Ao fim dos profetizados 70 anos da desolação de Jerusalém sob Babilônia. É verdade que Babilônia tinha a reputação de nunca soltar seus cativos, mas a palavra de Deus se provaria mais forte do que o poderio de Babilônia. Estava à vista a libertação do povo do Senhor. O templo de Deus, que havia sido arrasado, seria reconstruído, e o altar de Deus receberia de novo os sacrifícios de expiação. Jerusalém conheceria outra vez o brado e o louvor do verdadeiro adorador do Senhor Deus. Jeremias havia profetizado a duração da desolação, e Isaías havia profetizado como se daria a libertação dos cativos. Isaías até chamara a Ciro, da Pérsia, de ‘o pastor do Senhor ’ que derrubaria a altiva Babilônia de sua posição como terceira potência mundial da história bíblica. Isa.44:28; 45:1, 2; Jer.25:12.
O livro de Esdras relata como Deus cumpriu sua promessa profética através de Jeremias (Jr 29.10-14), no sentido de restaurar o povo judeu depois de setenta anos de exílio, ao trazê-lo de volta à sua própria terra (1.1). O colapso de Judá como nação e sua deportação para Babilônia ocorrera em três levas separadas. Na primeira (605 a.C.), a nobreza jovem de Judá, inclusive Daniel, foi levada ao exílio; na segunda (597 a.C.), foram mais 11.000 exilados, inclusive Ezequiel; e na terceira leva (586 a.C.), o restante de Judá, menos Jeremias e os mais pobres da terra foram levados. Semelhantemente, a restauração do remanescente exílico, em cumprimento à profecia de Jeremias, ocorreu em três levas. Na primeira (538 a.C.), 50.000 exilados voltaram, liderados por Zorobabel e Jesua; na segunda (457 a.C.), mais de 17.000 voltaram conduzidos por Esdras; e na terceira leva (444 a.C.), Neemias e seus homens levaram de volta o restante do povo. Cerca de dois anos depois da derrota do império babilônico pelo império persa (539 a.C.), começou o retorno dos judeus à sua pátria. O livro de Esdras registra a primeira e a segunda levas de repatriados abrangendo três reis persas (Ciro, Dario e Artaxerxes) e cinco líderes espirituais de destaque: (1) Zorobabel, que conduziu os primeiros exilados; (2) Jesua, um sumo sacerdote piedoso que auxiliou a Zorobabel; (3) Ageu e (4) Zacarias, dois profetas de Deus que encorajavam o povo a concluir a reconstrução do templo; e (5) Esdras, que conduziu o segundo grupo de exilados de volta a Jerusalém, e a quem Deus usou para restaurar o povo, espiritual e moralmente. Se Esdras escreveu esse livro, como é geralmente aceito, ele compôs a sua obra sob a inspiração do Espírito Santo mediante consulta aos arquivos oficiais (e.g., 1.2-4; 4.11-22; 5.7-17; 6.1-12), genealogias (e.g., 2.1-70), e memórias pessoais (e.g., 7.27—9.15). O livro foi escrito em hebraico, a não ser 4.8—6.18 e 7.12-26, trechos que foram escritos em aramaico, a língua oficial dos exilados em Babilônia.
O nome hebraico Esdras significa “Ajuda; Auxílio”. Os livros de Esdras e Neemias eram originalmente um só rolo. (Nee. 3:32) Mais tarde, os judeus dividiram este rolo e o chamaram de Primeiro e Segundo Esdras. As modernas Bíblias hebraicas chamam os dois livros de Esdras e Neemias, assim como outras Bíblias modernas. Parte do livro de Esdras (4:8 a 6:18 e Esd. 7:12-26) foi escrita em aramaico e o restante em hebraico, sendo Esdras versado em ambos os idiomas.
Hoje, a maioria dos estudiosos aceita a exatidão do livro de Esdras. Quanto à canonicidade de Esdras, W. F. Albright escreve em seu tratado The Bible After Twenty Years of Archaeology (A Bíblia Depois de Vinte Anos de Arqueologia): “Os dados arqueológicos têm assim demonstrado a originalidade substancial dos Livros de Jeremias e de Ezequiel, de Esdras e de Neemias além de contestação; têm confirmado o quadro tradicional dos eventos, bem como a ordem deles.”
Embora o livro de Esdras não seja citado ou mencionado diretamente pelos escritores das Escrituras Gregas Cristãs, não há dúvida quanto ao seu lugar no cânon da Bíblia. Leva o registro dos tratos de Deus com os judeus até o tempo de se compilar o catálogo hebraico, obra esta realizada principalmente por Esdras, segundo a tradição judaica. Outrossim, o livro de Esdras vindica todas as profecias relativas à restauração, provando assim ser parte integrante do registro divino, com o qual se harmoniza também inteiramente. Além disso, honra a adoração pura e santifica o grande nome do Senhor Deus.
CONTEÚDO DE ESDRAS
Um restante retorna (1:1-3:6). Sendo o espírito de Ciro, rei da Pérsia, incitado por Deus, ele emite o decreto para que os judeus retornem e construam a casa de Deus em Jerusalém. Insta com os judeus que ficarem em Babilônia para que contribuam liberalmente para o projeto, e toma providências para que os judeus que retornam levem de volta os utensílios do templo original. Um líder da tribo real de Judá, e descendente do Rei Davi, Zorobabel (Sesbazar), é nomeado governador para conduzir os libertados, e Jesua (Josué) é o sumo sacerdote.(Esd 1:8; 5:2; Zac.3:1) Um restante, que pode ter totalizado 200.000 servos fiéis de Deus, incluindo homens, mulheres e crianças, fazem a longa viagem. No sétimo mês, segundo o calendário judaico, estão estabelecidos em suas cidades, e se reúnem em Jerusalém para oferecer sacrifícios no local do altar do templo, e para celebrar a Festividade das Barracas. Assim findam com precisão os 70 anos de desolação!
A reconstrução do templo (3:7-6:22). Reúnem-se os materiais, e, no segundo ano de seu retorno, lança-se o alicerce do templo de Deus entre brados de alegria e o choro dos homens idosos que tinham visto a casa anterior. Os povos vizinhos, adversários, oferecem-se para ajudar na construção, dizendo que estão buscando o mesmo Deus, mas o restante judeu recusa terminantemente qualquer aliança com eles. Os adversários procuram continuamente enfraquecer e desanimar os judeus e frustrar a sua obra, desde o reinado de Ciro até o de Dario. Finalmente, nos dias de “Artaxerxes” (Bardiia ou possivelmente um mago conhecido como Gaumata), conseguem forçar a paralisação da obra por ordem real. Esta proscrição continua “até o segundo ano do reinado de Dario, rei da Pérsia”, mais de 15 anos depois de se ter lançado o alicerce. 4:4-7, 24.
Deus envia então seus profetas Ageu e Zacarias para incitar Zorobabel e Jesua, e a construção é empreendida com renovado zelo. Os adversários se queixam outra vez ao rei, mas a obra continua com o mesmo vigor. Dario I (Histaspes), depois de mencionar o decreto original de Ciro, ordena a continuação da obra sem interferência, e até manda que os opositores forneçam materiais para facilitar a construção. Com encorajamento contínuo da parte dos profetas do Senhor, os construtores completam o templo em menos de cinco anos. Isto se dá no mês de adar do sexto ano de Dario, a inteira construção levou praticamente 20 anos. (6:14, 15) A casa de Deus é então inaugurada com grande alegria e com sacrifícios apropriados. Daí, o povo celebra a Páscoa e passa a realizar “com alegria a festividade dos pães não fermentados por sete dias”. (6:22) Sim, alegria e regozijo marcam a dedicação deste segundo templo para o louvor do Senhor Deus.
Esdras retorna a Jerusalém (7:1-8:36). Passam-se quase 50 anos, no sétimo ano de Artaxerxes, rei da Pérsia, (conhecido por Longímano por ter a mão direita mais comprida do que a esquerda). O rei concede ao destro copista Esdras “tudo o que solicitou” com respeito a uma viagem para Jerusalém, a fim de prestar ali mui necessitada ajuda. (7:6) Ao autorizá-lo, o rei incentiva os judeus a acompanhá-lo, concedendo a Esdras vasos de prata e de ouro para uso no templo, bem como provisões de trigo, vinho, óleo e sal. Isenta os sacerdotes e os trabalhadores do templo de pagar impostos. O rei incumbe Esdras de ensinar o povo, e declara ser ofensa capital qualquer pessoa deixar de cumprir a lei de Deus e a lei do rei. Agradecendo ao Senhor esta expressão de sua benevolência por intermédio do rei, Esdras age imediatamente em cumprimento de sua incumbência.
Neste ponto, Esdras inicia sua narrativa como testemunha ocular, escrevendo na primeira pessoa. Reúne junto ao rio Aava os judeus que estão retornando, a fim de dar-lhes instruções finais, e acrescenta alguns levitas ao grupo de cerca de 1.500 varões adultos já reunidos. Esdras reconhece os perigos da rota a ser tomada, mas não pede ao rei uma escolta, receando que isso seja interpretado como falta de fé no Senhor Deus. Em vez disso, proclama um jejum e lidera o acampamento em fazer solicitação a Deus. Esta oração é respondida e a mão do Senhor prova estar sobre eles durante toda a longa viagem. Assim, conseguem levar seus tesouros (que equivaleriam hoje a mais de 43 milhões de dólares) em segurança para a casa do Senhor em Jerusalém. 8:26, 27.
Purificação do sacerdócio (9:1-10:44). Mas nem tudo correu bem durante os 69 anos em que residiam no país restaurado. Esdras fica sabendo de condições perturbadoras, pois o povo, os sacerdotes e os levitas formaram alianças matrimoniais com os cananeus pagãos. O fiel Esdras fica chocado. Apresenta o assunto a Deus em oração. O povo confessa seu erro e pede que Esdras ‘seja forte e aja’. (10:4) Ele providencia que os judeus despeçam as esposas estrangeiras que tomaram em desobediência à lei de Deus, e a impureza é eliminada em questão de uns três meses. 10:10-12, 16, 17.
TIRANDO PROVEITO PARA NOSSOS DIAS
O livro de Esdras é proveitoso, em primeiro lugar, por mostrar a infalível exatidão com que as profecias de Deus são cumpridas. Jeremias, que predissera com tanta exatidão a desolação de Jerusalém, predisse também sua restauração após 70 anos. (Jer. 29:10) Bem na hora, Deus mostrou sua benevolência ao trazer o seu povo, um fiel restante, de volta à Terra da Promessa, a fim de praticar a adoração verdadeira.
O templo restaurado exaltou novamente a adoração de Deus entre o seu povo, e permaneceu qual testemunho de que ele abençoa maravilhosa e misericordiosamente os que se voltam para ele com o desejo de praticar a adoração verdadeira. Embora lhe faltasse a glória do templo de Salomão, cumpriu sua finalidade, em harmonia com a vontade divina. Não constava mais ali o esplendor material. Era também inferior em tesouros espirituais, faltando-lhe, entre outras coisas, a arca do pacto. Tampouco foi a inauguração do templo de Zorobabel comparável à inauguração do templo dos dias de Salomão. Os sacrifícios de touros e ovelhas não representaram nem um por cento dos sacrifícios oferecidos no templo de Salomão. Nenhuma glória semelhante a nuvens encheu a casa posterior, como se deu na anterior, tampouco desceu fogo da parte de Deus para consumir as ofertas queimadas. Ambos os templos, porém, serviram ao importante propósito de exaltar a adoração do Senhor, o verdadeiro Deus.
O templo construído por Zorobabel, o tabernáculo construído por Moisés, e os templos construídos por Salomão e por Herodes, junto com suas particularidades, eram prefigurativos ou representativos. Representavam a “verdadeira tenda, que Deus erigiu, e não algum homem”. (Heb.8:2) Este templo espiritual é o arranjo para se chegar a Deus em adoração à base do sacrifício propiciatório de Cristo. (Heb. 9:2-10, 23) O grande templo espiritual é superlativo em glória e incomparável em beleza e agradabilidade; seu esplendor é imarcescível e superior ao de qualquer estrutura material.
O livro de Esdras contém lições que são do mais alto valor para os cristãos hoje. Lemos nele sobre o povo de Deus fazer ofertas voluntárias para a Sua obra. (Esd 2:68; 2Cor.9:7) Somos encorajados por aprendermos sobre a provisão infalível e a bênção de Deus sobre as assembléias para o Seu louvor. (Esd. 6:16, 22) Vemos o excelente exemplo dos netineus e de outros crentes estrangeiros, ao acompanharem o restante para apoiar de todo o coração a adoração do Senhor. (2:43, 55) Considere também o humilde arrependimento do povo quando aconselhado sobre seu proceder errado de formar alianças matrimoniais com vizinhos pagãos. (10:2-4) Más associações acarretaram a desaprovação divina. (9:14,15) O zelo alegre pela sua obra resultou em sua aprovação e bênção. 6:14, 21, 22.
Embora não mais houvesse um rei sentado no trono de Deus em Jerusalém, a restauração suscitou a expectativa de que Deus, no devido tempo, produziria seu prometido Rei da linhagem de Davi. A nação restaurada estava agora em condições de guardar as pronunciações sagradas e a adoração do Senhor Deus até o tempo do aparecimento do Messias. Se este restante não tivesse agido com fé, no que tange a retornar à sua terra, a quem viria o Messias? Deveras, os eventos do livro de Esdras são parte importante da história que conduz ao aparecimento do Messias e Rei! É de máximo proveito para o nosso estudo hoje.