Todos nós, em algum momento de nossas vidas, nos rendemos a um dos pecados capitais, porque somos ainda fracos e imperfeitos, e assim seremos até o dia glorioso em que, se Nosso Senhor assim o quiser, entraremos definitivamente no Reino dos Céus. Isto não significa que devamos nos conformar e nos entregar ao pecado, mas sim que precisamos ter humildade e reconhecer as nossas fraquezas diante de Deus, para que possamos, aos poucos e todos os dias, superá-las.
Fazemos parte de uma sociedade para a qual quem mais possui parece valer mais do que aqueles que não têm acesso a muitos bens: os itens de consumo que se tornam símbolos de status social, as novidades tecnológicas cada vez mais impressionantes e que não param de surgir a todo instante, as belas roupas da moda, os prazeres e luxos que a modernidade oferece... Somos bombardeados a todo instante com propaganda, na TV, em publicações escritas, na internet...
Nas ruas vemos enormes outdoors nos muros, nas fachadas, nas laterais do transporte coletivo. A mensagem implícita é sempre a mesma: comprar, possuir, ter... Ter é igual a ser. Então, trabalhe mais e mais, até que já não tenha mais tempo para nada, nem para a sua família; depois continue, até que não possa mais nem dormir o suficiente; pense apenas em como ganhar mais, e continue trabalhando sempre mais, para poder ganhar mais e ter mais, até adoecer e adquirir novos gastos com médicos, exames e medicamentos que o plano de saúde não cobre.
Em suma, o que a sociedade de consumo apregoa é que ser feliz é sinônimo de possuir. E se o nosso valor depende do nosso poder aquisitivo, todos querem a sua parte. É natural de todo ser humano o desejo de inclusão, de fazer parte do grupo, de ser aceito e respeitado. Assim, cada vez mais pessoas querem possuir tudo, e tudo de imediato. É tudo “para ontem”: a involução do ter assumiu o lugar da antes sonhada evolução do ser.
A partir desse triste panorama, as pessoas caem cada vez mais na tentação da avareza. Se vale mais o ter do que o ser, e para isso é preciso dinheiro, e cada um faz tudo o que pode para consegui-lo, sem se preocupar com a ética. Sem pensar em Deus ou no bem do próximo.
A partir desse triste panorama, as pessoas caem cada vez mais na tentação da avareza. Se vale mais o ter do que o ser, e para isso é preciso dinheiro, e cada um faz tudo o que pode para consegui-lo, sem se preocupar com a ética. Sem pensar em Deus ou no bem do próximo.
A palavra avareza vem do latimavere. Segundo o Dicionário Aurélio, significa “excessivo e sórdido apego ao dinheiro; falta de generosidade e mesquinhez”. A avareza é o oposto da generosidade, do amor fraterno e do senso de fraternidade, solidariedade e companheirismo. O avarento é, antes de tudo, um egoísta. E a falta de generosidade gera muitas atitudes negativas: o apego aos bens materiais nos torna desumanos e inquietos, preocupados somente com nossas próprias necessidades, ocupados demais em acumular.
Atualmente a classe média e alta no Brasil, – um país ainda em desenvolvimento, – gasta bilhões em cuidados absolutamente supérfluos com cachorrinhos de estimação: existem terapias florais, banhos de ofurô, clínicas especializadas em massagens relaxantes e até psicólogos para cães... Enquanto isso, crianças pedem esmola e são violentadas, espancadas e mortas, ali mesmo, na esquina da sua rua. Ser avarento é, antes de tudo, ser egoísta, pensar somente em si e nos seus caprichos.
Atualmente a classe média e alta no Brasil, – um país ainda em desenvolvimento, – gasta bilhões em cuidados absolutamente supérfluos com cachorrinhos de estimação: existem terapias florais, banhos de ofurô, clínicas especializadas em massagens relaxantes e até psicólogos para cães... Enquanto isso, crianças pedem esmola e são violentadas, espancadas e mortas, ali mesmo, na esquina da sua rua. Ser avarento é, antes de tudo, ser egoísta, pensar somente em si e nos seus caprichos.
A avareza também está relacionada com a falsidade e a mentira, com a tentativa desonesta de enganar para lucrar. O lema de quem comete avareza é: “Quanto mais tenho, mais quero”. Jesus, porém, ensinou que o homem se engana ao se preocupar em acumular bens que não conseguirá levar para a vida eterna (Mt 12,26).
Nos ambientes de trabalho encontramos esse pecado em líderes e funcionários avarentos, que não se comunicam, não confiam em ninguém; são centralizadores e monopolizam informações: pensam que, se compartilharem o conhecimento, diminuirão suas chances de alcançar o sucesso profissional. Grande engano: o melhor líder é o líder que se faz respeitar, e para tanto é preciso compartilhar e saber jogar o "jogo do ganha-ganha". Pessoas que não compreendem isto não conseguem se comunicar nem trabalhar em equipe, não entendem as ideias alheias e não se expressam claramente, querendo deter as informações para si mesmas. A equipe perde a confiança no colega ou líder avarento.
O avarento se apega às coisas, e tem um grande medo de perder aquilo que possui. Sente necessidade de disfarçar seus conflitos internos através da busca dos bens materiais externos, mas nunca consegue suprir a sensação de carência, sentindo-se insatisfeito constantemente, buscando adquirir cada vez mais, acreditando que com a próxima conquista sentirá satisfação; – o que nunca acontece.
Em muitos casos, a escolha da profissão se baseia somente nesse critério, deixando-se de lado a vocação de cada um, e muitos se lançam a uma condição de eterna insatisfação, uma vida sem prazer, sem motivação, com o único objetivo de ganhar mais.
Muitos se casam não por amor, mas para se unir a alguém que possa prover seus desejos e satisfazer suas vaidades. Essa falta de consideração para consigo mesmo leva a uma busca incessante por coisas e objetos externos, pois essa pessoa acredita que dentro dela não há nada, só um imenso vazio, que só poderá ser preenchido por algo que venha de fora. Daí a necessidade de ostentação, a ilusão do sucesso diante do mundo, mas não dentro de si mesmo: fuga da amarga realidade.
Em muitos casos, a escolha da profissão se baseia somente nesse critério, deixando-se de lado a vocação de cada um, e muitos se lançam a uma condição de eterna insatisfação, uma vida sem prazer, sem motivação, com o único objetivo de ganhar mais.
Muitos se casam não por amor, mas para se unir a alguém que possa prover seus desejos e satisfazer suas vaidades. Essa falta de consideração para consigo mesmo leva a uma busca incessante por coisas e objetos externos, pois essa pessoa acredita que dentro dela não há nada, só um imenso vazio, que só poderá ser preenchido por algo que venha de fora. Daí a necessidade de ostentação, a ilusão do sucesso diante do mundo, mas não dentro de si mesmo: fuga da amarga realidade.
Atualmente vemos pais, professores e parentes dando maus exemplos às crianças, dando a entender que o dinheiro compra tudo e todos. Com o passar do tempo, essa noção se aprofunda e é seguida inconscientemente. O indivíduo passa a acreditar que o amor, a atenção e a presença da família e dos amigos podem ser substituídos por roupas caras, carros, viagens... Essa substituição gera adultos que cometem não só o pecado capital da avareza, mas também os da soberba, do orgulho, da vaidade e da luxúria.
Vencer a avareza
Vencer a avareza é um exercício diário: o exercício de considerar e aprender a ver que tudo é palha diante do Reino de Deus e da Vida na Graça, – que é a verdadeira riqueza da alma. – É cultivar a capacidade de contemplar, a cada dia, em cada momento, a simplicidade de coração a exemplo de Nossa Senhora e de Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso modelo maior, seu amor pelos pobres e mais humildes, e buscar imitá-lo. Toda a vida de Jesus foi voltada a fazer a Vontade do Pai, e a Vontade de Deus é Amor, que se traduz em humildade e desapego.
Aquele que possui, viva como se não possuísse, pois neste mundo nada nos pertence de fato: tudo nos foi dado por empréstimo. No devido tempo, teremos que prestar contas por tudo o que recebemos de nosso Pai Celestial. Manter isto em mente, todos os dias, em todos os momentos, no trabalho, na escola, no lar, em nossos momentos de lazer... É vencer o pecado da avareza. E se isso parecer difícil, prezado leitor, lembre-se de que a nossa frente está aquele que tudo pode em nossa fraqueza, e que nos anima: "Coragem! Eu venci o mundo!" (Jo 16,33).
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Fontes e referência:
• Ref.: LADARIA, Luis F. História dos Dogmas II, O Homem e sua Salvação. Loyola: São Paulo, 1995, p. 152;
• ZAGO, Rosemeire. "Sete Pecados Capitais – Avareza", artigo disponível em
http://www2.uol.com.br/vyaestelar/avareza.htm
Acesso 19/2/015.