Símbolo de status no passado, o smartphone da fabricante RIM deixa de seduzir os consumidores e fica para trás na disputa com os rivais.
Por Bruno GALO
Assim que o presidente americano Barack Obama foi eleito, a notícia de que ele não abriria mão do seu BlackBerry durante seu mandato correu o planeta. “Ele é o primeiro presidente BlackBerry”, declarou, na ocasião, o cantor Bono Vox, vocalista da banda irlandesa U2, após uma reunião com Obama. O ano era 2008 e o telefone inteligente da fabricante canadense Research in Motion (RIM) estava no auge, visto como um símbolo de modernidade pelos profissionais da política e dos negócios à época, o hoje onipresente smartphone da Apple, o iPhone, era um récem-nascido, lançado alguns meses antes. Já o primeiro aparelho com o sistema operacional do Google, o Android, seria lançado apenas em outubro daquele ano.
O futuro, portanto, parecia promissor e as oportunidades de crescimento infinitas para o BlackBerry. A palavra adequada é essa mesmo: parecia. Desde então o mercado de smartphones mudou radicalmente, e o BlackBerry passou a viver momentos difíceis. As ações da empresa, que atingiriam seu pico em junho de 2008, cotadas a US$ 144, caíram para US$ 6,3 em setembro deste ano. Em valor de mercado, a empresa chegou a ser avaliada em US$ 75 bilhões, muito acima dos atuais US$ 4 bilhões. A participação de mercado também minguou: se nos dias de glória ela superava os 50% nos EUA, hoje está em 5%. Tão ou mais delicada que os números ruins, no entanto, é a percepção que os consumidores passaram a ter do equipamento.
Uma reportagem publicada no The New York Times na semana passada dá uma boa dimensão desse fenômeno. O jornal nova-iorquino traz depoimentos de clientes nada elogiosos à reputação do aparelho. “Tenho vergonha dele”, disse Rachel Crosby, representante de vendas em Los Angeles. Rachel contou ainda que esconde o celular com medo de que seus clientes formem uma opinião negativa sobre ela. As principais reclamações dos donos do smartphone da RIM são a falta de aplicativos disponíveis em plataformas rivais, como iPhone e Android, a qualidade inferior das fotos tiradas e do seu navegador de internet.
Por conta disso, frequentemente os usuários se veem obrigados a pedir a amigos para buscar algum endereço ou fazer a reserva de um restaurante, entre outras atividades. “Sinto-me completamente inútil”, afirmou Victoria Gossage, que trabalha em um fundo de investimento americano. No campo financeiro, por sua vez, as notícias também são decepcionantes para a RIM. Em junho deste ano, a companhia anunciou seu primeiro prejuízo operacional em oito anos e informou que vai demitir cinco mil funcionários, quase um terço de sua força de trabalho. Para reverter esse quadro, a empresa aposta no BlackBerry 10, seu novo aparelho que deve ser lançado em março do ano que vem.
“Temos trabalhado duro e dormido pouco”, declarou no fim de setembro o CEO da RIM, Thorsten Heins, que assumiu o cargo em janeiro de 2012. “Temos o objetivo de ser o terceiro maior ecossistema móvel do mundo”, afirmou. Quando questionado do porquê de não ter como meta ser o líder do setor, ele respondeu: “Precisamos escalar a montanha um degrau por vez.” A boa notícia para a companhia é que, em meio a todo esse cenário, alguns usuários ilustres continuam fiéis ao aparelho. É o caso justamente de Barack Obama. Em campanha pela sua reeleição, o presidente foi flagrado recentemente pela imprensa americana se atrapalhando na hora de fazer uma ligação com um iPhone. “Olha, é que eu ainda tenho um BlackBerry”, disse o presidente americano.