“Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará.”
O pão da eucaristia é feito de trigo, mas esse trigo antes de tornar farinha tem sua história. O terreno é preparado para receber sua semente, é ele plantado, vieram sol, chuvas, passaram dias e noites e ele permaneceu ali, calado sem escolha. Quando chega a hora da colheita ele passa por um processo, numa máquina ou manualmente. Depois esse trigo é triturado, moído até virar pó.
O que para nós é a Eucaristia? É ela a ação de graças a Deus, é ela a atualização do sacrifício de Cristo. Não teria semelhança entre o processo do trigo com a redenção de Jesus? Nosso Deus é inteligente, ele fala por imagens e por fatos concretos da vida cotidiana. Somente prestemos atenção no início desse versículo acima, Jesus fala de sua hora, a hora de sua morte e logo em seguida ele fala do trigo, coincidência? Não! Plano de Deus.
Ninguém hoje quer ser trigo, mesmo ele sendo usado às vezes em belas decorações, ninguém quer ser um, porque não iria sentir-se realizado, pois não é esse o seu fim.
Somos materialistas demais, a carne que é a chefe da nossa vida, e ela foge de sofrimento, sendo esse necessário para nossa santificação e maturação. Certa vez encontrei esse pensamento em um texto: “Ficaríamos atordoados com as respostas positivas de recém-mamães, se perguntássemos a elas sobre suas lembranças do sofrimento do parto em suas vidas. Elas se lembrariam do sofrimento, claro. Mas ao contemplarem suas pequenas crias, num piscar de olhos, o sofrimento se transformaria em recompensa.Uma namorada, sofrida pela distância de seu grande amor, não hesitaria em responder que sua saudade é um sofrimento. Mas que o encontro futuro, daria uma satisfação maior do que qualquer dissabor do passado. O sofrimento se transformou aqui, em esperança.As mulheres, que todos os domingos precisam visitar seus maridos em uma penitenciária, passam por muito sofrimento e muita angústia. Mas, cada passo, dentro do complexo penitenciário, tem a alegria do reencontro, da liberdade. O sofrimento faz lançarmos olhares para um futuro que ainda não é real. O sofrimento tem dois lados. O lado negativo quando eu falo “ai, ai, mais um dia” e o lado positivo, “que bom, menos um dia”. O olhar que eu tenho sobre meu sofrimento define o tipo de dor que terei. O sofrimento está grudado ao ser humano. Ninguém foge do sofrer. O máximo que se consegue é adiá-lo por algum tempo. Mas todos nós, cristãos ou não, passaremos por este “fogo de provação” chamado sofrimento. E é por ser parte de minha vida que ele é uma importante via para minha salvação. Ele é uma presença misteriosa e santificante de Deus e também desenvolvimento da maturidade humana. Por isso que, um bom evangelizador é aquele que comunica seu sofrer com Cristo de maneira madura e verdadeira.”
Bonito não é!? Mas não é simplesmente uma carta de amor, que mexe somente com os nossos sentimentos, isso é vida. E sabemos que grandes homens passaram por sofrimentos terríveis por isso o são grandes homens.
Exemplo mais profundo, misterioso e redentor do sofrimento foi o que passou nosso Senhor Jesus Cristo, diz a canção: “Se não houver a luta como pode haver vitória, foi o Senhor que ensinou que é pelo Calvário que se chega à glória”.
Não basta a gente dizer que Jesus já pagou por tudo, e de fato pagou está escrito: “por alto preço fostes comprados” temos que fazer valer, pense, por exemplo, Jesus passou por tudo e quem sou eu para não passar.
Somos convidados várias vezes a práticas de sofrimento, por exemplo, ao jejum: “Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto”, “Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum” e mais, “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á”.
Não tem como fugirmos do sofrimento, então faça dele sua ajuda necessária para a salvação e crescimento humano e espiritual. Use dessa arma poderosa para ‘combater o bom combate da fé’, São Paulo em uma de suas peregrinações afirmou: ‘o sofrimento que passo hoje não tem proporção com a glória futura que irei receber’ viu Ele no sofrimento a sua própria redenção e salvação.
Coloquemo-nos nas mãos de Deus como trigos ou como pessoas que ao menos estão se preparando para ser estraçalhado pelo sofrimento para sermos agraciados com a glória do céu.
Sofra, mas sofra um sofrimento redentor e realizador algo que a carne não explica, mas a alma pula de alegria porque damos acesso para agir em nós.
As grandes manifestações de Deus existiram em pessoas que se colocaram como trigos, foram humilhadas, esmurradas, flageladas e até crucificadas, veja se esse homem entendeu o que é o sofrimento: “Tertuliano, grande teólogo, chegou a dizer: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”. (Confissões). Houve quem se atemorizasse e cedesse no momento da perseguição, pois nem todos receberam a graça e a força para enfrentar o martírio.”
Para encerrar esse meu pensamento repito o que escrevi acima: “se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto.”
Senhor me dê a graça ao menos de um martírio incruento.
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