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Pela Santa Missa podemos obter todas as Graças de que necessitamos (Excelências da Santa Missa


Por S. Leonardo de Porto-Maurício, da Ordem dos Frades Menores

S. Leonardo de
Porto-Maurício
É UMA VERDADE incontestável que todas as religiões, que existiram desde o começo do Mundo, tiveram sempre algum sacrifício como parte essencial do culto devido a DEUS. Mas porque essas religiões eram vãs ou imperfeitas, seus sacrifícios, também, eram vãos ou imperfeitos. Totalmente vãos eram os sacrifícios do paganismo, e nem acode ao espírito falar sobre eles. Quanto ao dos hebreus, eram imperfeitos. Se bem que professassem, então, a religião verdadeira, seus sacrifícios eram podres e defeituosos, infirma et egena elementa, como qualifica São Paulo. Não podiam, assim, apagar os pecados nem conferir Graça.

Só o Sacrifício que temos em nossa santa religião, que é a Santa Missa, é um sacrifício santo, perfeito, e, em todo sentido, completo: por ele, cada fiel honra dignamente a DEUS, reconhecendo, ao mesmo tempo, o próprio nada e o supremo domínio de DEUS. Davi o chama: Sacrifício de Justiça,sacrificium justitiae; tanto porque contém o Justo dos justos e o Santo dos santos, ou, melhor a própria Justiça e Santidade, como porque santifica as almas pela infusão das graças e abundância dos dons que lhes confere.


Primeira Excelência – O Sacrifício da Santa Missa é o mesmo que o Sacrifício da Cruz

A Santa Missa é um sacrifício tão santo, o mais augusto e excelente de todos, e a fim de formardes uma ideia adequada de tão grande tesouro, algumas de suas excelências divinas; pois dize-las todas não é empreendimento a que baste a fraqueza da minha inteligência. A principal excelência do santo Sacrifício da Missa consiste em que se deve considerá-lo como essencialmente o mesmo oferecido no Calvário sobre a Cruz, com esta única diferença: que o sacrifício da Cruz foi sangrento e só se realizou uma vez e que nessa única oblação JESUS CRISTO satisfez plenamente por todos os pecados do Mundo; enquanto que o sacrifício do altar é um sacrifício incruento, que se pode renovar uma infinidade de vezes, e que foi instituído pra nos aplicar especialmente esta expiação universal que JESUS por nós cumpriu no Calvário,

Assim o Sacrifício Cruento foi o Meio de nossa Redenção e o Sacrifício Incruento nos proporciona as Graças da nossa Redenção. Um abre-nos os tesouros dos méritos de CRISTO Nosso Senhor, o outro no-los dá para os utilizarmos. Notai, portanto que na Missa não se faz apenas uma representação, uma simples memória da Paixão e Morte do nosso Salvador; mas num sentido realíssimo, o mesmo que se realizou outrora no Calvário aqui se realiza novamente: tanto que se pode dizer, a rigor, que em cada Santa Missa nosso Redentor morre por nós misticamente, sem morrer na realidade, estando ao mesmo tempo Vivo e como imolado: Vidi agunum stantem tanquan accisum (Ap 5,6).

No santo dia de Natal, a Igreja nos lembra o Nascimento do Salvador, mas não é verdade que Ele nasça, ainda, nesse dia. Nos dias da Ascensão e Pentecostes, comemoramos a Subida do Senhor JESUS ao Céu e a vinda do ESPÍRITO SANTO, sem que, de modo algum nesses dias o Senhor suba ainda ao Céu, ou o ESPÍRITO SANTO desça visivelmente à Terra.

A mesma coisa, porém, não se pode dizer do Mistério da Santa Missa, pois aí não é uma simples representação que se faz, mas, sim, o mesmo Sacrifício oferecido sobre a Cruz, com efusão de Sangue, e que se renova de modo incruento: é o mesmo Corpo, o mesmo Sangue, o mesmo JESUS, que se imola hoje na Santa Missa. Opus trae Redemptionis exercetur, diz a Santa Igreja.

A obra de nossa Redenção aí se exerce: sim, exercetur, aí se exerce atualmente. Este Santo Sacrifício realiza, opera o que foi feito sobre a Cruz. Que obra sublime! Ora, dizei-me sinceramente se, quando ides à Igreja para assistir a Santa Missa, pensásseis bem que ides ao Calvário assistir à Morte do Redentor, que diria alguém que vos visse ai chegar numa atitude tão pouco modesta? Se Maria Madalena fosse ao Calvário e se prostrasse aos pés da Cruz vestida, perfumada e ataviada como em seus tempos de desordem, quanto não seria censurada! E que se dirá de vós que ides à Santa Missa como se fôsseis a uma festa mundana?

Que aconteceria, sobretudo se profanásseis este Ato tão santo, com gestos, risadas, cochichos, encontros sacrílegos?

Digo que, em qualquer tempo e lugar, a iniquidade não tem cabimento; mas os pecados que se cometem na hora da Santa Missa e na proximidade do Altar, são pecados que atraem a maldição, de DEUS: Maledictus qui facit opus Domini fraudulenter (Jr 48,10). Meditai seriamente sobre esse assunto.

Outras maravilhas, porém, vou desvendar-vos de Tesouro tão Precioso...




DEPOIS DE DIZER que o Sacrifico da Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz, e não uma cópia, era de imaginar que não se poderia encontrar prerrogativa melhor. O que o torna, entretanto, mais sublime é o fato de ter como Sacerdote o próprio Deus feito homem(!).

Três coisas, certamente, são para considerar no santo Sacrifício: o Sacerdote que oferece; a Vítima oferecida; a Majestade divina, a Quem se oferece. Ora, três considerações: o Sacerdote, que oferece, é um Homem-DEUS, JESUS CRISTO: a vítima é a Vida de um DEUS; e não se oferece a outrem senão a DEUS.

Reanimai, portanto, a vossa fé, e reconhecei, no padre que celebra, a Pessoa adorável de Nosso Senhor JESUS CRISTO. É Ele o principal oferente, não só porque instituiu este santo Sacrifício, e lhe dá, por seus méritos, a eficácia, mas porque se digna, em cada Santa Missa e para nosso benefício, mudar o pão e o vinho em seu santíssimo Corpo e preciosíssimo Sangue.

Eis porque a maior excelência da Santa Missa consiste em ter por Sacerdote um DEUS feito Homem. E quando virdes o celebrante no altar, sabei que sua maior dignidade é ser o ministro deste Sacerdote invisível e eterno, que é nosso Redentor. Daí vem queo Sacrifício não deixa de ser agradável a DEUS, ainda que o padre celebrante seja um pecador, visto que o principal oferente é CRISTO Nosso Senhor, e o padre seu simples representante.

Do mesmo modo, aquele que dá esmola pela mão dum servidor, é verdadeiramente o principal autor do benefício, e ainda que o servo fosse um pecador, se o patrão é um justo, a esmola é santa e é meritória. Bendito seja DEUS que nos deu um Sacerdote infinitamente santo, a própria Santidade, o qual oferece ao PAI Eterno este divino Sacrifício, não só em todo lugar, pois hoje a fé está difundida em toda parte, mas também em todo tempo, todos os dias e mesmo a toda hora. Graças a DEUS, o sol se levanta para outras regiões, quando para nós desaparece. A toda hora, portanto, em qualquer parte da Terra, este Santíssimo Sacerdote oferece seu Corpo, seu Sangue, todo o Ser ao PAI, por nós, e o faz tantas vezes quantas Missas se celebram em todo o Universo.

Que tesouro imenso! Que mina de inestimáveis riquezas possuímos na Igreja de DEUS! Felizes de nós se pudéssemos assistir devotamente a todas as Santas Missas! Que capital de méritos amontoaríamos! Que abundância de graças nesta vida, e que grau de glória na outra nos proporcionará a devota e amorosa assistência a tantas Santas Missas!

Mas que digo? Assistência? Os que assistem à Santa Missa não fazem apenas o ofício de assistentes, mas também o de celebrantes e pode-se chama-los sacerdotes: Fecisti nos DEO nostro regnun et sacerdotes (Ap 5,10). O sacerdote que oficia é como o ministro público da Igreja inteira, é o mediador de todos os fiéis, e especialmente daqueles que participam da Santa Missa, junto do Sacerdote invisível que é JESUS. Com CRISTO, ele oferece ao Eterno PAI, em seu Nome e em nome de todos, o resgate precioso da Redenção dos homens. Não está, porém, sozinho nesta santa função. Todos os que assistem à Santa Missa concorrem com ele no oferecimento do Sacrifício. Assim, voltado para os fiéis, o sacerdote diz: Orate, fratres, ut meum ac vestrum Sacrificium acceptabile fiat: “Orai, meus irmãos, para que o meu Sacrifício, que é também o vosso, seja agradável a DEUS”.

Estas palavras, que o sacerdote profere, é para nos dar a entender que, conquanto desempenhe ele o papel de ministro principal, todos, que ali assistem, com ele oferecem a grande Vítima. Quando assistis à Santa Missa, fazeis, portanto, de certo modo, o ofício de sacerdote. Que dizeis agora? Ousaríeis ainda assistir à Santa Missa tagarelando, olhando para um e outro lado, e contentando-vos de recitar, bem ou mal, umas preces vocais, sem levar em conta o ofício de tanta responsabilidade que exerceis, o ofício de sacerdote?

Ah! não posso evitar de exclamar aqui: Ó mundo insensato, que nada compreende de tão augustos mistérios. Como é possível permanecer ao pé dos Altares com o espírito distraído e o coração dissipado, num momento em que os Anjos e os Santos se absorvem em admiração e temor à vista de tão maravilhosa obra!





ADMIRAI-VOS, TALVEZ, de me ouvir dizer que a Missa é uma obra maravilhosa? E não é, com efeito, inefável Maravilha o que opera a palavra de um humilde sacerdote? Que língua angélica ou humana poderia explicar Poder tão excessivo?

Quem, jamais, poderia imaginar que a palavra de um homem, que não tem, naturalmente, a força de levantar da terra uma palha, receberia da Graça o poder surpreendente de fazer descer do Céu o Filho de DEUS?

Aí está um poder maior que o de transportar montanhas, esgotar o mar e abalar os céus; poder comparável, de certo modo, àquele primeiro Fiat com que DEUS fez surgir do nada todas as coisas, e que pode mesmo parecer sobrepujar, em outro sentido, aqueleFiat pelo qual a Virgem Santíssima atraiu a seu seio o Verbo Divino.

A Virgem Maria nada mais fez que fornecer a matéria do Corpo de Cristo, dela formado, de seu puríssimo sangue, mas não por ela nem por sua operação: enquanto que a voz do sacerdote, sendo instrumento de CRISTO no ato da Consagração, O reproduz de um modo novo e admirável, quer dizer, sacramentalmente, e isto tantas vezes quantas consagra.

O bem-aventurado João, o Bom, de Mântua, levou um eremita seu companheiro a compreender esta verdade. Este não conseguia se persuadir de que a palavra de um padre tivesse o poder de mudar a substância do pão no Corpo de JESUS CRISTO, e a do vinho em seu Sangue. O que é mais deplorável, tinha cedido a essa tentação diabólica. O servo de DEUS percebeu o erro do companheiro e, conduzindo-o a beira de uma fonte, aí encheu de água uma taça e deu-lhe de beber.

Depois de sorver toda a água, o outro confessou que jamais, em toda a sua vida, provara um vinho tão delicioso. Então João, o Bom, disse-lhe: “Não vedes o milagre, meu querido irmão? Se, por meio de um miserável como eu, a água se mudou em vinho pela onipotência divina, quanto mais deveis crer, por meio das palavras do sacerdote, que são palavras de DEUS, o pão e o vinho mudam-se no Corpo e Sangue de JESUS CRISTO? Quem ousaria jamais pôr limites à onipotência de DEUS?”. Bastou isso para dissipar o engano do eremita, que, expulsando de seu espírito toda a dúvida, fez grande penitência por seu pecado.

Um pouco de fé, – mas de fé viva, – e confessaremos que inúmeras são as prodigiosas prerrogativas contidas neste admirável Sacrifício. Aí veremos, com admiração, renovar-se a toda hora esse prodígio da sagrada humanidade de JESUS CRISTO, presente em milhares e milhares de lugares, e desfrutando, por assim dizer, de algo de imensidade que não possui nenhuma outra coisa, e só a este reservada, em recompensa do Sacrifício de sua vida, feita a DEUS Altíssimo.

Uma mulher fez com que um judeu incrédulo compreendesse esta verdade por meio de uma comparação material e grosseira. O homem achava-se numa praça com muitas pessoas. Nesse momento passou um padre que levava o Santo Viático a um doente. Todos os presentes se ajoelharam e prestaram homenagem ao Santíssimo Sacramento. Só o judeu ficou imóvel e não deu sinal algum de respeito. Vendo isso, a mulher levantou-se furiosa, arrancou-lhe o chapéu e deu-lhe um vigoroso bofetão, dizendo-lhe: “Desgraçado, porque não te prostras diante do verdadeiro DEUS presente neste Divino Sacramento?” – “Que Deus?”, replicou o judeu, “Se fosse verdade, a consequência seria haver muitos deuses, pois, ao celebrarem a Missa estaria um em cada um dos vossos Altares”. A estas palavras, aquela mulher tomou um crivo e, opondo-se ao sol, disse ao judeu que olhasse os raios filtrando-se pelos buracos. Em seguida, ajuntou: “Dize-me, há então muitos sóis passando pelas aberturas deste crivo, ou um só?” E, à resposta do judeu de que não havia senão um sol, a mulher replicou: “Por que te espantas, então, de que DEUS, feito Homem e feito Sacramento, possa ter, por um excesso de amor, uma Presença real e verdadeira sobre vários Altares, permanecendo, no entanto, uno, indivisível e imutável?”.

Foi o suficiente para confundir a incredulidade do judeu, que por esse raciocínio se viu constrangido a confessar a verdade de nossa Fé. Ó santa Fé! Apenas um raio de tua luz, e exclamaremos com fervor: Quem ousaria estabelecer limites à onipotência de DEUS?

Nesta grande concepção que tinha do poder de DEUS, Santa Teresa dizia, muitas vezes, que quanto mais sublimes eram os Mistérios de nossa fé, e profundos e impenetráveis à nossa inteligência, com tanto mais força e felicidade neles acreditava, sabendo bem que DEUS Todo-poderoso pode fazer prodígios infinitamente maiores. Reanimai, espontaneamente, vossa fé e confessai que este Divino Sacramento é o Milagre dos milagres, a Maravilha das maravilhas, e que sua maior excelência consiste em ultrapassar nossa pobre inteligência. E tomados de admiração dizei e repeti muitas vezes: Oh! Que grande Tesouro! Que imenso Tesouro! Se, porém, sua excelência prodigiosa não vos comove, que vos toque, ao menos, sua soberana necessidade.




SE NÃO HOUVESSE o Sol, que seria da Terra? Oh! Tudo seria trevas, horror, esterilidade e desolação. E se o Mundo não tivesse a Santa Missa, que seria de nós?

Infelizes! Ficaríamos privados de todos os bens sobrecarregados de todos os males. Estaríamos expostos a todos os raios da cólera de DEUS. Alguns há que se admiram, e acham que de certo modo DEUS mudou a sua maneira de governar. Antigamente Ele se nomeava "DEUS dos exércitos", e falava ao povo do meio das nuvens, manejando o trovão; e de fato, era com todo o rigor da justiça que castigava os pecados. Por um único adultério, mandou passar a fio de espada vinte e cinco mil homens da tribo de Benjamim (Jz 20,46).

Por um leve pecado de orgulho de Davi em computar o povo, enviou Ele uma peste tão terrível que, em poucas horas pereceram setenta mil pessoas (2Sm 24,15). Por um só olhar curioso e desrespeitoso dos betsamitas, fez que cinquenta mil deles perecessem. (1Sm 6,19). E agora suporta, com paciência, não só vaidades e irreverências, mas adultérios os mais vergonhosos, escândalos gravíssimos, e tantas blasfêmias horríveis que muitos cristãos vomitam contra Seu Nome Santíssimo.

Por que assim acontece? Por que tão grande mudança de conduta? Serão as ingratidões dos homens mais escusáveis hoje do que outrora? Bem ao contrário, são muito mais culpáveis, já que os imensos benefícios de DEUS se multiplicam todos os dias. – A verdadeira razão desta clemência espantosa é a Santa Missa, pela qual esta grande Vítima, que se chama JESUS, se oferece ao Eterno PAI. Eis aí o Sol da Santa Igreja, que dissipa as nuvens e torna sereno o céu. Eis aí o arco-íris que detém os raios da Divina Justiça. Creio para mim que, não fosse a Santa Missa, o Mundo estaria já no abismo, incapaz de suportar o imenso fardo de suas iniquidades.

A Santa Missa é o poderoso sustentáculo que lhe permite subsistir. Concluí, de tudo isto, quanto este divino Sacrifício é necessário; assim então, sabei aproveitá-lo o máximo que for possível! Para isto, quando participamos da Santa Missa, devemos imitar Afonso de Albuquerque. Achando-se, com sua frota, em perigo de naufragar numa horrível tempestade, teve uma inspiração: tomou nos braços uma criança que viajava em sua nau, e, elevando-a ao alto, exclamou: “Se todos somos pecadores, esta criaturinha é certamente sem mácula, Ah! Senhor por amor deste inocente compadecei-vos dos culpados!”. Acreditareis? A vista dessa criança inocente agradou tanto a DEUS que Ele acalmou o mar e devolveu a alegria àqueles infelizes, gelados já pelo terror da morte certa.

Ora, qual pensais seja a atitude do Eterno Pai, quando o sacerdote, levantando a Santa Hóstia, lhe apresenta o Divino FILHO? Ah! seu Amor não pode resistir à vista do Inocente JESUS; Ele se sente forçado a acalmar nossas tormentas, e acudir a todas as nossas necessidades. Sem esta santa Vítima, portanto, sem JESUS sacrificado por nós, primeiro sobre a Cruz, e todos os dias sobre nossos Altares, estaríamos perdidos, e poderia cada um dizer a seu companheiro: “Até à vista no inferno! Sim, sim, no inferno, no inferno! Até à vista no inferno!”...

Mas, com este Tesouro da Santa Missa a nosso alcance, nossa esperança renasce; e se não opusermos obstáculos, teremos assegurado o Paraíso. Deveríamos, portanto, beijar nossos Altares, perfumá-los de incenso, e sobretudo honrá-los com nosso máximo respeito, pois que deles nos veem tantos bens. Juntai as mãos e agradecei a DEUS PAI que nos deu o Mandamento tão doce de oferecer-lhe muitas vezes a Vítima celeste. Agradecei-lhe, sobretudo, pelo imenso proveito que dela recebeis, se sois fiel não somente em oferecê-la, mas de fazê-lo para os fins a que nos foi concedido este dom tão precioso.



A GRANDEZA E A BELEZA são dois motivos assaz poderosos para tocar os corações. A utilidade, porém, os persuade e, a despeito de toda repugnância, arrebata quase sempre à vitória.

Ainda que a excelência e a necessidade da Santa Missa não fossem para vós bastante ponderáveis, como poderíeis deixar de apreciar a magna utilidade que ela proporciona aos vivos e falecidos, aos justos e aos pecadores, para a vida e para a morte, e mesmo para depois da morte? Imaginai que sois aquele devedor do Evangelho, cuja dívida se elevara à enorme quantia de dez mil talentos. Chamado a prestar contas humilha-se, implora e pede adiamento para satisfazer completamente o débito: 

"Patientiam hiabe in me, et omnia rddam tibi." – “Tem paciência comigo, que tudo de pagarei” (Mt 18, 26)

Aí está o que deveis fazer, vós que tendes com a Justiça divina não uma, mas mil dívidas. Deveis humilhar-vos e suplicar tempo bastante para assistir à Santa Missa; e ficai certos de que estas Santas Missas saldarão completamente todas as vossas obrigações.

São Tomás de Aquino, o Doutor angélico, nos ensina quais são as dívidas que temos com DEUS. Ele diz que há especialmente quatro. Todas as quatro ilimitadas.

A primeira é de adorar, louvar e honrar este DEUS de majestade infinita e digno de infinitos louvores e homenagens.

A segunda dar-Lhe satisfação pelos pecados que cometemos.

A terceira, render-Lhe graças pelos benefícios recebidos.

A quarta, implora-Lhe, como Fonte de todas as graças.

Ora, como é possível que pobres criaturas como nós, que nada possuímos, nem mesmo o ar que respiramos, possam jamais satisfazer obrigações tão grandes? Consolemo-nos, pois aqui está um meio facílimo. Façamos o possível para participar de muitas Missas e com a máxima devoção; mandemos celebrá-la também o mais que pudermos: e, se bem que nossas dívidas sejam enormes e inumeráveis, não há dúvida de que, com o tesouro contido na Santa Missa, poderemos solvê-las inteiramente. E para melhor compreendermos estas dívidas, explicá-las-ei uma depois da outra, e grande será vossa consolação ao ver a grande utilidade e inesgotável riqueza que podeis haurir de mina abundante, para pagar todas.






NÃO TERMINA, porém, aí a soberana utilidade da Santa Missa, pois ela nos permite ainda cumprir a quarta obrigação que temos para com DEUS: Orar e pedir-lhe (necessários) novos favores.

Já sabeis quão grande são vossas misérias, tanto de corpo como de alma, e. pro consequência, a Necessidade que tendes de recorrer a DEUS, a fim de que a todo momento Ele vos assista e vos socorra, pois só Ele é o Autor e o Princípio de todos os nossos bens temporais e eternos. Mas, doutra parte, ousaríeis pedir-Lhe novos benefícios, vendo a suprema ingratidão com que tendes correspondido às suas graças anteriores?

Não vos servistes, talvez, mesmo dessas graças para ofendê-Lo? Todavia, tende confiança! Pois, se não mereceis essas graças, JESUS mereceu-as por vós, e para este fim. Ele quis ser, na Santa Missa, uma Hóstia pacífica, isto é, um Sacrifício impetratório para obter-nos de Seu PAI tudo aquilo de que temos necessidade. Sim, sim, na Santa Missa, nosso adorável JESUS, o primeiro e Sumo Pontífice, recomenda a Seu PAI a nossa causa e intercede por nós, constituindo-se nosso amoroso e incomparável Advogado.

E se soubéssemos que a augusta Virgem unia suas preces às nossas, para nos alcançar a graça que desejamos; que confiança não teríamos, de ser atendidos? Que confiança, portanto, que segurança não devemos ter, sabendo que na Santa Missa o próprio JESUS pede por nós e se faz nosso Advogado?

Ó bem aventurada Missa, que nos proporciona todos os bens! É preciso, porém cavar bem fundo nesta mina para descobrir os grandes tesouros que ela contém.

Oh! Que riquezas de graças, bênçãos, virtudes e de socorros nos obtém a Santa Missa! Em primeiro lugar, ela nos alcança todas as graças espirituais e os bens que se relacionam com a alma, como a contrição por nossos pecados, a vitória sobre as tentações, sejam vindas de fora, das más companhias e do demônio, sejam produzidas no nosso interior pelas revoltas da carne.

Obtém os socorros de Graça, tão necessários para nos levantarmos depois de uma queda, para permanecermos de pé e avançarmos nos caminhos de DEUS. Por ela nos vêem muitas inspirações boas e santas e movimentos interiores que nos dispõem a sacudir a tibieza e nos excitam a agir com mais fervor, com uma vontade mais generosa e uma intenção mais pura e reta; e por isso mesmo, proporcionamos um tesouro inestimável, pois todos esses meios são eficacíssimos para alcançar de DEUS a graça da perseverança e penitência final, de que depende a nossa salvação eterna, e nos dão a certeza moral tanto quanto é possível tê-la aqui na Terra, de chegar à Bem-aventurança eterna.

Além disso, a Santa Missa nos obtém todos os bens temporais, contanto que concorram à salvação da alma, por exemplo, a saúde, a abundância, a paz; e nos preserva dos males que se lhe opõem, como seja: epidemias, terremotos, guerras, fomes, perseguições, processos, inimizades, miséria, calúnias, injustiças, etc.

Em suma, ela nos proporciona todos os bens. E para dizer tudo em só frase: a Santa Missa é a Chave de ouro do Paraíso.

E já que, DEUS infinitamente Santo nos deu esta Chave, qual de todos os seus bens irá nos recusar?!

"Aquele que não poupou Seu próprio Filho, mas O entregou por nós, como por meio d´Ele não nos dará tudo de bom?" (Rom 8,32)

Vede, portanto, se não tinha toda a razão aquele bom sacerdote que costumava dizer que, ao pedir algumas grandes graças para si, ou para outrem, ao celebrar o santo Sacrifício, parecia-lhe pouco pedir, quando comparava aquilo que de DEUS solicitava com a Oferenda que Lhe fazia.

Assim argumentava ele: “Todas as graças que peço a DEUS na Santa Missa são bens criados e finitos, enquanto que os Dons que Lhe ofereço são dons incriados e infinitos. Feitas, portanto, as contas, sou eu o credor e Ele o devedor.”(!) E com este argumento, pedia e recebia grandes graças. E vós, por que não despertais, por que não pedis graças importantes? Se quiserdes confirmação, pedi a DEUS em cada Santa Missa que faça de vós um grande santo. Achareis, talvez, que é pedir demais! Não, de modo algum. Não é o nosso boníssimo Mestre JESUS quem promete no Santo Evangelho que, até por um copo d´água dada em Seu nome, terá a sua recompensa?

Quando oferecemos a DEUS PAI, portanto, o Sangue de Seu Divino Filho, ainda que tivesse uma centena de paraísos, não no-los daria todos? Como podeis duvidar de que Ele esteja disposto a conceder-vos todas as virtudes, todas as perfeições necessárias para fazer de vós um grande santo no Céu? Ó bem-aventurada Missa! Abri vosso coração e pedi grandes graças, pensando que as pedis a um DEUS que não se empobrece, ao qual quanto mais pedirdes mais vos será dado.

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Fonte:
MAURÍCIO, Leonardo de Porto. As Excelências da Santa Missa, conforme a ed. romana de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XII

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