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As regras de fé da Igreja Católica


É muito comum as pessoas questionarem a Santa Religião de todos os lados. Alguns a acusam a fé da Igreja de irracional, outros a chamam de apóstata, houve ainda, na época de Roma, que se acusava a Igreja de ateísmo. Outros ainda acusam ela de não observar as Escrituras, enquanto outros que rompeu com o ensino apostólico e não faltam os que supõe que ela seja contra a ciência ou até mesmo que seja contra a felicidade humana.
A tormenta de acusações é algo que nunca termina e as almas mais fracas e ignorantes são sacudidas pelas armadilhas perniciosas do erro chegando a perder a fé ou se entregar a falsos doutores que apresentam novidades no modo de interpretar o ensinamento de Cristo.
Diante disso é necessário saber quais são as regras de fé que nos garantem certeza absoluta e infalível do entendimento e da aplicação da Revelação dada por Cristo.
Com isso em mente temos que, primeiramente, enumerar quais são as regras de fé. Para isso se faz muito útil utilizar a genial síntese feita por São Francisco de Sales sobre o tema na obra Controvérsias:
"Há então oito regras de fé: as Escrituras, a Tradição, a Igreja, os Concílios, os Padres, o Papa, os milagres e a razão natural" São Francisco de Sales, As Controvérsias, II, Cap. 1, art. 11
Esta importantíssima obra do santo doutor é desconhecida pela maioria das pessoas, porém ela trata justamente da controvérsia protestante que reduziu a enumeração das regras de fé para apenas uma: as Escrituras. Diante dessa controvérsia, o santo se viu na necessidade de explicitar e demonstrar a veracidade e necessidade de todas as regras de fé para o reto entendimento e aplicação da doutrina revelada por Cristo.
Alguns poderiam pensar que fosse pretensão ilusória querer julgar qual a interpretação é correta e qual caiu no erro, como se isso fosse algo impossível. Mas recordemos que o Espírito Santo nos faz um apelo pela pena do Apóstolo Amado: "Caríssimos, não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo." (1Jo 4,1). Diante de tais palavras o grande bispo observa:
"Aquele que nos disse que provássemos os espíritos, não o faria se não soubesse que teríamos regras infalíveis para distinguir o santo do falso espírito. (...) Importa, portanto, saber exatamente quais são as verdadeiras regras de nossa fé, pois se poderá distinguir facilmente a heresia da verdadeira religião."São Francisco de Sales
Com isso, o bispo explica primeiramente que a fé cristã está fundada na Palavra de Deus e isto é o que lhe confere a certeza da infalibilidade eterna, advertindo que qualquer fé que não se apoie na Palavra de Deus, não pode ser chamada de cristã e portanto nem sequer de verdadeira, pois Cristo é a Verdade.
Mas somos advertidos que para se ter em conta esta regra, não basta saber que a Palavra de Deus é verdadeira e infalível:
"Não basta saber que a Palavra de Deus é a verdadeira e infalível regra de bem crer, se não sei que palavra é de Deus, onde está e quem a deve propôr, aplicar e declarar. E em vão saberei que a Palavra de Deus é infalível."São Francisco de Sales
O santo coloca uma exemplo muito sábio: podemos ver que Jesus é o Cristo, Filho do Deus Vivo (isso é claríssimo), porém fica uma dificuldade: como entender essa filiação? Seria uma adoção, ao modo ariano (um homem que é elevado à natureza divina) ou uma filiação natural, ao modo católico (um Jesus que foi Deus desde o princípio)? Daqui já se percebe que é necessário uma série de regras para discernir o que é de fato erro e o que é verdade, pois o adocionismo ariano foi plenamente fundamentado nas Escrituras, porém foi percebido como um erro manifesto depois de amplo estudo.
O santo bispo teve uma perspicácia fenomenal ao perceber que:
"É necessário, pois, além desta primeira e fundamental regra da Palavra de Deus, outra segunda regra, em virtude da qual, a primeira nos seja bem e devidamente proposta, aplicada e declarada, e a fim de que não fiquemos sujeitos à vacilação e à incerteza, é necessário que não somente a primeira regra, a saber, a Palavra de Deus; senão também a segunda, que propõe e aplica esta Palavra, seja completamente infalível, pois de outro modo permaneceríamos na vacilação e na dúvida de estar mal dirigida e apoiada nossa fé e crenças; não por defeito da primeira regra, senão por erro e falta na aplicação dela."São Francisco de Sales
O doutor continua explicando que tanto a infalibilidade da regra e da aplicação devem vir de Deus. Ora, a aplicação é regida por Deus através da Igreja, motivo pelo qual Cristo a fundou. Assim:
"A Palavra de Deus é a regra fundamental e formal; e a Igreja de Deus é a regra de aplicação e explicação."São Francisco de Sales
Com isso o santo passa a dividir estas duas regras:
"A Palavra de Deus, regra formal de nossa fé, está nas Escrituras e na Tradição. (...) A Igreja, que é a regra de aplicação, ou se declara em todo seu corpo universal por uma crença geral de todos os cristãos (o Corpo da Igreja), ou (...) por um consentimento de seus pastores e doutores; e nesta última forma, ou em seus pastores reunidos em um lugar e um tempo, como em um Concílio Geral (Concílio Ecumênico), ou em seus pastores divididos em lugares e tempos reunidos na união e correspondência da fé (consentimento dos Padres), ou enfim, esta Igreja se declara e fala por seu chefe ministerial (o Papa)."São Francisco de Sales
E a todas estas garantias se acrescentam duas regras que Deus provê para suprir a debilidade humana:
"Querendo ajudar a debilidade dos homens não deixa de acrescentar as vezes à estas regras ordinárias uma regra extraordinária muito certa e de grande importância: é o milagre, testemunho extraordinário da verdadeira aplicação da Palavra divina. Enfim, a Razão Natural pode ser chamada uma regra de bem crer (...), pois [o artigo de fé] não pode ir contra a razão natural, (...) pois a razão natural e a fé, como procedentes de uma mesma origem e saídas de um mesmo autor, não podem ser contraditórias."São Francisco de Sales
É importante advertir que todas estas regras obrigatoriamente tem que concordar com o que se entende ou se aplica da Revelação Divina, por isso nos recorda o santo bispo:
"De tal modo de entrelaçam [estas regras] que quem viola uma, viola todas as demais."São Francisco de Sales
Com isso deixamos uma breve introdução, demonstrando a origem destas regras de fé, para que possamos analisar cada uma das oito regras de fé e expôr cada uma de forma clara, trazendo instrumentos para que possamos discernir o Espírito dos falsos profetas.
Que a Virgem Santíssima, esmagadora das heresias, venha unir todos sob o único e sublime pastor: Jesus Cristo. Que o nosso pontífice seja abençoado para que possa conduzir o povo para que sejamos um só rebanho e um só pastor.

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