Um santo anacoreta vivia em região árida e deserta, onde não existia outro habitante. Ficava-lhe a cabana no cimo de um outeiro, entre pedras e cascalhos. Todos os dias o solitário religioso descia do seu refúgio para ir buscar água numa fonte que ocultava o seu murmúrio entre as ensombrantes folhagens de um bosque. A caminhada era longa e fatigante.
O anacoreta pensou: “Que necessidade tenho eu de sofrer todos os dias essa penitência? Mais simples será que eu venha morar ao pé da linfa”.
E assim fez. Abandonando o seu outeiro pedregoso e desprotegido, passou a viver na suave quietude de uma alameda convizinha da sussurrante fonte.
Na primeira noite, porém, em que descansava no seu novo tugúrio, teve o seu sono agitado por estranho sonho.
Sonhou que ao atravessar um bosque encontrara um anjo que chorava.
- Por que choras? - perguntou-lhe.
- Sou um cervo do Senhor! – respondeu o anjo. – Encarregou-me Deus de contar, todos os dias, os passos de tua penitência quando descias da cabana e vinhas à fonte. Pela grandeza de teu sacrifício seria avaliada a tua recompensa. Agora nada mais me resta a fazer.
E, proferidas tais palavras, o anjo desapareceu.
Ao despertar, meditou o anacoreta sobre o sonho que o havia assaltado e reconheceu a verdade contida nas palavras do choroso servo de Deus.
Transportou novamente a sua cela para o primitivo sítio e jamais lamentou o sacrifício que fazia quando, por íngreme ladeira, descia em busca de refrigério.
Bem sabia o santo que os passos de sua penitência diária, contava-os Deus para que a canseira do corpo lhe garantisse, na vida eterna, a serenidade da alma.
Sobre as três portas principais da célebre Catedral de Milão há três inscrições. Por cima da primeira porta está esculpida uma grinalda de rosas com esta legenda:
“Tudo que dá prazer, dura um só momento”.
Em cima da outra acham-se uma cruz e este dístico:
“Tudo o que nos aflige é momentâneo”.
A grande porta central ostenta, porém, num escudo de ouro, esta epígrafe:
“Somente o que é eterno tem importância”.
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