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"Católico praticante" ?!



QUANDO, NUM encontro social, a conversa gira em torno de assuntos religiosos, é bem comum ver alguém declarar, com a maior naturalidade: “Sou católico não praticante”...

Interessante é que a maioria parece achar muito normal e lógica essa afirmação, que raramente é contestada. Dias depois, numa outra oportunidade, numa outra conversa, é possível que alguém volte a fazer a mesma afirmação, e todos continuam achando tudo muito normal e lógico. Entretanto, perguntamos nós, como poderia alguém “ser” e, ao mesmo tempo, não “praticar”? 

Essa ideia de que se pode acreditar na Igreja, – e mais além e mais importante, considerar-se membro desta Igreja, – sem colocar em prática a sua fé, infelizmente, é tão comum que já se tornou a mentalidade predominante em muitos ambientes.

A justificativa de tal comportamento varia de pessoa para pessoa: existem aqueles que deixaram de lado a prática religiosa devido à decepção com algum líder ou administrador de sua comunidade: talvez o padre tenha feito ou dito alguma coisa que aquela pessoa não gostou, e pronto: já é motivo para abandonar a Igreja de Jesus Cristo, a vida de oração comum, as práticas, o aprendizado, a convivência com os irmãos de fé, os Sacramentos, a Comunhão no Corpo do Senhor... Simplesmente viram as costas e vão-se embora, sem mais. 

Alguns outros, meio sem perceber, vão abandonando pouco a pouco a vida de fé: deixam de ir à Missa um dia, depois outro... Quando percebem, não estão  indo mais à igreja, nem aos domingos e dias de preceito. Depois, vão deixando de rezar com regularidade, deixando de ler a Bíblia Sagrada e, quando notam, já organizaram suas vidas de tal maneira que nelas não há mais espaço para Deus. Quando alguém pergunta sua religião, geralmente ainda se declaram católicos, mas realmente não se importam muito com isso.

Outros ainda possuem um conhecimento tão superficial de sua religião que, para eles, qualquer notícia ou acontecimento que não possam compreender já é motivo de escândalo: sem reflexão, sem pudor e sem amor, simplesmente renegam a fé. Quando alguém critica a Igreja, muitas vezes, essas pessoas ajudam a criticar, ao invés de tentarem defendê-la ou buscar a informação segura sobre a quele assunto específico. Lembram-se que existe a Igreja apenas em ocasiões específicas e esporádicas, como a celebração de um batizado, o casamento de algum parente ou a Missa de falecimento ou de sétimo dia de algum amigo querido. Para estes, é como se a Igreja fosse apenas um lugar para reuniões sociais, festivas ou tristes. É uma fé de aparência e nada mais.

Algumas pessoas também deixam a prática religiosa com o argumento de que não gostam de normas, ritos e cerimônias, que eles veem como elementos de uma religião ultrapassada, antiga e antiquada: preferem inventar a sua própria religião, para si mesmos, do “seu jeito”. Não querem saber de "dogmas", e gostam de dizê-lo, – embora, na realidade, não saibam exatamente o significado e o sentido dessa palavra... – Esquecem-se de que somos humanos, e não anjos elevados: os anjos não precisam de gestos, sinais e nem mesmo de palavras para se relacionar com Deus, pois são seres espirituais. Nós, ao contrário, precisamos destes recursos, ao menos como meios de comunicação.

†   †   †

A Fé nos torna participantes da Família de Deus e membros da Igreja, e é através dela que seguimos o Caminho da Salvação, que é Jesus Cristo. Nossa Família cristã, a Igreja do Senhor, tem uma história de dois milênios, riquíssimas tradições e belíssima Liturgia, que se refletem nas belas celebrações. Pode ser que algumas pessoas não as entendam, mas, antes de simplesmente ignorá-las, ou pior, criticá-las, seria mais inteligente procurar conhecê-las, entender as suas origens e significados e tentar conhecer os seus valores.

O principal, muitas vezes, é invisível aos olhos, mas se manifesta através do visível, do palpável, do sensível aos sentidos físicos. O próprio Cristo, mesmo sendo Deus, ao assumir natureza humana observou os ritos e respeitou as normas religiosas: foi batizado, passou noites em oração, foi ao Templo de Jerusalém, ia as sinagogas, lia as Escrituras...

É hipocrisia dizer que se tem fé e não demonstrá-la nos gestos, nas atitudes, nas posturas diante da vida, e também nas práticas religiosas. A fé e o modo de vida não vivem separados. A Bíblia é radical e diz, com toda a clareza, que a fé sem obras é morta (Tg 2,14-26).

Conta-se que certo empresário muito rico, mesmo sendo ateu, em viagem à Índia fez questão de ir conhecer Madre Teresa de Calcutá: ele tinha admiração pelo seu despojamento, coragem e obra. Chegando à casa das missionárias, onde Madre Teresa vivia, encontrou-a em meio a um mar de crianças miseráveis, muitas doentes, num quadro desolador. Viu uma velha senhora, que poderia estar descansando e aproveitando tranquilamente seus últimos anos de vida, sacrificando-se, literalmente, pelo bem do próximo.

Comovido, este homem aproximou-se e se apresentou, declarando sua admiração pela religiosa. Madre Teresa foi gentil, mas não deixou de fazer o seu trabalho. Os dois conversaram por alguns minutos, até que e o rico empresário, prestando atenção ao grande crucifixo pendurado ao pescoço de Madre Teresa, comentou: “Admiro muito o seu trabalho e o seu exemplo de vida, mesmo não acreditando neste símbolo que a senhora usa”.

Ouvindo isso, Madre Teresa respondeu: “Meu filho, tudo que eu sou e faço, todas as coisas pelas quais você me admira... É tudo por causa do que este símbolo representa. Se não fosse pela minha fé e amor a Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado, você nem saberia que eu existo!”...

Se você que lê este artigo tem uma "fé morna", que não se reflete concretamente na sua vida prática, lembre-se deste exemplo de Madre Teresa. É assim que os santos nos ajudam: talvez mais do que pedindo por nós a Deus, no Céu, pelo seu exemplo de vida.

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