A comemoração é hoje, mas todo dia é dia de ceder lugar para o idoso, de dar a preferência para alguém no trânsito, de abrir a porta do elevador para um vizinho. Dia de, principalmente, refletir que gentileza não precisa de data certa para ocorrer. Pelo contrário. Está no cotidiano, nas coisas mais simples e faz bem a quem dá e a quem recebe. Isso é o qu
e defende a Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), que no Brasil representa o Movimento Mundial pela Gentileza, criado no Japão em 1996, a partir de constatações científicas de que a gentileza faz bem também a quem é gentil. As pesquisas demonstram, por exemplo, que essas pessoas são mais saudáveis e longevas, além de terem relacionamentos melhores e mais duradouros. No trabalho, são mais produtivas e alcançam melhores cargos em suas funções, sucesso e felicidade, consequentemente.
Mas o que caracteriza uma pessoa gentil? Segundo Sâmia Simurro, mestre em psicologia e vice-presidente da ABQV, gentileza é um jeito de ser que demonstra uma genuína preocupação com o outro. “A única motivação para ser gentil é um desejo real de ajudar as pessoas e fazê-las se sentirem bem.” Para a monja Coen, da Comunidade Zen-Budista Zendobrasil, gentileza tem a ver com cuidado: “um cuidado com o outro que sou eu”. A ideia de que ser gentil é ser amável com o outro ganha aqui novos contornos. “É preciso ser gentil com você, e quando o somos com os outros também estamos sendo conosco.”
É preciso, entretanto, aprender a ser gentil. Segundo o psiquiatra e homeopata Aloísio Andrade, é mais natural ao homem ser egoísta do que gentil, e isso está diretamente relacionado ao seu desenvolvimento. “Gentileza é algo construído. Não é algo natural. As pessoas gentis são as que foram treinadas para isso. Infelizmente, nem todo mundo que foi treinado é gentil.” Para o especialista, a verdadeira gentileza não é subserviente, não serve ao outro. É sim uma alegria que temos de reconhecer no outro uma parte de Deus que não está na gente. Mas é pragmática. “Ser gentil atrai gentileza.”
O que torna uma pessoa gentil
Gentileza implica o outro. Isso não se pode perder de vista. Para pensarmos em um mundo mais gentil, a monja Coen, uma das representantes do budismo no Brasil, sugere recuperarmos a percepção de que não estamos sozinhos. Se é agradável ser bem tratado, ouvir um sonoro “seja bem-vindo”, o que muitas vezes esperamos que o outro faça, precisamos também começar a olhar para dentro de nós. “Como faço? Como falo? Estou atrapalhando alguém?”.
Ser gentil envolve amadurecimento, valores e bom senso. O trânsito, um dos principais problemas da vida moderna e palco de tanta intolerância, é um bom espaço para pensar e pôr em prática atos de gentileza. “Dar passagem para um carro é um ato de gentileza, mas não dá para fazer o mesmo com 10 carros, porque dessa forma se interrompe e prejudica todo mundo que vem atrás de você.” O contrário disso é uma atitude egocêntrica, como a do motorista que para em fila dupla e nem olha para trás.
E essa sensação de que o mundo está mais violento, intolerante, carente de gentilezas? Citando o Dalai Lama, para quem o ser humano é em si um ser bom, para Coen a gentileza tem algo de essência e da cultura, inclusive da cultura da violência. “Não temos a presa do tigre, e sim dentes de coelhinhos. Não era para sermos predadores como estamos nos tornando. Tem aí algo de cultural, que foi necessário para a nossa sobrevivência. Mas a natureza humana carrega a violência, uma violência trabalhada racionalmente. Daí a beleza da razão humana: podemos usá-la para transformar a fera em um bicho manso, mais gentil.”
Para Coen, então, a violência está apenas mais aparente. “Não criamos a violência. Essa geração não é pior que a outra. Se olharmos a história do ser humano veremos que nela são contadas as guerras e conflitos e não as soluções pacíficas.” Pelo contrário. Coen acredita que estamos é ficando mais sutis, assim como os equipamentos sem os quais não mais vivemos. “Os teclados estão mais sensíveis ao toque. Em vez de dizer que estamos nos embrutecendo, diríamos que estamos ficando mais delicados”.
Reunir e contar essas histórias de gentileza é a proposta do Movimento Mundial pela Gentileza, que escolheu a data de hoje para lembrar ao mundo a necessidade de praticar atos gentis. O site da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (www.abqv.org.br), quer inclusive receber histórias como a de Jaime Solares, Diva Morillas e Ronaldo Fernandes Silva. Histórias de ações do dia a dia voltadas para o outro. Histórias de gentileza. A ideia é novamente publicar um livro com essas histórias em todo o mundo. Você tem alguma para contar?
INTERNACIONALIZAÇÃO
Propor-se a ser mais gentil a cada dia pode dar certo. Com essa proposta o Movimento Mundial pela Gentileza divulga nas comunidades e empresas a necessidade de as pessoas investirem na melhoria das relações. “Gentileza começa na família, dentro de casa, por meio da educação”, defende Sâmia Simurro, da ABQV. Como a gentileza se manifesta em todas as esferas, espontaneamente, na vida diária, é nos pequenos gestos que devemos investir.
Para a monja Coen, há duas maneiras de se chegar mais perto da gentileza. Uma delas é buscar uma percepção mais profunda do nosso papel. A outra é trabalhar de dentro para fora, investindo em gestos mais sutis. “Acho importante acordar cedo contente e me preparar para o que vem. Estar preparado é estar de mãos abertas. É bom acordar e pensar o que posso fazer de bem naquele dia, em olhar com bons olhos, dizer palavras que possam deixar alguém mais feliz.”
Na vizinhança
Dono de bar e querido pelos vizinhos. A convivência amigável que parece impossível foi construída na base da gentileza: ele fecha cedo e faz pouco barulho. Eles descem e tomam uma cerveja perto de casa. Não incomodar estava na proposta original do Borracharia Gastropub, aberto há quatro meses no alto da Avenida Afonso Pena, dentro de um posto de gasolina. “Na nossa frente tem um prédio residencial com as janelas do quarto de dormir voltadas para a rua. Nunca houve um bar aqui, era uma região quase deserta. Não queria chegar incomodando os vizinhos, porque se morasse aqui iria detestar o barulho”, conta Jaime Solares (foto acima), um dos proprietários, que acredita na formação de pessoas mais gentis. A proposta do bar era ter a vizinhança como parceira. Para isso, tudo foi pensado para valorizar o happy hour. O Borracharia encerra a cozinha às 23h. Às 23h30 os garçons pegam os últimos pedidos de bebida. À meia-noite, Jaime fecha as portas e pede, delicadamente, para que as pessoas deixem o bar. “O público está começando a se acostumar. No começo, houve relutância, é claro, e aos que reclamavam que fechamos cedo, eu propunha que chegassem mais cedo. Queremos poder agregar algo ao bairro, não o contrário.”
Mas o que caracteriza uma pessoa gentil? Segundo Sâmia Simurro, mestre em psicologia e vice-presidente da ABQV, gentileza é um jeito de ser que demonstra uma genuína preocupação com o outro. “A única motivação para ser gentil é um desejo real de ajudar as pessoas e fazê-las se sentirem bem.” Para a monja Coen, da Comunidade Zen-Budista Zendobrasil, gentileza tem a ver com cuidado: “um cuidado com o outro que sou eu”. A ideia de que ser gentil é ser amável com o outro ganha aqui novos contornos. “É preciso ser gentil com você, e quando o somos com os outros também estamos sendo conosco.”
É preciso, entretanto, aprender a ser gentil. Segundo o psiquiatra e homeopata Aloísio Andrade, é mais natural ao homem ser egoísta do que gentil, e isso está diretamente relacionado ao seu desenvolvimento. “Gentileza é algo construído. Não é algo natural. As pessoas gentis são as que foram treinadas para isso. Infelizmente, nem todo mundo que foi treinado é gentil.” Para o especialista, a verdadeira gentileza não é subserviente, não serve ao outro. É sim uma alegria que temos de reconhecer no outro uma parte de Deus que não está na gente. Mas é pragmática. “Ser gentil atrai gentileza.”
O que torna uma pessoa gentil
Gentileza implica o outro. Isso não se pode perder de vista. Para pensarmos em um mundo mais gentil, a monja Coen, uma das representantes do budismo no Brasil, sugere recuperarmos a percepção de que não estamos sozinhos. Se é agradável ser bem tratado, ouvir um sonoro “seja bem-vindo”, o que muitas vezes esperamos que o outro faça, precisamos também começar a olhar para dentro de nós. “Como faço? Como falo? Estou atrapalhando alguém?”.
Ser gentil envolve amadurecimento, valores e bom senso. O trânsito, um dos principais problemas da vida moderna e palco de tanta intolerância, é um bom espaço para pensar e pôr em prática atos de gentileza. “Dar passagem para um carro é um ato de gentileza, mas não dá para fazer o mesmo com 10 carros, porque dessa forma se interrompe e prejudica todo mundo que vem atrás de você.” O contrário disso é uma atitude egocêntrica, como a do motorista que para em fila dupla e nem olha para trás.
E essa sensação de que o mundo está mais violento, intolerante, carente de gentilezas? Citando o Dalai Lama, para quem o ser humano é em si um ser bom, para Coen a gentileza tem algo de essência e da cultura, inclusive da cultura da violência. “Não temos a presa do tigre, e sim dentes de coelhinhos. Não era para sermos predadores como estamos nos tornando. Tem aí algo de cultural, que foi necessário para a nossa sobrevivência. Mas a natureza humana carrega a violência, uma violência trabalhada racionalmente. Daí a beleza da razão humana: podemos usá-la para transformar a fera em um bicho manso, mais gentil.”
Para Coen, então, a violência está apenas mais aparente. “Não criamos a violência. Essa geração não é pior que a outra. Se olharmos a história do ser humano veremos que nela são contadas as guerras e conflitos e não as soluções pacíficas.” Pelo contrário. Coen acredita que estamos é ficando mais sutis, assim como os equipamentos sem os quais não mais vivemos. “Os teclados estão mais sensíveis ao toque. Em vez de dizer que estamos nos embrutecendo, diríamos que estamos ficando mais delicados”.
Reunir e contar essas histórias de gentileza é a proposta do Movimento Mundial pela Gentileza, que escolheu a data de hoje para lembrar ao mundo a necessidade de praticar atos gentis. O site da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (www.abqv.org.br), quer inclusive receber histórias como a de Jaime Solares, Diva Morillas e Ronaldo Fernandes Silva. Histórias de ações do dia a dia voltadas para o outro. Histórias de gentileza. A ideia é novamente publicar um livro com essas histórias em todo o mundo. Você tem alguma para contar?
INTERNACIONALIZAÇÃO
Propor-se a ser mais gentil a cada dia pode dar certo. Com essa proposta o Movimento Mundial pela Gentileza divulga nas comunidades e empresas a necessidade de as pessoas investirem na melhoria das relações. “Gentileza começa na família, dentro de casa, por meio da educação”, defende Sâmia Simurro, da ABQV. Como a gentileza se manifesta em todas as esferas, espontaneamente, na vida diária, é nos pequenos gestos que devemos investir.
Para a monja Coen, há duas maneiras de se chegar mais perto da gentileza. Uma delas é buscar uma percepção mais profunda do nosso papel. A outra é trabalhar de dentro para fora, investindo em gestos mais sutis. “Acho importante acordar cedo contente e me preparar para o que vem. Estar preparado é estar de mãos abertas. É bom acordar e pensar o que posso fazer de bem naquele dia, em olhar com bons olhos, dizer palavras que possam deixar alguém mais feliz.”
Na vizinhança
Dono de bar e querido pelos vizinhos. A convivência amigável que parece impossível foi construída na base da gentileza: ele fecha cedo e faz pouco barulho. Eles descem e tomam uma cerveja perto de casa. Não incomodar estava na proposta original do Borracharia Gastropub, aberto há quatro meses no alto da Avenida Afonso Pena, dentro de um posto de gasolina. “Na nossa frente tem um prédio residencial com as janelas do quarto de dormir voltadas para a rua. Nunca houve um bar aqui, era uma região quase deserta. Não queria chegar incomodando os vizinhos, porque se morasse aqui iria detestar o barulho”, conta Jaime Solares (foto acima), um dos proprietários, que acredita na formação de pessoas mais gentis. A proposta do bar era ter a vizinhança como parceira. Para isso, tudo foi pensado para valorizar o happy hour. O Borracharia encerra a cozinha às 23h. Às 23h30 os garçons pegam os últimos pedidos de bebida. À meia-noite, Jaime fecha as portas e pede, delicadamente, para que as pessoas deixem o bar. “O público está começando a se acostumar. No começo, houve relutância, é claro, e aos que reclamavam que fechamos cedo, eu propunha que chegassem mais cedo. Queremos poder agregar algo ao bairro, não o contrário.”