restaria pedra sobre pedra daqueles grandes edifícios, e tudo seria destruído”.

Os sacerdotes do Sinédrio botaram as mãos na cabeça quando souberam do fato – vendo naquilo uma ameaça, temendo que aquilo significasse uma nova profanação do Templo, uma nova revolta, novos pretextos para que os governantes romanos, ou os próprios judeus, causassem milhares de mortes! Caifás, o Sumo-sacerdote judaico, quis a imediata supressão daquele profeta inconveniente – mas, a rigor, não podia acusá-lo de nada: embora ele avisasse que o Templo seria destruído, ele mesmo, e os que o acompanhavam, não haviam feito nada neste sentido... Havia, no entanto, uma acusação cabível pela lei Judaica: que era a de blasfêmia. Como os judeus não podiam condenar ninguém à morte, pois não tinham autoridade para isto – esta autoridade era reservada aos governantes romanos – os sacerdotes do Sanhedrim, acompanhados de uma multidão, dirigiram-se ao prefeito Poncio para exigir dele a condenação à morte do profeta nazareno vindo da Galiléia, e que pregava a destruição do Templo!

Como eu disse, o prefeito temia a reação daquela massa de judeus, que podia ser inesperada - como há quatro anos atrás, quando ele tentara emboscá-los e assustá-los no anfiteatro de Cesaréia.

E portanto, mesmo a contragosto, achou melhor ceder, e obedecer ao que lhe era exigido: assim, não sem antes avisar que “não era ele que derramava aquele sangue”, Poncio Pilatos, pretor romano e prefeito de Jerusalém, condenou à morte pela crucifixão o profeta judeu Yeshua bar-Joseph, mais tarde conhecido por Jesus Cristo, e considerado por muitos o Messias prometido.

*) Alguns comentários sobre o episódio importante e suas consequências:

Ao contrário do que supõem muitos cristãos, os judeus, mesmo os sacerdotes do Sinédrio, não se tornaram inimigos dos seguidores do profeta que haviam mandado crucificar. Na verdade, não os perseguiram, não mandaram prendê-los ou perseguí-los – e nem mesmo tomaram muito conhecimento deles. O problema judaico era evitar, a qualquer custo, violações ou ameaças ao Templo, já que elas se refletiam até lugares distantes, provocando revoltas e mortes por toda a terra palestina. O interesse era viver o melhor possível com os romanos e evitar qualquer tipo de violação ao Templo e às tradições, repito.

Os discípulos de Jesus, também ao contrário do que muitos pensam, mesmo depois de terem sido testemunhas de sua ressurreição continuaram a viver como judeus – eram judeus – e a respeitar escrupulosamente a Torah, embora continuassem a dizer que aquele Templo seria destruído, para ser substituído por outro que não seria construído por mãos humanas, e sim pela vontade de Yaveh.

Como os essênios de Qumran, viviam sobriamente, mesmo pobremente. Sua devoção era atraente e sincera, e logo conquistou a simpatia de muitos outros judeus, e o próprio Sinédrio acabou aceitando aquela nova seita como um movimento legitimamente judaico. Ninguém, àquela altura, imaginava que aquela era uma “nova”religião – era vista como um movimento dentro do Judaísmo, como o de Qumram – e Tiago, chamado de “o irmão de Jesus” usava as vestes sacerdotais e tinha mesmo obtido permissão para orar no pátio dos sacerdotes do Templo.

Foi por volta de 40 D.C. que os primeiros choques com o Judaísmo começaram a surgir – e mais uma vez, por causa do Templo. Os pregadores deste novo movimento não paravam de afirmar que o verdadeiro Templo era o que existia simbolicamente no coração dos homens, e que aquele que ali estava seria destruído, etc. Para piorar as coisas, um fanático combatedor deste movimento até ali trocou subitamente de lado, ao ter uma avassaladora visão de Jesus quando estava a caminho a Damasco (para perseguir uma Igreja local) – e se tornou o seu principal defensor. O nome deste homem era Paulo de Tarso, e ele logo se tornou um dos líderes cristãos de Antioquia – local, aliás, onde o nome “cristão”foi cunhado, pois os seguidores do movimento afirmavam que seu Mestre era o Christos, o Ungido - o Messias, enfim.

A necessidade de mencionar o Cristianismo deriva do fato de que ele representou, sobretudo depois de aparecer Paulo de Tarso, uma espécie de “suplantação”do Judaísmo tradicional – e esta suplantação, ou superação, que oferecia Jesus em substituição ao Templo, e mesmo à Torah, como a expressão da Revelação Divina, encontrou um eco profundo em inúmeros outros lugares do mundo Greco-romano. Este novo paradigma dispensava inúmeros preceitos por considerá-los desnecessários, e oferecia a qualquer pessoa, através do batismo, a inclusão num universo que ligava essencialmente a humanidade a Deus, independentemente de sua origem étnica.

Era natural que os judeus se escandalizassem com o que lhes parecia, mais uma vez, uma violação – e mesmo Tiago, que representava a proximidade de Jesus com a prática do Judaísmo, e com o qual o Sinédrio judeu convivia legitimamente, ficou chocado.

Depois do cisma que o Cristianismo representou, mais eles redobraram seu zelo em relação ao Templo, e a toda a geografia sagrada que até então sempre fora importante para eles, e da qual todas as vezes que se afastavam as coisas pioravam terrivelmente. O domínio romano da Palestina continuava, e a cada novo imperador as coisas podiam melhorar ou piorar – para qualquer dos povos dominados, fosse onde fosse, não só para os judeus na Palestina – houve Calígula e houve Claudio, por exemplo, sendo um louco que perseguia a todos e o outro um pacifista que representou um período de relativa calma; mas o fato é que conseguiu- se estabeler um modus vivendi com Roma, e bem ou mal os Sumos-sacerdotes judaicos e os governantes romanos colaboraram entre si amistosamente até cerca de 60 D.C.

Nesta época, a situação degenerara mais uma vez entre os judeus, parte dos quais não queria se opor a Roma, por considerar isto um suicídio, e parte dos quais queria acabar com aquela história de domínio romano e voltar a eles mesmos a dominar, sozinhos, a Palestina – como no tempo do Macabeu, e antes dele do rei Davi!

Um governador romano da Palestina, ao tentar conter uma revolta, precisou de dinheiro e acabou por meter a mão no tesouro do Templo – o que contribuiu para aumentar a revolta; os cristãos que ainda viviam na Palestina, sobretudo em Jerusalém, resolveram abandonar a região e a cidade, que achavam que seria destruída, como Jesus profetizara – enfim, a situação era de polvorosa.

Foi quando Roma designou, para conter a revolta, o seu melhor general – Vespasiano. Que chegou à Palestina em 67 D.C., acabando sistematicamente com todos os pontos de oposição ao Império Romano. Ao ser proclamado imperador no ano 70, Vespasiano voltou a Roma, deixando seu filho Tito encarregado de conter os revoltosos judeus.

Em fevereiro do ano 70, Tito cercou Jerusalém, dentro da qual milhares de judeus estavam dispostos a morrer defendendo a sua cidade. Pouco a pouco, no entanto, ela foi sendo tomada, muralha por muralha.

Quando em 28 de agosto do mesmo ano os exércitos romanos de Tito entraram finalmente nos pátios do Templo de Schlomo, encontraram 6.000 judeus, hierarquicamente ocupando seus respectivos pátios, sem invadir os lugares nos quais não podiam entrar, heroicamente dispostos a morrer lutando – “os plebeus combatiam no pátio de entrada, os nobres nos pátios internos, e os sacerdotes no santuário propriamente dito”.

Mas não houve jeito: Tito incendiou o Templo, destruindo-o completamente – e ao perdê-lo, desta vez definitivamente, o que restou dos judeus se rendeu, pois não havia mais pelo que lutar.

Não há muito como descrever o luto que cobriu os judeus na Palestina depois da destruição do seu Templo. Foi um tempo de profunda, de dolorosa depressão para os judeus. Todos os escritos da época são sombrios e desesperançados, como se uma nuvem de desolação cobrisse toda a Palestina. O povo judeu não esquecia seu Templo, e mais uma vez precisou de todas as suas reservas de coragem para sobreviver àquela perda devastadora.

No entanto, alguns lembraram os tempos dos seus antepassados exilados na Babilônia, que haviam encontrado consolo no estudo da Torah, e na substituição do Templo exterior e material por este outro Templo interior e espiritual, indestrutível – e foi então que os rabinos conhecidos como Tanaim começaram a codificar as leis orais que haviam se desenvolvido pelos séculos, construindo um novo código, chamado a Mishnah – uma espécie de Jerusalém simbológica, que acompanharia os judeus por onde estivessem, fosse onde fosse, extinguindo os limites do espaço e do tempo.

Mas, ainda assim, os rabinos diziam que um dia haveria uma Nova Jerusalém, e um Novo Templo – construídos por Deus. Uma de suas orações dizia – “Senhor, olhai em Tua grande misericórdia para Israel, Teu povo; para Jerusalém, Tua cidade; para Sião, Tua glória; para o Templo, Tua morada; e para o Reino da Casa de Davi.”

Assim tristemente viveram os judeus na Palestina, nesta época – sua presença na região já se estendia por quase 1.500 anos, um e meio milênios, sem interrupção, e sob as condições mais penosas, muitas vezes – quando, por volta do ano 120, um imperador romano chamado Públio Aélio Adriano resolveu ir perambular pelos seus domínios no mundo, para tentar construir a imagem de um governante simpático e amável, que se interessava pelo bem-estar dos povos que dominava. Ao chegar na Palestina, em 130, Adriano resolveu reconstruir a Jerusalém devastada, que praticamente virara uma base militar entre as ruínas da antiga cidade, na tentativa de agradar aos judeus.

OBS: Continua, numa próxima sequência, pois qualquer artigo muito longo cansa a leitura. Té a próxima!

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